Infeção por Parechovirus humano em pequenos lactentes

Abstract

Introdução: O parechovírus humano (HPeV) tem vindo a ser reconhecido como agente frequente de infeção, particularmente em pediatria. Em pequenos lactentes, têm sido descritos casos associados a doença sistémica grave, incluindo sépsis e meningite. O objetivo deste estudo foi caracterizar as infeções por HPeV em pequenos lactentes num hospital pediátrico durante seis anos.Material e métodos: Estudo observacional, transversal, analítico, com colheita retrospetiva de dados dos processos clínicos de recém-nascidos e lactentes diagnosticados com infeção por HPeV confirmada por polymerase chain reaction no Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, de janeiro/2014 a dezembro/2019. Foram analisados dados demográficos, manifestações clínicas, exames complementares de diagnóstico, tratamento e evolução. A análise estatística foi realizada em SPSS 25®. Resultados: Foram incluídos 9 casos, 7 do sexo masculino. A idade mediana foi de 23 dias (IQR 25,5). Todos foram diagnosticados entre junho e outubro, 7 num surto com dois meses de duração. Clinicamente, 8 apresentavam febre e irritabilidade, 4 icterícia, 3 diarreia, 3 exantema e 2 distensão abdominal. A tríade febre, irritabilidade e exantema ocorreu simultaneamente em três. Uma recém-nascida de 5 dias convulsivou e outra de 10 dias teve episódios de apneia. Todos efetuaram análises sanguíneas e oito punção lombar. O HPeV foi identificado no líquido cefalorraquídeo (LCR) + sangue em 5, apenas no LCR em 3 e apenas no sangue em 1. A relação glicorráquia/glicémia e a proteinorráquia apresentaram medianas respetivas de 0,64 (IQR 0,14) e 46,75 mg/dL (IQR 29,45). Não se registou pleocitose. A mediana de leucócitos foi 3870/µL (IQR 3230), de procalcitonina 0,26 ng/mL (IQR 0,17) e a proteína C-reativa estava apenas discretamente elevada num caso (1,24 mg/dL). Um realizou ressonância magnética crânio-encefálica, revelando alterações na substância branca. Oito fizeram tratamento empírico inicial. A mediana de duração de internamento foi de 5 dias (IQR 3). O seguimento não revelou alterações.Discussão: Febre e irritabilidade foram os sintomas mais comuns, podendo a tríade de febre, irritabilidade e exantema constituir uma pista clínica importante. A ausência de pleocitose e de alteração noutros parâmetros analíticos é característica. Embora a evolução clínica tenha sido geralmente favorável, preconiza-se um seguimento rigoroso uma vez que escasseia informação sobre sequelas a longo prazo. Conclusão: A infeção por HPeV tem assumido uma importância clínica crescente, sendo este um dos poucos estudos sobre infeção por HPeV em Portugal. Apesar de não existir tratamento específico, o seu diagnóstico precoce poderá evitar tratamentos empíricos desnecessários e internamentos prolongados.Palavras-chave: Parechovírus; lactente; infeção; sistema nervoso central; sépsis.

Introduction: Human Parechovirus (HPeV) has been recognised as an important cause of illness, particularly in paediatrics. Cases in small infants associated with severe systemic illness, including sepsis and meningitis, have been described. The aim of this study was to characterise infections by HPeV in small infants in a paediatric hospital during six years.Material and Methods: Cross-sectional analytic study with retrospective data collection of the clinical cases of newborns and infants diagnosed with HPeV infection confirmed by polymerase chain reaction, in Hospital Pediátrico – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra from January/2014 to December/2019. Demographic factors, clinical features, diagnostic tests, treatment and outcome were evaluated. Statistical analysis was done using SPSS 25®. Results: Nine cases were included, seven male. The median age of admission was 23 days (IQR 25.5). All were diagnosed between June and October, 7 during an outbreak that lasted two months. Clinically, 8 presented with fever and irritability, 4 with jaundice, 3 with diarrhoea, 3 with exanthema and 2 with abdominal distension. The classic triad fever, irritability and rash was simultaneously present in three. A 5-day newborn had a seizure and a 10-day newborn developed apnoea. All had blood tests and eight had a lumbar puncture. HPeV was identified in both cerebrospinal fluid (CSF) + blood in 5 cases, only in the CSF in 3 and only in the blood in 1. Glucose CSF/blood ratio and CSF proteins had a median of 0.64 (IQR 0.14) and 46.75 mg/dL (IQR 29.45), respectively. Pleocytosis was absent. Median leucocyte count was 3870/µL (IQR 3230), procalcitonin was 0.26 ng/mL (IQR 0.17) and C-reactive protein was only discreetly raised in one (1,24mg/dL). One newborn had a brain magnetic resonance, which showed white matter changes. Eight were started on empiric treatment. Outcomes were favourable. Discussion: Fever and irritability were the most common symptoms. The triad fever, irritability and rash may provide an important clinical clue. The absence of pleocytosis and of changes in other analytical parameters is common. Although clinical outcomes where generally favourable, a careful follow-up is warranted as there is little information regarding long-term sequelae.Conclusion: HPeV infection has assumed growing clinical importance, with this being one of the few studies about this infection in Portugal. Although there is no specific treatment, early diagnosis may avoid unnecessary empirical treatment, as well as prolonged admissions. Key words: Parechovirus; infant; infection; central nervous system; sepsis.