Influência do dador e da isquemia na histologia da via biliar do enxerto em transplantação hepática

Abstract

Biliary strictures remain an important complication after liver transplantation. Recent histological studies introduced a new pathophysiological scheme of ischemic type biliary lesions. The present study aimed to determine if ischemic times and the characteristics of graft and donor influence the emergency of histological criteria considered as risk to the bile duct graft. Cross-sectional study in Coimbra Hospital and University Centre. From a total of 89 transplants between August 1st, 2016, and July 31st, 2017, we selected 45 transplants obtained by specific pre-defined inclusion criteria. In each one, tissue biopsies were taken from donor common bile duct during two different periods: cold ischemia, sample 1 (n=45), and after graft reperfusion, sample 2 (n=43). Sample’s histology was evaluated with a classification of risk lesions from Hansen et al.’s and Op den Dries et al.’s studies. Information of the chirurgic procedure, graft and donor were collected, and variables of ischemia times, graft and donor were defined. Statistical analysis considered 0.05 as p-value.Samples 2 had more lesion and the lesion of the peribiliary glands was the most significant difference between samples 1 and 2. The association between histological lesions and the variables of donor, graft and ischemic times was studied. Samples with lesion of the peribiliary glands had prolonged warm ischemia after reperfusion of the first vessel, with p-value approaching to statistical significance, and the presence of hepatic hemosiderosis was statistically associated with biliary wall bleeding (p= 0.044) and mural necrosis (p<0.005). Donor’s median age was higher in all samples that had histological lesions.In this study we found that during cold ischemia period there are histological criteria considered a risk to post-transplant cholangiopathy which increase after the graft reperfusion. Our results point out to a multifactorial nature of the lesion of biliary tree in which hepatic hemosiderosis may play an important role.

As estenoses biliares permanecem uma complicação pós-transplante importante. Resultados recentes de estudos histológicos introduziram uma nova patofisiologia das estenoses de origem isquémica. O presente estudo procurou determinar se existe influência dos tempos de isquemia e das características do enxerto e do dador no desenvolvimento de critérios histológicos de risco da via biliar do enxerto. Estudo transversal realizado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. De um total de 89 transplantes realizados entre 1 de agosto de 2016 e 31 de julho de 2017, selecionou-se uma amostra de 45 casos segundo critérios de inclusão pré-definidos. Em cada transplante efetuaram-se colheita e análise de amostras de via biliar do enxerto em dois períodos diferentes: no período de isquemia fria, via biliar 1 (n=45), e no período pós-reperfusão, via biliar 2 (n=43). A histologia das amostras foi avaliada segundo uma classificação adaptada descrita por Hansen et al. e Op den Dries et al. de lesões de risco. Colheu-se informação relativa ao procedimento cirúrgico, enxerto e dador e definiram-se as variáveis de tempos de isquemia, do enxerto e do dador. Análise estatística significativa para p-value inferior ou igual a 0,05. As amostras de via biliar 2 apresentaram maior severidade de lesão, sendo a das glândulas peribiliares profundas a mais significativa. Estudou-se a associação entre as lesões histológicas observadas e as variáveis do dador, do enxerto e tempos de isquemia. Verificou-se nas amostras com lesão das glândulas peribiliares profundas um aumento do tempo de isquemia quente após a reperfusão do primeiro vaso, com p-value a aproximar-se de significância estatística, e que a presença de hemossiderose hepática se associou à hemorragia da parede (p=0.044) e à necrose mural (p<0.005). A idade mediana do dador foi mais elevada em todas as amostras com lesão histológica.Neste estudo verificou-se que durante o período de isquemia fria já existem critérios histológicos de risco para colangiopatia pós-transplante, sendo que agravam no período pós-reperfusão. Os resultados são a favor de uma natureza multifatorial da lesão da via biliar, na qual a hemossiderose hepática poderá ter um papel importante.