Os regressos da guerra: espaço público, mundo digital e (re)produções mnemónicas

Abstract

Durante um largo período, o efetivo impacto da guerra colonial na sociedade portuguesa foi acompanhado de um relativo silêncio institucional envolvendo a memória do conflito. À escassa abordagem pública do evento seguiu-se, nas duas últimas décadas, o crescimento de diferentes processos de memorialização do conflito, para os quais contribuiu decisivamente o trabalho de memória produzido por associações ou grupos mais ou menos formalizados de antigos combatentes. Este artigo analisa dois desses eixos memoriais: os monumentos evocativos da guerra e as representações mnemónicas do conflito no maior blogue português de antigos combatentes. Argumentaremos que apesar de estarem circunscritos às comunidades de recordação que os promovem e neles participam, influenciam e são influenciados pela memória pública dominante da guerra e contribuem para gerar momentos de sociabilidade e sentimentos de (auto)reconhecimento para esses grupos.

For a long period of time, the effective impact of the colonial war on Portuguese society was accompanied by a relative institutional silence concerning the memory of the conflict. The scarce public approach to the event was followed, in the last two decades, by the growth of different processes of memorialization of the conflict, to which the memory work produced by more or less formalized associations or groups of former combatants contributed decisively. This article analyzes two of these memorial axes: the war memorials and the mnemonic representations of the conflict in the largest Portuguese blog of former combatants. We will argue that despite being circumscribed to the communities of remembrance that promote and participate in them, they influence and are influenced by the dominant public memory of the war and contribute to generate moments of sociability and feelings of (self)recognition for these groups.

Pendant une longue période, l’impact effectif de la guerre coloniale sur la société portugaise s’est accompagné d’un relatif silence institutionnel concernant la mémoire du conflit. La rareté de l’approche publique de l’événement a été suivie, au cours des deux dernières décennies, par la croissance de différents processus de mémorisation du conflit, auxquels a contribué de manière décisive le travail de mémoire produit par des associations ou des groupes plus ou moins formalisés d’anciens combattants. Cet article analyse deux de ces axes mémoriels: les monuments de guerre et les représentations mnémoniques du conflit dans le plus grand blog portugais d’anciens combattants. Nous soutiendrons que, bien qu’ils soient circonscrits aux communautés du souvenir qui les promeuvent et y participent, ils influencent et sont influencés par la mémoire publique dominante de la guerre et contribuent à générer des moments de sociabilité et des sentiments d’(auto)reconnaissance pour ces groupes.