Correlação de características anatomopatológicas e dermatoscópicas no melanoma

Abstract

Introdução: O melanoma é uma das neoplasias cutâneas com pior prognóstico e a sua incidência tem vindo a aumentar. O risco de morte é maior nos estadios mais avançados, relacionando-se, pois, com maior espessura. Deste modo, o diagnóstico precoce é essencial e a dermatoscopia tem auxiliado neste processo. O conhecimento de relações entre características anatomopatológicas como a espessura, importante fator prognóstico, e características dermatoscópicas pode possibilitar uma melhor gestão do doente com melanoma. Assim, o objetivo primário deste trabalho foi estudar a relação existente entre a espessura do melanoma e variáveis dermatoscópicas e, secundariamente, entre a espessura e variáveis demográficas, epidemiológicas e clínicas. Material e métodos: Estudo observacional, longitudinal e retrospetivo numa amostra de doentes diagnosticados com melanoma cutâneo, no Serviço de Dermatologia e Venereologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, entre janeiro de 2014 e dezembro de 2017. Recolheram-se variáveis demográficas, epidemiológicas, clínicas e anatomopatológicas (espessura). Com recurso a testes Qui-quadrado e teste de Fisher estabeleceram-se associações entre as variáveis recolhidas e usando a regressão logística binária univariada e multivariada determinaram-se os fatores preditivos de uma espessura superior a 1 mm. Resultados: A amostra final incluiu 119 doentes. A presença de efélides, queimadura solar prévia e de rede/pseudo-rede pigmentar atípica foi protetora para o desenvolvimento de melanoma com espessura superior a 1 mm, no entanto a presença de padrão vascular atípico e de linhas brancas brilhantes aumentou o risco para esta característica. Na análise multivariada, o padrão vascular atípico foi identificado como preditor independente do desenvolvimento de uma espessura superior a 1 mm e a rede/pseudo-rede pigmentar atípica como um fator protetor desta condição. Discussão: Melanomas mais invasivos, com espessura superior a 1mm, têm maior neovascularização, o que explica o padrão vascular atípico. Neoplasias com espessura igual ou inferior a 1mm mantêm a junção epiderme-derme inalterada, pois a rede pigmentar atípica corresponde à proliferação atípica de melanócitos nesta zona da pele. Embora a presença de efélides e o antecedente de queimadura solar sejam fatores de risco para desenvolver melanoma, não se associaram a melanomas mais invasivos. Conclusão: Comprovou-se o valor preditivo da dermatoscopia quanto à espessura do melanoma. Os resultados obtidos mostraram-se promissores para aplicação na prática clínica, nomeadamente para inferir a espessura máxima da neoplasia a partir de biópsia incisional e possibilitar a cirurgia do melanoma numa só etapa.

Introduction: Melanoma is one of the skin neoplasms with the worst prognosis and its incidence has been increasing. The risk of death is higher in the more advanced stages, relating to higher thickness. Therefore, early diagnosis is essential and dermoscopy has helped in this process. The knowledge of relationships between anatomopathological characteristics such as thickness, an important prognostic factor, and dermoscopic characteristics may enable a better management of the patient with melanoma. Thus, the primary objective was to study the relationship between melanoma thickness and dermoscopic variables and, secondarily, between thickness and demographic, epidemiological and clinical variables. Material and methods: Observational, longitudinal and retrospective study on a sample of patients diagnosed with skin melanoma, at the Serviço de Dermatologia e Venereologia of Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, between January 2014 and December 2017. Demographic, epidemiological, clinical and anatomopathological variables (thickness) were collected. Using Chi-square tests and Fisher's test, associations between the collected variables were established and using univariate and multivariate binary logistic regression the predictive factors of a thickness greater than 1 mm were determined. Results: The final sample included 119 patients. The presence of ephelides, previous sunburn and atypical pigmentar net/pseudonet was protective for the development of a melanoma thickness greater than 1 mm, however the presence of atypical vascular pattern and bright white lines increased the risk for this characteristic. In multivariate analysis, the atypical vascular pattern was identified as an independent predictor of the development of a superior thickness and the atypical pigmentar net/pseudonet as a protective factor for this condition. Discussion: Melanomas with a thickness greater than 1mm, have more neovascularization, which explains the atypical vascular pattern. Neoplasms with thickness equal or less than 1mm keep the epidermis-dermal junction unchanged, because the atypical pigmentary net corresponds to the atypical proliferation of melanocytes in this area of the skin. Although the presence of ephelides and the history of sunburn are risk factors for developing melanoma, they have not been associated with more invasive melanomas. Conclusion: The predictive value of dermoscopy has been proven regarding melanoma thickness. The results obtained proved promising for application in clinical practice, namely to infer the maximum thickness of the neoplasia from incisional biopsy and allow one-step melanoma surgery.