Sobreposição fenotípica de dimensões do espetro autista e compulsivo-impulsivo na Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Abstract

Introdução: Dada a heterogeneidade fenotípica da Perturbação Obsessivo-Compulsiva, vários autores têm proposto a existência de subtipos discretos, baseados, entre outros critérios, na idade de início, dimensões de sintomas, e comorbilidade com outros sintomas, nomeadamente do espetro autista e da impulsividade. O objetivo deste estudo era avaliar a prevalência e correlatos desses sintomas em doentes com Perturbação Obsessivo-Compulsiva.Materiais e métodos: Realizámos um estudo observacional, correlacional e transversal. Recrutámos 32 doentes com o diagnóstico de Perturbação Obsessivo-Compulsiva e 53 indivíduos da população geral na comunidade, que responderam a um inquérito sociodemográfico e aos questionários Autism Spectrum Quocient for Adults, Obsessive Compulsive Inventory – Revised, Barratt Impulsiveness Scale, Hewitt and Flett Multidimensional Perfectionism Scale 13, Frost Multidimensional Perfectionism Scale e Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse 21 (EADS-21).Resultados: Doentes com Perturbação Obsessivo-Compulsiva apresentaram pontuações significativamente mais elevadas em traços do espetro autista do que indivíduos da população geral. A pontuação total no Autism Spectrum Quocient for Adults correlacionou-se positivamente com a do Obsessive Compulsive Inventory – Revised e com as dimensões “acumulação”, “ordem” e “neutralização”. As pontuações totais de ambas as escalas correlacionaram-se positivamente com a pontuação total na EADS-21. Doentes com Perturbação Obsessivo-Compulsiva apresentaram mais impulsividade, excetuando para a sua faceta motora, que se correlacionou com as dimensões de sintomas obsessivo-compulsivos “acumulação” e “verificação”, e com stresse e depressão. Apresentaram também mais “dúvidas sobre as ações” e menos “perfecionismo orientado para outros”. Discussão: Os resultados suportam uma origem neurodesenvolvimental na Perturbação Obsessivo-Compulsiva com dimensões de sintomas obsessivo-compulsivos afetadas específicas – “acumulação”, “ordem” e “neutralização” – e maior prevalência de stresse, ansiedade e depressão. A impulsividade também poderá relacionar-se com dimensões especificas - “acumulação” e “verificação” - e maior prevalência de stresse e depressão. Conclusão: A comorbilidade com traços do espetro autista, impulsividade e perfecionismo na Perturbação Obsessivo-Compulsiva pode associar-se a maior prevalência de stresse, ansiedade e depressão, tendo impacto no tratamento a adotar.

Background: Given the phenotypical heterogeneity seen in Obsessive-Compulsive Disorder, several authors have proposed the existence of discrete subtypes, based, among other criteria, on the age of onset, dimensions of symptoms, and comorbidity with other symptoms, namely of the autistic spectrum and impulsivity. Our aim was to evaluate the prevalence and correlates of these symptoms in Obsessive-Compulsive Disorder patients. Materials and methods: We performed an observational cross-sectional study. We recruited 32 patients diagnosed with Obsessive-Compulsive Disorder and 53 individuals from the community, who responded to a sociodemographic inquiry and the questionnaires Autism Spectrum Quotient for Adults, Obsessive Compulsive Inventory – Revised, Barratt Impulsiveness Scale, Hewitt and Flett Multidimensional Perfectionism Scale 13, Frost Multidimensional Perfectionism Scale and the Depression, Anxiety and Stress Scale 21. Results: Obsessive-Compulsive Disorder patients showed significantly more autistic traits than individuals from the community. Total Autism Spectrum Quotient correlated positively with total Obsessive-Compulsive Inventory – Revised score and with the dimensions “hoarding”, “ordering” and “neutralization”. Total score of both scales correlated positively with total Depression, Anxiety and Stress Scale 21 score. Obsessive-Compulsive Disorder patients showed higher impulsivity levels, except for its motor aspect, that correlated with the obsessive-compulsive symptoms dimensions “hoarding” and “verification”, and with stress and depression. They also showed more “doubts about actions” and less “oriented to others perfectionism”. Discussion: Our results support a neurodevelopmental origin in Obsessive-Compulsive Disorder with specific dimensions of obsessive-compulsive symptoms affected – “hoarding”, “ordering” and “neutralization” – and a greater prevalence of stress, anxiety and depression. Impulsivity might also be related to specific dimensions – “hoarding” and “checking” – and a greater prevalence of stress and depression. Conclusion: Comorbidity with autistic traits, impulsivity and perfectionism in Obsessive-Compulsive Disorder might be associated with higher prevalence of stress, anxiety and depression, with its impact in the treatment to adopt.