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https://hdl.handle.net/10316/18468
Título: | Variáveis Sócio-Cognitivas como Preditores da Resposta ao Tratamento Farmacológico da Depressão | Autor: | Carvalho, Serafim Armindo Dias | Orientador: | Gouveia, José Augusto Pinto | Palavras-chave: | Abuso sexual; Negligência; Depressão major; Tratamento farmacológico | Data: | 29-Fev-2012 | Citação: | CARVALHO, Serafim Armindo Dias - Variáveis sócio-cognitivas como preditores da resposta ao tratamento farmacológico da depressão [em linha]. Coimbra : [s.n.], 2012. [Cosnult. Dia Mês Ano]. Tese de doutoramento. Disponível na WWW:< http://hdl.handle.net/10316/18468> | Resumo: | Introdução: resistência, remissão tardia, remissão incompleta com sintomas residuais e recaída
ou recorrência são frequentes durante o tratamento farmacológico da depressão. O resultado
do tratamento depende do intervalo temporal considerado e dos critérios utilizados como
referência. Por outro lado, os estudos têm sido inconclusivos em relação à maior parte dos
preditores e só em relação a um pequeno número deles existe consenso. Até ao presente,
nenhum outro estudo avaliou em conjunto variáveis evolucionárias (variáveis de ranking ou
posto social), acontecimentos e dificuldades de vida antes e durante o tratamento, e
experiências de negligência, antipatia, violência física e abuso sexual na infância e adolescência
como preditores de resultado e da trajectória da depressão durante o tratamento
farmacológico.
Objectivos: com o presente trabalho procura avaliar-se se variáveis evolucionárias (i.e.,
derrota, entrapment, comparação social, comportamento de submissão, vergonha externa);
experiências de negligência, antipatia, violência física e abuso sexual; acontecimentos e
dificuldades de vida durante o ano anterior ao início do episódio depressivo e durante o
estudo, são preditores de remissão e recaída/recorrência da depressão ao longo do
tratamento farmacológico.
Metodologia: uma coorte de 139 doentes com depressão major, em tratamento
farmacológico, pertencentes ao ambulatório de um hospital público, Hospital de Magalhães
Lemos, foram seguidos prospectivamente durante um período de até 18 meses após a
remissão. Foram consideradas para esta investigação cinco avaliações: inicial, 6 semanas, 3
meses, 9 meses e avaliação final (ou última avaliação para os doentes recaídos/recorrentes).
Os doentes foram tratados segundo uma estratégia terapêutica algorítmica (Texas Medication
Algorithm Project). Aqueles que remitiram até aos 9 meses, continuaram a tomar medicação
para prevenção de recaída e foram seguidos até 18 meses após remissão ou até à recaída. Os
doentes que não remitiram até aos 9 meses não entraram no estudo de seguimento. Foi
utilizada a SCID-I para verificar a existência de critérios para depressão major nos períodos
considerados e o BDI (Inventário de Depressão de Beck) para avaliar os níveis de depressão. As
variáveis evolucionárias, sócio-cognitivas, tipo traço (comparação social, comportamentos de
submissão e vergonha externa), e tipo estado (derrota e entrapment) foram avaliadas com
escalas próprias. Experiências de negligência, antipatia, violência física e abuso sexual antes
dos 17 anos de idade foram avaliados pelo CECA.Q (Questionnaire of Childhood Experiences of
Care and Abuse). Os acontecimentos e dificuldades de vida no ano anterior ao início do episódio actual bem como durante o estudo foram avaliados pela LEDS (Life Events and
Difficulties Schedule); as variáveis clínicas e sócio-demográficas foram colhidas em entrevista
elaborada para o efeito. As variáveis referidas foram testados em modelos de regressão como
possíveis preditores de resultado e da trajectória da depressão. Foram testados preditores
para remissão à 6ª semana, de resistência até à 36ª semana, de recaída/recorrência durante o
seguimento após a remissão durante o período máximo de 27 meses, e como preditores de
prognóstico. Para os estudos de predição de resultados foram testadas variáveis
independentes colhidas na avaliação inicial. Para os estudos dos preditores de recaída foram
testadas variáveis independentes avaliadas na avaliação de remissão. Procurou construir-se
um modelo global de trajectória (modelo de prognóstico), para o efeito foi criada uma variável
dicotómica com duas categorias de prognóstico: 1 = mau (incluindo os doentes resistentes e os
doentes recaídos) e 2 = bom (constituída pelos doentes remitidos que não recaíram no estudo
de seguimento). Neste caso foram utilizadas variáveis potenciais preditoras da avaliação inicial.
Resultados: dos 139 doentes, 34 (24.5%) remitiram à 6ª semana; 62 (44.6%) remitiram e não
recaíram durante o estudo de seguimento (doentes com bom prognóstico); 30 (21.4%) tiveram
um resultado flutuante (i.e., tiveram uma recaída/recorrência após a remissão); 44 (31.7%)
foram resistentes ao tratamento (mantiveram critérios de depressão até ao limite de 9 meses
do estudo de remissão). Globalmente, 74 (53.2%) doentes tiveram um prognóstico
desfavorável e 62 (44.6%) bom prognóstico. Nas análises de regressão obtiveram-se os
seguintes preditores de não remissão à 6ª semana: carga superior de acontecimentos e
dificuldades de vida da dimensão entrapment/humilhação avaliados inicialmente (sobrevindos
no ano anterior ao início do episódio depressivo e até à avaliação inicial) (OR = 6.6), e níveis
mais elevados de entrapment avaliados pela escala de entrapment (OR = 1.1) explicando 28.7%
da variância. Para a resistência foram encontrados os seguintes preditores: carga superior de
acontecimentos e dificuldades de vida da dimensão entrapment/humilhação avaliados
inicialmente (OR = 4.6), abuso sexual na infância/adolescência (OR = 3.61) e derrota inicial (OR
= 1.07) explicando 35.3% da variância. A recaída/recorrência teve os seguintes preditores:
carga de acontecimentos e dificuldades de vida da dimensão perda/ameaça presentes na
avaliação final (OR = 3.50), valores mais elevados no BDI da remissão (OR = 1.22), e valores
superiores de entrapment interno na remissão (OR = 1.14) explicando 30.4% da variância. O
modelo preditivo de prognóstico teve os seguintes preditores de mau prognóstico: carga
superior de acontecimentos e dificuldades de vida da dimensão entrapment/humilhação
avaliados inicialmente (OR = 3.23), níveis superiores de abuso sexual (OR = 1.11), níveis
superiores do BDI inicial (OR = 1.10) e níveis superiores de entrapment externo inicial (OR = 1.06) explicando 39% da variância. O modelo de prognóstico classificou correctamente 73% da
totalidade dos doentes, 68% dos doentes com bom prognóstico e 77% dos doentes com mau
prognóstico.
Conclusão: na maioria dos casos, a depressão tende à cronicidade e recorrência. As variáveis
evolucionárias, tal como o entrapment externo, o entrapment interno e a derrota; a carga de
acontecimentos e dificuldades de vida da dimensão entrapment/humilhação e de
perda/ameaça (para recaída) bem como a negligência materna e o abuso sexual na
infância/adolescência são preditores de mau prognóstico durante o tratamento farmacológico.
As variáveis sócio-demográficas, o tipo de tratamento farmacológico, bem como a comorbilidade
médico-cirúrgica e psíquica não foram preditores de resultado. O modelo de
prognóstico encontrado neste trabalho classifica correctamente a maioria dos doentes em
qualquer dos grupos e sugere ter utilidade clínica. Introduction: resistance, late remission, incomplete remission with residual symptoms, relapse, and recurrence are common outcomes of depression undergoing pharmacological treatment. Outcomes depend on the length of time considered and the criteria used. On the other hand, predictors’ studies have been inconclusive regarding many predictors, and only in a few cases, a consensus exists. Until now, no studies have examined evolutionary variables (rank variables), life events and difficulties, including childhood abuse, together, as predictors of depression outcomes in patients undergoing pharmacological treatment. Objectives: the aims of this study were to test evolutionary variables (defeat, entrapment, social comparison, submissive behavior and external shame), life events and difficulties, including childhood abuse, together, as predictors of depression outcomes in patients undergoing pharmacological treatment. Methods: a cohort of 139 depressed outpatients undergoing pharmacological treatment was followed prospectively during 18 months after remission. Five major evaluations were considered: baseline, 6 weeks, 3 months, 9 months and 18 months after remission or final evaluation (or last evaluation for relapsed/recurrents). Patients were allocated to a drug therapeutic algorithm (Texas Medication Algorithm Project). Those who remitted until the ninth month continued taking their medication during 18 months. Depression was assessed using SCID-I for major depression criteria, and the BDI (Beck Depression Inventory for depression score. Evolutionary variables (defeat, entrapment, social comparison, submissive behavior and external shame), were assessed by appropriate scales, and life events and difficulties during the year before the index episode were assessed by LEDS (Life Events and Difficulties Schedule) and childhood abuse before the age of 17, e.g., neglect, antipathy, physical and sexual abuse, was evaluated using CECA.Q (Questionnaire of Childhood Experiences of Care and Abuse). Predictors were tested for remission on week 6, resistance until week 36, relapse during the follow-up until month 18 and for a general model of prognosis. For outcomes, only baseline measures were considered. For relapse, measures taken at remission were considered. On an attempt to build a general model of outcome (prognosis), we have used a binary outcome variable: 1 = poor (resistant and relapsed patients) and 2 = good (remitted and recovered patients who remained well), and in this case only baseline measures were considered. Results: of the 139 patients, 34 (24.5%) remitted at week 6; 62 (44.6%) achieved recovery and remained well during the whole study; 30 (21.4%) had a fluctuating outcome (achieved remission but suffered a relapse or recurrence, and 44 (31.7%) were resistant (remained depressed for a minimum of 9 months). Therefore, taken together, 62 (44.6%) patients had a good outcome and 74 (53.2%) had a poor outcome. For the logistic regression analysis, factors predicting non-remission at week 6 were higher load of life events and difficulties of entrapment/humiliation dimension at baseline of the index episode (OR = 6.62) and higher levels of entrapment measured by the entrapment scale (OR = 1.10), which accounted for 28.7% of the variance. Factors predicting resistance to treatment were higher load of life events and difficulties of entrapment/humiliation dimension at baseline of the index episode (OR = 4.60), sexual abuse before 17 (OR = 3.61) and defeat at baseline (OR = 1.07), which explained 35.3% of the variance. Relapse/recurrence predictors were load of life events and difficulties of the loss/danger dimension present at final assessment (OR = 3.50), higher BDI score at remission (OR = 1.22), and higher levels of internal entrapment at remission (OR = 1.14), explaining 30.4% of the variance. For the general model of outcome, predictors were higher load of life events and difficulties of entrapment/humiliation dimension at baseline (OR = 3.23), higher levels of sexual abuse before 17 (OR = 1.11), higher levels of BDI score at baseline (OR = 1.10) and higher levels of external entrapment (OR = 1.06), which predicted a poor outcome. This regression model explains 39% of the variance and classified correctly 73% of the subjects of the total sample, classifying correctly 68% of the subjects with good prognosis and 77% of the subjects with poor prognosis. Conclusions: in the majority of cases, depression tends to be a recurrent and chronic disorder. Evolutionary variables such as external entrapment, internal entrapment, defeat, load of life events and difficulties (entrapment/humiliation and loss/threat dimensions for relapse), maternal neglect and sexual abuse before 17 predicted poor outcome. Demographic data, pharmacological treatment, physical and psychiatric co-morbidities were not predictors of outcome. Our general model of outcome classifies correctly the majority of subjects and seems to be clinically useful. |
Descrição: | Tese de doutoramento em Psicologia, na especialidade de Psicologia Clínica, apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra | URI: | https://hdl.handle.net/10316/18468 | Direitos: | openAccess |
Aparece nas coleções: | FPCEUC - Teses de Doutoramento |
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Serafim Armindo Dias de Carvalho [Dissertação de Doutorament.pdf | 3.15 MB | Adobe PDF | Ver/Abrir |
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