Desaprendizagens, Universidades Populares e Epistemologias do Sul: Um diálogo a partir da Universidade Trashumante e da Universidade Popular dos Movimentos Sociais

Abstract

This thesis is a comparative study between the Universidad Trashumante (UT) in Argentina and the Popular University of Social Movements (UPMS) in Brazil, both Popular Universities (UPs) in Latin America/Abya Yala. It is based on the epistemologies of the South, which proposes learning in co-presence with social movements and an "ecology of knowledges." The research aims to understand the emergence of knowledge born out of the social struggle in the elaboration of its “post-abyssal” conception. It analyzes the coloniality and limitations of conventional universities and the possible contributions of popular education to transform them. Thus, it is about the “battle of ideas” waged by historically marginalized groups against the “latifundium of knowledge” and the “monoculture of scientific knowledge.” The hypotheses developed are that the UT and the UPMS, each with their own particularities, are embryonic of a “post-abyssal” knowledge and that the more effective approximation of UPs with conventional universities contributes to overcoming their legitimacy crisis. Organized in six chapters the thesis first discusses the theoretical currents of post-colonialisms, decolonial studies and epistemologies of the South. It justifies the choice for the latter by making a historical-critical cut of the European colonization of the region, now known as the American continent, focusing on the processes of cultural and educational domination, in which the university had a preponderant role, unfolding over the centuries. Secondly, opposing the hegemonic colonial process, the formation of popular education is presented as an original development of the region. It traces an overview of UPs experiences and their evolution throughout the 20th-21st centuries, with the most recent ones grouped into three categories according to their relationship with the State and construction of autonomy. Thirdly, the methodological option of is presented, which is the extended case study carried through “militant research” and participant observation. It makes use of the “sociologies of the absences of emergencies”, which allowed a deeper involvement with both UPs, both in the pedagogical and organizational aspects, perceiving the artisan ways of producing knowledge and alternative ways of doing politics. The research and field work trajectories, analyzed in the two empirical chapters and in the dialogue established in the final part, instigated the unlearning of established truths. Through “deep listening” and “being together”, it was possible to learn and build new knowledge, socially committed, highlighting autonomy and joy as founding elements of this process in the case of UT and intercultural and inter-political translation in the case of UPMS.

Esta tese é um estudo comparativo entre a Universidad Trashumante (UT) na Argentina e a Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) no Brasil, ambas Universidades Populares (UPs) na América Latina/Abya Yala. Com base nas epistemologias do Sul, que propõem a aprendizagem na co-presença com movimentos sociais e uma “ecologia de saberes”, o objetivo do trabalho é compreender a emergência de saberes nascidos da luta social na construção de uma concepção “pós-abissal” de conhecimento, refletindo sobre a colonialidade e as limitações das universidades convencionais e dos possíveis aportes da educação popular para transformá-las. Desse modo, trata-se sobre a “batalha de ideias”, contra o “latifúndio do saber” e a “monocultura do saber científico”, travada por grupos historicamente marginalizados na luta pela construção de um mundo mais plural e socialmente justo. As hipóteses trabalhadas são de que a UT e a UPMS, cada uma com suas particularidades, são embrionárias de um conhecimento “pós-abissal” e de que a aproximação mais efetiva de UPs com universidades convencionais contribui para a superação da crise de legitimidade dessas. Dividida em seis capítulos, a tese primeiramente faz um debate das correntes teóricas dos pós-colonialismos, dos estudos decoloniais e das epistemologias do Sul, justificando a escolha por essa última ao se fazer um recorte histórico-crítico da colonização europeia da região, hoje conhecida como continente Americano, com enfoque nos processos de dominação cultural e educacional, no qual a universidade teve um papel preponderante, desdobrando-se ao longo dos séculos. Em segundo lugar, aborda-se a contraposição de resistência ao processo colonial hegemônico com a formação da educação popular, oriunda dessa mesma região, traçando um panorama das experiências de UPs e a evolução dessas ao longo dos séculos XX-XXI, com as mais recentes agrupadas em três categorias de acordo com sua relação com o Estado e construção de autonomia. Em terceiro lugar, a opção metodológica é apresentada, sendo ela o estudo de caso alargado por meio da investigação militante e da observação participante, valendo-se das “Sociologias das Ausências das Emergências”, que permitiu um envolvimento mais profundo com ambas as UPs, tanto nos aspectos pedagógicos como organizativos, percebendo os modos artesanais de produção de saberes e de outras formas de se fazer política. As trajetórias de investigação e de trabalho de campo, analisadas nos dois capítulos empíricos e no diálogo estabelecido na parte final, instigaram a desaprender verdades estabelecidas. Por meio da “escuta profunda” e do “estar junto”, foi possível aprender e construir novos conhecimentos, socialmente comprometidos, destacando a autonomia e a alegria como elementos fundantes desse processo no caso da UT e da tradução intercultural e interpolítica no caso da UPMS.