O ensino da escrita de textos através do Self- Regulated Strategy Development (SRSD): Um estudo quase experimental com alunos do 8.º ano de escolaridade

Abstract

A escrita é, sem dúvida, uma poderosa ferramenta ao serviço da humanidade. Ainda antes de existir a palavra escrita, os primeiros humanos recorriam a imagens para comunicarem. A escrita de textos, independentemente do tempo e do espaço, permite adquirir e avaliar conhecimentos, partilhar ideias, expressar pensamentos e sentimentos. Desta forma, a escola, desde os seus primórdios, assumiu o ensino da escrita como tarefa central, tendo vindo a reconhecê-la como uma competência básica do sucesso académico e laboral, sendo um instrumento indispensável para o exercício da cidadania. Contudo, a sua natureza complexa determina que a aprendizagem e o domínio da escrita se faça ao longo de anos de escolaridade. Desta complexidade que lhe é inerente, resultou a prevalência de dificuldades na aprendizagem da escrita em crianças e jovens, um pouco por todo o mundo. O facto do ensino desta competência ter sido negligenciada, durante décadas, em detrimento de outras competências como a leitura concorreu para este panorama. Com o intuito de ajudar a ultrapassar esta lacuna, investigações na área da escrita verificaram os benefícios da uma instrução explícita. O estudo, de carácter quase experimental, que desenvolvemos e que apresentamos nesta dissertação decorre desse repto, e assenta nas estratégias do programa SRSD refe-rentes à planificação do texto de opinião e do texto expositivo, as quais foram adaptadas para a língua e contexto portugueses. Pretendemos testar a eficácia do ensino de estraté-gias de escrita e de autorregulação, tal como constam no SRSD, em alunos do 8.º ano de escolaridade do ensino básico. Para tal, durante o ano letivo de 2013-2014, desenvolve-mos dois projetos de ensino de estratégias de escrita, em duas escolas do Ensino Básico do concelho de Coimbra. Constituíram-se, assim, dois grupos de comparação com duas condições distintas: numa escola foram trabalhadas as estratégias de escrita do texto ex-positivo – CGA – (n= 116) e na outra escola as estratégias de escrita do texto de opinião – CGB – (N=61). Os projetos foram implementados nas aulas de Português, pela profes-sora titular, e cada grupo foi submetido a 12 sessões de ensino explícito de escrita, com a duração de 45 minutos por sessão. A equipa de investigação foi responsável pela forma-ção e supervisão destas professoras. Findo o trabalho de intervenção, analisaram-se os dados obtidos nos três momen-tos de avaliação (pré-teste, pós-teste e follow-up), de cada tipo textual, de forma inde-pendente. As análises dos resultados revelam diferenças estatisticamente significativas que favorecem os grupos no tipo de texto alvo de treino relativamente ao tipo textual que não foi objeto de instrução. Isto é, no que concerne ao texto expositivo, o CGA re-gistou resultados médios bastante superiores relativamente ao CGB que registou ganhos mais modestos. Relativamente ao texto de opinião, o CGB registou um aumento pro-gressivo ao longo do tempo, e o qual foi acentuado com a intervenção, tendo obtido re-sultados médios bastante superiores ao CGA cujos resultados decresceram ao longo do tempo. Os resultados que apresentamos indicam que os alunos adquiriram as competências de planificação e redação ensinadas e as empregaram com sucesso na composição escrita dos textos realizados no âmbito desta investigação, no entanto, não houve transferência de aprendizagem para o outro tipo de texto que não foi treinado.