Mulheres, Desporto, Media: Noticiabilidade e objetificação sexual do desporto feminino nos jornais desportivos em Portugal (1996-2016)

Abstract

In Portugal, especially after the Revolution of April 25th 1974, sport, both in its leisure and competition dimensions, began to win more and more practitioners. Although it is still a predominantly male dominium, women have been slowly, but progressively, conquering their space, both in terms of number of federated athletes, and in terms of number of coaches and other sports agents. This sporting growth of both sexes is also accompanied by the growing importance of the sports writing press, which currently has three daily newspapers in Portugal - Record, A Bola e O Jogo. The review of the literature has shown that sports media, while referring to the sporting results of female athletes in competition, focus mainly on their femininity, that is, focus mainly on female athlete details that prove that, despite the physical exertion that performs, is still female, even in many cases, to be seen as a sexual object. The aim was to determine if what is happening in many other countries also happens with the daily sports written press in Portugal. There are some studies done on the national reality, but none of them makes such a lengthy longitudinal analysis, or about so many sporting modalities, and, in general, they focus only on a newspaper.As such, a documentary analysis was carried out, during the years 1996 to 2015, focusing on the news and respective photographs published by the newspapers A Bola, O Jogo and Record, in dates previously randomly selected, on 10 sport modalities selected according some criteria, thus comparing the masculine and feminine sport. In the construction of the sample there was the concern of making it as representative as possible. In total, a corpus of 1207 news and their illustrative photographs were analyzed, distributed by the three newspapers as follows: Record = 427; A Bola = 429; O Jogo = 351. The analysis was chaired by two category nomenclatures fixed in two code books - one for written and another for photographic content. After this documentary analysis, it was possible to observe that women's sport still suffers from an enormous deficit of media coverage, representing a small part of the news published by the three newspapers. It was also possible to perceive that, as gleaned in the literature, the sexual objectification of the athletes also operates in the written sports press in Portugal. The longitudinal analysis does not show, however, a definite trend of growth or decrease, varying considerably over the years under analysis. In conclusion, during the 20-year period analyzed, no significant changes were found either in the news about women's sports or in a less sexualized treatment of the athletes. The continuity of the journalistic discourses verified points to the need to reinforce active policies to promote equality between women and men in the media so that they can participate and reflect the desired social change.

Em Portugal, sobretudo após a Revolução do 25 de Abril de 1974, o desporto tanto na sua vertente de lazer, como na sua vertente de competição, começou a conquistar cada vez mais praticantes. Apesar de ser ainda um espaço predominantemente masculino, as mulheres vêm progressivamente, mas de forma lenta, a conquistar o seu espaço, tanto em número de atletas federadas, como em termos de número de treinadoras e de outros agentes desportivos. Este crescimento desportivo em ambos os sexos é acompanhado igualmente pelo crescimento da importância da imprensa escrita desportiva, que conta atualmente com três jornais diários – Record, A Bola e O Jogo. A revisão da literatura mostrou-nos que os media desportivos, apesar de referirem os resultados desportivos das atletas femininas em competição, focam-se sobretudo na sua feminilidade, ou seja, focam-se sobretudo em detalhes da atleta feminina que comprovam que, apesar do esforço físico que executa, não deixa de ser feminina, chegando mesmo em muitos casos, a ser vista como um objeto sexual. Pretendeu-se apurar se o que se passa em muitos outros países acontece igualmente com a imprensa escrita desportiva diária em Portugal. Existem alguns estudos feitos sobre a realidade nacional, mas nenhum faz uma análise longitudinal tão ampla, nem sobre tantas modalidades desportivas e, em geral, focam-se apenas num periódico.Como tal, foi realizada uma análise documental, durante os anos de 1996 a 2015, incidindo sobre as notícias e respetivas fotografias publicadas pelos jornais A Bola, O Jogo e Record, em datas previamente selecionadas, sobre 10 modalidades desportivas igualmente selecionadas, comparando dessa forma o desporto masculino e feminino. Na construção da amostra houve a preocupação de a tornar o mais representativa possível. No total foi analisado um corpus de 1207 notícias e respetivas fotografias ilustrativas, distribuído pelos três jornais do seguinte modo: Record = 427; A Bola = 429; O Jogo = 351. A análise foi presidida por duas nomenclaturas de categorias fixadas em dois livros de códigos – um para o conteúdo escrito e outro para o fotográfico. Após esta análise documental, foi possível observar que o desporto feminino ainda sofre de um enorme défice de cobertura mediática, representando uma pequena parte das notícias publicadas pelos três jornais. Foi ainda possível perceber que, tal como respigado na literatura, o processo de objetificação sexual das atletas opera, igualmente, na imprensa escrita desportiva em Portugal. A análise longitudinal não evidencia, porém, uma tendência definida de crescimento ou decréscimo, variando bastante ao longo dos anos em análise. Em conclusão, no período de 20 anos analisados, não foram encontradas mudanças significativas nem quanto à noticiabilidade do desporto feminino nem quanto a um tratamento menos sexualizado das atletas. A continuidade dos discursos jornalísticos verificada remete para a necessidade de reforçar as políticas ativas de promoção da igualdade entre mulheres e homens nos meios de comunicação social, para que estes possam participar e refletir a mudança social desejada.