Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/94208
Title: O longo caminho da reconciliação em Timor-Leste – memórias, práticas e possibilidades de justiça
Authors: Gonçalves, Marisa Ramos 
Issue Date: 2021
Publisher: ICS
Project: info:eu-repo/grantAgreement/EC/H2020/867413/EU/Education as an instrument for liberation in Mozambique and Timor-Leste — histories of solidarity and contemporary reflections 
Serial title, monograph or event: Punir o Inimigo
Place of publication or event: Lisboa
Abstract: O modelo de justiça transicional que foi implementado em Timor-Leste com o apoio de organizações internacionais, pretensamente de aplicabilidade universal, apresenta diversos limites, desde já o seu carácter transitório e incapacidade para lidar com as implicações das memórias de longos conflitos, as dinâmicas políticas e identitárias atuais e as conceções diversas de justiça dos sobreviventes (Rego, 2019; Kent 2012, 136–38). O país seguiu, em parte, o caminho da justiça restaurativa, afigurando-se a hipótese de julgar os crimes ocorridos durante o conflito com a Indonésia (1975-1999) cada vez menos plausível, apesar do ativismo de associações de sobreviventes e ativistas timorenses e indonésios. Um dos aspetos inovadores da Comissão Acolhimento Verdade e Reconciliação (CAVR) de Timor-Leste foram os processos de reconciliação comunitária para os crimes menos graves que, seguindo filosofias e práticas locais de resolução de conflitos, permitiram a possibilidade de reestabelecer laços familiares e sociais quebrados durante o conflito. Na vizinha Indonésia, marcada por episódios de violência extrema no seu passado recente, iniciativas de ativistas e de gerações mais jovens procuram combater os processos de silenciamento das histórias dos sobreviventes desses conflitos, através de expressões artísticas diversas, incluindo a produção de filmes, publicações de livros de memórias e de pesquisas históricas. Filhos e netos das «comunidades implicadas» procuram igualmente conhecer estas histórias de violência e reconciliar-se com os sobreviventes (Hearman 2009; McGregor 2015; McGregor 2013). As iniciativas de justiça e reconciliação em Timor-Leste inserem-se, assim, no contexto de ativismo indonésio pelo reconhecimento dos vários casos de violações de direitos humanos em massa desde 1965, em que os padrões de impunidade do aparelho militar e policial do Estado indonésio se reproduziram, persistindo atualmente, apesar das reformas democráticas realizadas na sociedade indonésia desde a queda do general Suharto em 1998. Neste contexto, à medida que as crises políticas foram ultrapassadas e uma certa paz social se instalou em Timor-Leste, iniciativas para preservar a memória, recolher e escrever a história do país têm vindo a merecer destaque. Este texto conclui com a asserção que a escrita e veiculação de uma pluralidade de narrativas históricas no país, ainda que se centrem quase exclusivamente em relatos sobre a heroicidade e resistência na luta pela independência, evitando temas alternativos a essa centralidade, permitem não esquecer as injustiças, sofrimento e efeitos traumáticos decorrentes dos conflitos passados, promovendo a «justiça cognitiva» (Meneses 2014, 98-99) e alargando as possibilidades de justiça histórica.
Description: This is a preprint version.
URI: https://hdl.handle.net/10316/94208
Rights: embargoedAccess
Appears in Collections:I&D CES - Livros e Capítulos de Livros

Files in This Item:
File Description SizeFormat
O longo caminho da reconciliacao_MRG_preprint.pdf704.09 kBAdobe PDFView/Open
Show full item record

Page view(s)

301
checked on Apr 23, 2024

Download(s)

107
checked on Apr 23, 2024

Google ScholarTM

Check


Items in DSpace are protected by copyright, with all rights reserved, unless otherwise indicated.