As aves aprendem com as outras? Um teste em milheirinhas (Serinus serinus) sobre a capacidade para aprender através da observação do comportamento de outras.

Abstract

Ao longo das últimas décadas, a aprendizagem social tem sido documentada em diversas espécies, porém exemplos da capacidade de aprendizagem social são descritas para um escasso número de espécies de aves. Aqui destacam-se os corvídeos, aves bastante sociais, mas também o chapim-real, que é uma espécie não social. Contudo, não existem estudos sobre o que acontece noutros pequenos passeriformes. Quisemos estudar as capacidades cognitivas de indivíduos de espécies menos sociais, mas também granívoras para a possibilidade de aprendizagem social. Utilizou-se um pequeno passeriforme granívoro e gregário, a milheirinha (Serinus serinus) num teste de associação de procura por alimento. Treinou-se aves de forma se alimentarem em buracos escondidos sendo cobertos com um disco de cor, e utilizaram-se como tutores. Cerca de metade dos indivíduos, tanto machos como fêmeas, aprenderam a realizar a tarefa após observarem o comportamento dos tutores, mostrando que são capazes de aprendizagem social. Observou-se também que existe um efeito do sexo e da idade das aves inexperientes na sua capacidade de aprendizagem social. As aves que melhor aprenderam foram as do sexo feminino, mas também as aves mais jovens. A capacidade de retenção de memória, avaliada quinze dias depois, apresentou uma taxa de sucesso de 100%. Quando sujeitadas a um teste de reversão da cor inicial aprendida, cerca de metade dos aprendizes foram capazes de mudar para a nova regra definida, invertendo a cor que tinham anteriormente aprendido sem mostrarem sinais de perturbação pela mudança a que foram sujeitas. Neste teste não se verificaram efeitos nem do sexo nem da idade das aves. Os resultados deste estudo demonstram a existência de veementes capacidades cognitivas que um pequeno passeriforme com características muito próprias possui.

Over the past few decades, social learning has been documented in several species, however examples of social learning ability are described in just a limited number of bird species. Particularly relevant are corvids, which are very social birds, but also the Great tit, which is a non-social species. However, the same is not true for other small passerines. We wanted to study the cognitive abilities of individuals from less social but also granivorous species for the possibility of social learning. For that we used a small social gregarious granivorous passerine, the Serin (Serinus serinus) on a foraging association task. We trained birds to feed on hidden holes covered with a colour disk and used them as demonstrators. About half of the individuals, both males and females, learned to perform the task after observing the behavior of the demonstrators, showing that they are capable of social learning. We also observed that there is an effect of sex and age of the naïve birds on their social learning ability. The birds that learned best were female birds, but also younger birds. Memory retention ability was assessed fifteen days later, with a 100% success rate. When subjected to a test of reversal of the initial learned color, about half of the learners were capable of switching for the new defined rule, reversing the color they had previously learned without showing signs of disturbance from the change they were subjected to. There were no effects of either sex or age of the birds in this test. The results of this study demonstrate the existence of strong cognitive abilities that a small passerine bird with unique characteristics possesses.