Ensaios Clínicos em Neuropediatria em Portugal: atuais desafios e oportunidades

Abstract

Introduction. The analysis of information and reflections on the challenges and opportunities in clinical trials related to the area of Neuropediatrics, in Portugal, can be an essential determinant in structuring research in this specific area of health, in pediatric age, in our country. Encouraging the conduct of clinical trials in Pediatrics is essential, since many of the drugs used in hospital institutions today, in this field, are effectively off-label, particularly regarding neurological disease. This means, according to the European Medicines Agency, that drugs are used in children without prior clinical studies in pediatric populations, in a context different from that authorized, be it in dose, route of administration or therapeutic indication. However, despite being fundamental and beneficial for Portugal and patients, particularly those with neurological disease, clinical trials in Neuropediatrics face important challenges, such as the low recruitment rate, lack of investment from the pharmaceutical industry and lack of time dedicated to Clinical Research by doctors qualified to conduct them, Neuropediatricians.Objectives. The objectives of this project were to point out and analyze the difficulties that Neuropediatricians, members of the Neuropediatrics Subspecialty Section of the Portuguese Medical Association and the Portuguese Society of Neuropediatrics, face with clinical trials of the subspecialty in their health institutions. Additionally, to indicate the perspectives that Neuropediatricians have on clinical trials in Portugal, to identify opportunities for improvement, to locate the research centers that are currently conducting clinical trials in the country (in Neuropediatrics) and to list the therapeutic areas that mobilize greater investment, in terms of research, these were also objectives of the project.Methodology. The present study follows a level I descriptive research design, using a cross-sectional, qualitative-quantitative and exploratory approach. A non-systematic review of the literature was carried out to assist in the construction of the questionnaire that served as the basis for data collection, and which was sent to Neuropediatricians via email (database at the Portuguese Society of Neuropediatrics). The questionnaire included 14 questions, qualitative and quantitative. The questions cover participation in Clinical Trials, time dedicated to Clinical Research, obstacles faced and suggestions for improvements.Results. Twenty Neuropediatricians responded to the questionnaire, representing 41.7% of the doctors registered in the Subspecialty Section of the Portuguese Medical Association, on June 30, 2023. The sample included doctors from the North, Center and Lisbon and Tejo Valley regions, with clinical experience ranging from 5 to more than 20 years of profession, the majority in public institutions. Epilepsy, Migraine and Demyelinating Diseases were the areas that were found to be most active, in terms of research. The biggest obstacle reported by the sample is the difficulty in having time for the activities required in Clinical Research. It is believed that the definition of support teams for the conduct of clinical trials is the most important aspect, in practical terms, to assist the growth of this specific area of clinical research in Neuropediatrics, in Portugal.Conclusion. The off-label use of medications in children, particularly those with neurological disease, reflects the lack of clinical trials conducted specifically in pediatric age. This exploratory and descriptive study with Portuguese Neuropediatricians identified current, pertinent, and important challenges regarding the conduct of Clinical Research in the subspecialty, such as lack of time and regulatory complexity, poorly suited to the pressure of current clinical practice. Protection of working time to dedicate to research, collaboration between colleagues and support from coordination teams are suggested to promote clinical trials in Neuropediatrics, essential for using evidence-based therapies in pediatric populations.

Introdução. A análise de informações e reflexões acerca dos desafios e oportunidades em ensaios clínicos relativos à área da Neuropediatria, em Portugal, pode-se constituir uma determinante essencial na estruturação da investigação nesta área específica da saúde, em idade pediátrica, no nosso país. Incentivar a condução de ensaios clínicos em Pediatria é fundamental, uma vez que muitos dos fármacos que se usam em instituições hospitalares hoje em dia, neste domínio, são-no efetivamente off-label, em particular no tocante à doença neurológica. Isto significa, de acordo com a Agência Europeia do Medicamento, que os fármacos são utilizados em crianças sem estudos clínicos prévios nas populações pediátricas, em contexto diferente da autorizada, seja em dose, via de administração ou indicação terapêutica. Mas, apesar de serem fundamentais e benéficos para Portugal e para os utentes, nomeadamente portadores de doença neurológica, os ensaios clínicos em Neuropediatria enfrentam desafios importantes, como são o baixo índice de recrutamento, carência de investimento da indústria farmacêutica e falta de tempo dedicado à Investigação Clínica por parte dos médicos habilitados para os conduzir, os Neuropediatras.Objetivos. Os objetivos deste trabalho foram apontar e analisar quais são as dificuldades que os Neuropediatras, membros da Secção de Subespecialidade de Neuropediatria da Ordem dos Médicos e da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria, enfrentam com ensaios clínicos da subespecialidade, nas suas instituições de saúde. Adicionalmente, indicar as perspetivas que os Neuropediatras têm sobre os ensaios clínicos em Portugal, identificando oportunidades de melhoria, localizar os centros de investigação que estão neste momento a conduzir ensaios clínicos no país (em Neuropediatria) e elencar as áreas terapêuticas que mobilizam maior investimento, em termos de investigação, também foram objetivos do projeto.Metodologia. O presente estudo segue um desenho de investigação descritivo de nível I, usando uma abordagem transversal, quali-quantitativa e exploratória. Uma revisão não sistemática da literatura foi realizada para auxiliar na construção do questionário que serviu de base à recolha de dados e que foi enviado aos Neuropediatras através de mensagem de correio eletrónico (base de dados na Sociedade Portuguesa de Neuropediatria). O questionário incluiu 14 questões, qualitativas e quantitativas. As perguntas abrangem a participação em Ensaios Clínicos, tempo dedicado à Investigação Clínica, obstáculos enfrentados e sugestões de melhorias. Resultados. Responderam ao questionário 20 Neuropediatras, representando 41.7% dos respetivos médicos inscritos na Secção da Subespecialidade da Ordem dos Médicos, à data de 30 de junho de 2023. A amostra incluiu médicos das regiões Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo, com experiência clínica que varia de 5 a mais de 20 anos de profissão, a maioria em instituições públicas. Epilepsia, Enxaqueca e Doenças Desmielinizantes foram as áreas que se verificaram ser mais ativas, em termos de investigação. O maior obstáculo relatado pela amostra é a dificuldade em dispor de tempo para as atividades exigidas na Investigação Clínica. Acredita-se que a definição de equipas de apoio à condução de ensaios clínicos seja o aspecto mais importante, em termos práticos, para auxiliar ao crescimento desta área específica da investigação clínica em Neuropediatria, em Portugal. Conclusão. O uso off-label de medicamentos em crianças, em particular nas portadoras de doença neurológica, é reflexo da carência de ensaios clínicos conduzidos especificamente em idade pediátrica. Este estudo exploratório e descritivo com Neuropediatras portugueses identificou desafios atuais, pertinentes e importantes quanto à condução de Investigação Clínica na subespecialidade, como falta de tempo e complexidade regulamentar, pouco adequada à pressão da prática clínica atual. A proteção de tempo laboral para dedicar à investigação, a colaboração entre colegas e o suporte de equipas de coordenação são sugeridos para promover ensaios clínicos em Neuropediatria, essenciais para utilizar terapêuticas baseadas em evidência nas populações pediátricas.