Correlatos e fatores de risco da ansiedade perinatal – abordagem multidimensional e multinível

Abstract

Introdução: A ansiedade perinatal (gravidez e primeiro ano após o parto), apesar de ser tão ou mais prevalente do que a depressão perinatal, só recentemente começou a ser valorizada. No entanto, o impacto negativo que a ansiedade perinatal tem na família realça a necessidade de a avaliar sistematicamente, com recurso a instrumentos que combinem sintomas e fatores de risco.Objetivo: O presente estudo visa investigar os correlatos e fatores de risco da ansiedade perinatal, numa abordagem multidimensional e multinível. Materiais e Métodos: Participaram neste estudo 247 mulheres que preencheram questionários de auto-resposta, validados, em dois momentos distintos: no segundo trimestre de gravidez (Gravidez) e no terceiro mês após o parto (Pós-parto). Foram utilizados os seguintes instrumentos: Escala de Rastreio da Ansiedade Perinatal (ERAP); Escala de Rastreio da Depressão Perinatal (ERDP); Profile of Mood States (PoMS); Escala Multidimensional de Perfeccionismo de Hewitt & Flett (EMP); Questionário de Pensamento Perseverativo-15 (QPP). No pós-parto, também se utilizou a Escala de Atitudes Disfuncionais face à Maternidade (EADM).Resultados: Verificou-se que a história de depressão/outra perturbação psiquiátrica ao longo da vida, acontecimento de stresse no último ano, a perceção de apoio do companheiro e da família e de familiares e amigos estava relacionada com níveis mais altos de ansiedade na gravidez. Para além disso, os níveis de depressão e de afeto negativo, bem como perfecionismo e pensamento repetitivo negativo, também se revelaram preditores significativos de níveis de sintomatologia ansiosa. Por outro lado, no que diz respeito ao pós-parto, todas as variáveis da história clínica e psicossociais, à exceção do acontecimento de stresse no último ano, bem como os níveis de depressão e ansiedade na gravidez, o afeto negativo, o perfeccionismo, o pensamento repetitivo negativo e as crenças relacionadas com o julgamento dos outros, foram preditores significativos.Discussão: Este estudo contribuiu para um melhor conhecimento dos correlatos e fatores de risco da ansiedade perinatal, confirmando-se que os mesmos são multidimensionais. Conclusão: Considerando que alguns destes são potencialmente modificáveis, dispomos agora de importantes pistas para a melhoria da sua deteção, prevenção e intervenção precoce, a implementar desde logo na gravidez.

Introduction: Perinatal anxiety (in pregnancy and in the first year after delivery), despite being as prevalent as perinatal depression, has only recently been considered. However, the negative impact that perinatal anxiety has on the family highlights the need to its systematic assessment, using instruments that combine symptoms and risk factors.Objective: The aim of this exploratory study was to investigate correlates and risk factors for perinatal anxiety, in a multidimensional and multilevel approach.Methods: 247 women participated in this study; they completed validated self-reported questionnaires at two different times: in the second trimester of pregnancy (Pregnancy) and in the third month after delivery (Postpartum). Apart from questions to evaluate demographic, obstetric and clinical variables, the following instruments were used: Perinatal Anxiety Screening Scale; Perinatal Depression Screening Scale; Profile of Mood States; Hewitt & Flett's Multidimensional Perfectionism Scale-13; Perseverative Thinking Questionnaire. In the postpartum period, the Dysfunctional Attitudes Towards Maternity Scale was also used.Results: Lifetime depression and other lifetime psychiatric disorder, stress in the last year, perceived support from the partner and family/friends were significantly related with higher levels of anxiety in pregnancy. In addition, pregnancy levels of depression, negative affect, perfectionism and repetitive negative thinking also revealed to be predictors of anxiety symptoms. In the postpartum, all the clinical and psychosocial variables, with the exception of the stress event in the last year, as well as the levels of depression and anxiety in pregnancy, negative affect, perfectionism, negative repetitive thinking and beliefs related to others judgment have been significant predictors.Discussion: This study contributed to a better understanding of the correlates and risk factors of perinatal anxiety, confirming that they are multidimensional. Conclusion: Considering that some of these are potentially modifiable, we now have important clues to improve their detection, prevention and early intervention, to be implemented from pregnancy.