Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/94915
Title: A introdução de psicotrópicos em Portugal: o caso particular dos antidepressivos (1950-2000)
Authors: Santos, Ruben Filipe Gaio dos
Orientador: Pita, João Rui Couto da Rocha
Pereira, Ana Leonor Dias da Conceição
Keywords: história dos antipsicóticos; história dos antidepressivos; Hospitais da Universidade de Coimbra; Portugal; século XX
Issue Date: 18-Dec-2019
Project: info:eu-repo/grantAgreement/FCT/SFRH/SFRH/BD/70021/2010/PT/A INTRODUÇÃO DOS PSICOTRÓPICOS EM PORTUGAL: O CASO PARTICULAR DOS ANTIDEPRESSIVOS (1950-2000) 
Abstract: A nossa tese de doutoramento tem por objetivo estudar a introdução de antipsicóticos e antidepressivos em Portugal (década de 50 do século XX), analisando questões de ordem histórico-médica e histórico-farmacêutica, mantendo uma luz de esclarecimento nos dilemas e consequências que tal introdução traz ao panorama português. Tenta-se assim circunscrever um arco cronológico específico das práticas médicas, ligando atores, instituições, saberes sedimentados e em metamorfose e alteração de matrizes que ocorrem durante os anos e décadas que se seguem à introdução de novos medicamentos para o tratamento do doente mental. Trata-se de um tema ainda não estudado sistematicamente e que, além do trabalho que desenvolvemos no Arquivo da Universidade de Coimbra onde houve oportunidade de consultar milhares de fontes, exige trabalho noutros arquivos, nomeadamente aqueles existentes em Lisboa e no Porto bem como em arquivos de instituições privadas, designadamente os da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus. Nos capítulos I-VI analisam-se as questões relacionadas com a introdução propriamente dita dos novos medicamentos em Portugal, abordando-se a génese da psicofarmacologia em terreno nacional e estabelecendo-se cenários em diferentes frentes tentando encontrar mudanças nos saberes e práticas de uma medicina em evolução. A questão de saúde pública é igualmente abordada, nomeadamente as mudanças que se operam ao nível de um novo conceito de doença mental, que se move de uma questão periférica para se materializar em diferentes conceitos e alternativas de debate. Para a realização destes capítulos foram consultados e analisados dezenas de periódicos científicos e de imprensa generalista. As premissas centrais de foco nestes capítulos englobam assim o tratamento da doença mental antes da entrada em cena dos primeiros antipsicóticos (nomeadamente as terapias biológicas ou somáticas), a introdução e receção dos primeiros medicamentos com reconhecido mérito no tratamento da esquizofrenia – sobretudo o primeiro antipsicótico, a clorpromazina (1952) mas também a reserpina (1954) e haloperidol (1958) que lhe seguem - e as inúmeras consequências e mudanças que se operam em diversas matrizes da sociedade portuguesa como resposta a esta evolução. Tenta-se assim captar o zeitgest português no que à doença mental e seu tratamento concerne. A tríade medicamentosa que constitui o início da psicofarmacologia chega a Portugal em meados da década de 50 do século XX e constitui-se como uma inovação que é absorvida e instituída de modo cauteloso não substituindo imediatamente as terapias vigentes até então. Há um entusiasmo contido com os novos medicamentos notando-se um binómio de utilidade/precaução que pontua o pensar médico-científico português. O uso das chamadas terapias somáticas, que incluem os eletrochoques ou os comas insulínicos continuam a exercer dominância e a clorpromazina é entendida como uma valiosa adição ao arsenal terapêutico, mas objeto de cautela e contenção. Essencialmente debate-se a questão – pode um comprimido curar a esquizofrenia? E se a resposta for positiva, o que muda no entendimento da doença mental e da sua significância para modelos sociais e médicos? A emergência de novas questões clínico-sociais torna-se evidente e a comunidade médica portuguesa debate-se com temas como a higienização mental e a compliance política e social para o estabelecimento de reformas e regras que ajudem a uma efetiva sedimentação da saúde mental, surgindo pontos-chave uníssonos – a higiene mental dos povos, a necessidade de leis eficazes na saúde e a assistência central aos doentes. O próprio papel do médico psiquiatra é analisado, adotando-se uma visão de mediador essencial entre os novos medicamentos e o doente, um elo de ligação que se transmuta e se torna basilar. O catalisador comum é sem dúvida o aparecimento dos novos medicamentos, mas ao mesmo tempo uma realização única do papel do homem e da importância da saúde mental no bem-estar da sociedade. Resta referir a abordagem dedicada aos antidepressivos e ansiolíticos, naquilo que se constitui como uma segunda vaga de inovação psicofarmacológica. O papel da doença depressiva toma uma dimensão assinalável no panorama do estado de saúde da população, e o aparecimento dos primeiros antidepressivos – imipramina e iproniazida – torna-se um centro de debate crucial. Recebidos de forma mais natural pela comunidade médica portuguesa (através do caminho trilhado pela clorpromazina), os antidepressivos são sobretudo objeto de estudo científico em Portugal, embora não deixem de se constituir como novidades que trazem as suas próprias questões de debate. No capítulo VII analisa-se o estudo de caso de introdução destes medicamentos num cenário real, os Hospitais da Universidade de Coimbra. A pesquisa realizada no Arquivo da Universidade de Coimbra permitiu a consulta de milhares de processos individuais de doentes. A introdução da clorpromazina é feita de forma relativamente célere, mas dada a sua multiplicidade de indicações aquando da sua introdução, nota-se que o seu uso se restringe sobretudo a casos de controlo de agitação, independentemente da sua causa bem como inúmeras patologias não relacionadas com a área da neuropsiquiatria. O uso dos eletrochoques domina o tratamento das doenças mentais nos Hospitais da Universidade de Coimbra, pelo menos até ao fim da década de 50.
The purpose of this doctoral thesis is to study the introduction of antipsychotics and antidepressants in Portugal (during the 50s of the XX century), studying issues that concern the historico-medical and historico-pharmaceutical fields, while maintaining a focus on clarifying the dilemmas and consequences that such introduction brought to the portuguese panorama . It is an effort that tries to circumscribe a specific chronologic arch of medical evolution by linking actors, institutions, old and new practices and challenged matrices that are questioned over the years and decades following the introduction of the new medicines for the treatment of the mentally ill. This is a topic that has not yet been systematically studied and, in addition to the work we have carried out in the Archive of the University of Coimbra where it was possible to have access to thousands of sources, requires work in other archives, namely those in Lisbon and Oporto as well as archives of private institutions, namely those of the Brothers Hospitallers of Saint John of God. Regarding chapters I-VI, the aim is to analyze the issues related to the introduction of these new drugs in Portugal, covering the genesis of psychopharmacology in national land and setting up scenarios on different approaches while finding changes in the knowledge and practice of portuguese medicine. The public health issue is also addressed, namely the changes that are occurring at the core of a new concept of mental illness, which moves from a peripheral point of view to materialize in different concepts and discussion alternatives. For the making of these chapters dozens of scientific journals and general press have been consulted. The central premises of discussion in this first part thus include the treatment of mental illness before the arrival of the first antipsychotic drugs ( including biological or somatic therapies), the introduction and reception of the first drugs with recognized merit in the treatment of schizophrenia - particularly the first antipsychotic chlorpromazine (1952) but also reserpine (1954) and haloperidol (1958) who follow shortly afterwards - and the numerous consequences and changes that happen in various sectors of the national society as a response to this development. The aim is to capture the portuguese zeitgest concerning mental illness and its treatment. The drug triad that constitutes the beginning of psychopharmacology reaches Portugal in the mid-50s of the twentieth century and is an innovation that is absorbed and established in a cautious way, not immediately replacing existing therapies before. There is a contained enthusiasm with the new drugs that translates into an attitude of utility/caution that punctuates the portuguese medical-scientific thinking. The use of the so-called somatic therapies, which include electroshock or insulin comas continue to exert dominance and chlorpromazine is seen as a valuable addition to the therapeutic arsenal but caution and restraint with the new drugs remain essential. There is a lingering question that needs to be answered - can a pill cure schizophrenia? And if the answer is yes, what changes in the understanding of mental illness and its significance for social and medical models? The emergence of new clinical and social issues becomes evident and the portuguese medical community is faced with issues such as mental hygiene and the compliance of political and social key factors for the establishment of reforms and rules to help the effective implementation of a regulated psychiatric medicine. Some important arguments emerge in unison - the mental hygiene of people, the need for effective laws on health and central assistance to patients. The proper role of the psychiatrist is debated, becoming an essential balancing force between the new drugs and the patient, a link that mutates and becomes fundamental. The common catalyst is undoubtedly the emergence of these new drugs, but at the same time there is the realization of the importance of mental health in a bigger equation that dictates the perfect equilibrium of oneself. Lastly, the discovery of antidepressants and anxiolytics constitutes a second wave of psychopharmacological innovation. The role of depressive illness takes a considerable role as a disease that is common and a burden to a large percentage of the population. The use of antidepressants - imipramine and iproniazid (in the early 60’s) - becomes a crucial debate center. The portuguese medical community is less skeptical of the new antidepressants and they are mainly the focus of scientific studies in Portugal, although they do not cease to bring their own issues of debate. Chapter VII aims to study of introduction of these drugs in a real scenario, the University Hospitals of Coimbra. The research conducted at the Archive of the University of Coimbra allowed access to thousands of individual files of patients. The introduction of chlorpromazine is made relatively rapidly but given its multiplicity of uses when it is first introduced, the new drug is mostly prescribed to cases of agitated patients, regardless of the cause for the agitation. It is also used in numerous non-related pathologies with the field of neuropsychiatry. The use of electroshock dominates the treatment of mental illness in the University Hospitals of Coimbra, at least until the end of the 1950’s.
Description: Tese no âmbito do Doutoramento em História, ramo de História Contemporânea, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
URI: https://hdl.handle.net/10316/94915
Rights: openAccess
Appears in Collections:UC - Teses de Doutoramento
FLUC Secção de História - Teses de Doutoramento

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