O campo da arte segundo Marcel Duchamp

Abstract

O sentido de meta-arte em Duchamp evidencia o facto de a sua obra não ser exclusiva de qualquer forma de expressão artística.

A própria natureza da arquitectura, sendo esta motivada pela estética mas também pela utilidade, não será alheia ao sentido da ideia duchampiana na possibilidade de fazer obras que não sejam "de arte", no seu afastamento estratégico a visões puramente esteticizantes, no seu sentido mais estrito.

É esta impureza da arquitectura enquanto forma de arte, no sentido que tradicionalmente se atribui à arte no afastamento de qualquer funcionalidade, que torna pertinente, neste contexto, a reflexão sobre Duchamp.

Na arquitectura, na relação do processo de projectar com o programa do projecto, o pensamento conceptivo não pode ser alheio a uma lógica, na evidência e inevitabilidade da arte como coisa mental.

É na procura do que consistirá, em arte, a ideia de inteligência, que este trabalho se situa.

E na ideia duchampiana de fazer obras que não sejam "de arte" encontramos intencionalidade de defender a arte das suas definições, na procura de uma noção de arte que seja sobretudo, na sua relação com a realidade, o campo das suas possibilidades.

Nesta dissertação através de Duchamp, encontramos reflexões sobre: a noção de indivíduo; a noção de plasticidade; a relação da arte com a racionalidade; a noção de espaço; a experiência de imaginar; a valorização da subtileza, na importância de entidades ínfimas em detrimento de uma abordagem da realidade na estrita simplificação da racionalidade (na criação duchampiana da ideia de inframince); e, sobretudo através das suas Boites-en-valise, o entendimento da criação artística enquanto o todo de um processo.

Duchamp, making art that, simultaneously, is a reflection on what is art about, reveals a aesthetical thought that is not meant to be exclusive of any form of artistic expression.

The nature of the architecture itself, being motivated by the aesthetics, but also by the utility, can not be indifferent to the meaning of the duchampian idea of the possibility of making artefacts that are not "of art", in its strategical withdrawal from the purely aesthetical, in its most restrict sense.

It is this impurity of the architecture while art form, in the sense that traditionally is attributed to art as being away from any idea of functionality, that becomes pertinent, in this context, the reflection on Duchamp. In architecture, in the relation of the process of the project with its program, the conceptive thought cannot exclude logic, in the evidence and inevitability of art as a mental thing.

It is the seek of what consists, in art, the idea of intelligence, that is the aim of this dissertation.

And in the duchampian idea of the possibility of making artefacts that are not "of art" we find the purpose to defend art of its definitions, in the seek of a notion of art where art is, over all, in its relation to reality, the field of its possibilities.

In this dissertation, through Duchamp, we find reflections on: the notion of individual; the notion of plasticity; the relationship between art and rationality; the notion of space; the experience of imagining; the recognition of subtlety, in the importance of thinnermost entities as an alternative to an approach to the reality in the strict simplification of rationality (in the duchampian creation of the idea of inframince) ; and, mostly through his Boites-en-valise, the understanding of the artistic creation as the whole of a process.