Behavior Rating Inventory of Executive Function - Adult Version (BRIEF-A): Estudo de Validação numa Amostra de Pessoas com Doença de Parkinson após Estimulação Cerebral Profunda

Abstract

As funções executivas (FE) integram um conjunto de habilidades e capacidades que permitem executar ações necessárias para atingir um objetivo e constituem a base de muitas aptidões cognitivas, emocionais e sociais e estão associadas à capacidade de responder de forma adaptava a novas situações. A disfunção executiva representa défices em um ou mais elementos da FE e podem estar presente em diversas condições clínicas. A Doença de Parkinson é a segunda patologia neurodegenerativa mais prevalente em todo o mundo, sendo caracterizada por sintomas motores clássicos da doença, como a bradicinesia, rigidez muscular, tremor de repouso e alterações posturas e da marcha. Entretanto, também tem é caracterizada pelo surgimento de sintomas não-motores, como a hiposmia, alterações de humor, de sono, e, em fases mais avançadas, disautonomia e alterações cognitivas e psiquiátricas. No que diz respeito às alterações cognitivas, são heterógenas, mas cerca de 30% destes sujeitos apresentam disfunção executiva. Dada a sua essência dinâmica, a avaliação das FE é um desafio, uma vez que grande parte dos instrumentos disponíveis para a sua apreciação envolvem tarefa complexas, exigentes e multifacetadas, medindo diversos domínios cognitivos, dificultando a diferenciação dos défices executivos específicos. Dessa forma, torna-se necessária a avaliação neuropsicológica através de metodologias quantitativas e qualitativas. O Behavior Rating Inventory of Executive Function - Adult Version (BRIEF-A) é um dos instrumentos mais utilizados atualmente, contribuindo para a avaliação do funcionamento executivo no dia a dia. O presente estudo tem como objetivo contribuir para a validação deste inventário para a população portuguesa, especificamente, numa amostra de pessoas com a doença de Parkinson após Estimulação Cerebral Profunda (ECP). Foi aplicado um protocolo de avaliação neuropsicológica em 34 sujeitos com a doença de Parkinson que haviam realizado a ECP há, pelo menos, 12 meses, e seus respetivos informadores, totalizando 68 participantes. Foram elaboradas análises no âmbito da precisão - estudo da consistência interna (alfa de Cronbach) e acordo entre avaliadores (coeficiente de correlação intraclasse e teste t-Student), validade convergente/divergente (correlações com o Montreal Cognitive Assessment, Escala de Avaliação da Demência -2, Tarefa de Fluência Verbal Fonémica e Semântica, Trail Making Test A e B e Inventário de Depressão de Beck II) e validade discriminante (comparação de resultados do grupo clínico, em estudo, e de um grupo equivalente da comunidade). Foram obtidos valores muito bons na consistência interna para os índices e resultado total para a versão de autorrelato e do informador; valores de consistência interna razoável a boa para todas as escalas da versão de autorrelato e bons a muito bons para oito escalas da versão do informador, excetuando a escala de Inibição, que apresenta valor razoável. Quanto ao acordo interavaliador, foram encontrados valores de confiabilidade moderada para sete escalas clínicas, excetuando os valores fracos na escala de Flexibilidade e Automonitorização. Foram, também, encontradas diferenças significativas para a escala de Automonitorização e Memória de Trabalho, com valor de magnitude de efeito moderado. No que diz respeito à validade concorrente, o instrumento apresentou maioritariamente correlações significativas negativas moderadas com os indicadores do MoCA, Tarefas de FVS e FVF e com a DRS-2. Foi encontrada correlação significativa positiva moderada com o BDI-II. Relativamente à validade discriminante, a amostra clínica em estudo obteve resultados significativamente superiores aos da amostra da comunidade, evidenciando pior funcionamento executivo. No presente estudo, o BRIEF-A apresentou boas propriedades psicométricas na amostra clínica, evidenciando que pode constituir-se como um instrumento útil na compreensão do nível de funcionamento executivo de sujeitos com a Doença de Parkinson em tratamento com Estimulação Cerebral Profunda, sendo capaz de os diferenciar dos sujeitos saudáveis.

Executive functions (EF) integrate a set of skills and abilities that allow the execution of actions necessary to achieve a goal and constitute the basis of many cognitive, emotional and social skills and are associated with the ability to respond adaptively to new situations. Executive dysfunction represents deficits in one or more elements of EF and can be present in several clinical conditions. Parkinson's disease is the second most prevalent neurodegenerative pathology worldwide, being characterized by classic motor symptoms, such as bradykinesia, muscle rigidity, tremor and changes in posture and gait. However, it is also characterized by non-motor symptoms, such as hyposmia, mood changes, sleep changes, and, in more advanced stages, dysautonomia, cognitive and psychiatric changes. Regarding cognitive changes, they are heterogeneous, but around 30% of these subjects present executive dysfunction. Given its dynamic essence, the assessment of EF is a challenge, since most of the instruments available for its measure involve complex, demanding and multifaceted tasks, assessing different cognitive domains, making it difficult to differentiate specific executive deficits. Therefore, neuropsychological assessment through quantitative and qualitative methodologies becomes necessary. The Behavior Rating Inventory of Executive Function - Adult Version (BRIEF-A) is becoming one of the most used instruments, contributing to the assessment of executive functioning on a daily basis. The present study aims to contribute to the validation of this inventory for the Portuguese population, specifically, in a sample of people with Parkinson's disease after Deep Brain Stimulation (DBS). A neuropsychological assessment protocol was applied to 34 subjects with Parkinson's disease who had undergone DBS at least 12 months ago, and their respective informants, totaling 68 participants. Precision analyzes were carried out - study of internal consistency (Cronbach's alpha) and inter-rater agreement (intraclass correlation coefficient and Student's t-test); convergent/divergent validity (correlations with the Montreal Cognitive Assessment, Dementia Assessment Scale -2, Phonemic and Semantic Verbal Fluency Task, Trail Making Test A and B and Beck Depression Inventory II) and discriminant validity (comparison of results from the clinical group under study and an equivalent group from the community). Very good values were obtained in internal consistency for the indices and total result for the self-report and informant versions; fair to good internal consistency values for all scales of the self-report version and good to very good for eight scales of the informant version, except for the Inhibition scale, which presents a reasonable value. Regarding inter-rater agreement, moderate reliability values were found for seven clinical scales, except for weak values in the Flexibility and Self-Monitoring scale. Significant differences were also found for the Self-Monitoring and Working Memory scale, with a moderate effect magnitude value. With regard to concurrent validity, the instrument mostly showed significant moderate negative correlations with the MoCA indicators, FVS and FVF Tasks and with the DRS-2. A moderate positive significant correlation was found with the BDI-II. Regarding discriminant validity, the clinical sample under study obtained significantly better results than the community sample, showing worse executive functioning. In the present study, the BRIEF-A presented good psychometric properties in the clinical sample, showing that it can be a useful instrument in understanding the level of executive functioning of subjects with Parkinson's Disease undergoing treatment with Deep Brain Stimulation, being able to differentiate them from healthy subjects.