A Voz da Investigadora na Investigação Narrativa: Problemas e Possíveis Soluções

Abstract

As histórias fazem parte da vida dos seres humanos: é através destas que criam as suas identidades individuais e de grupo, partilham experiências e criam laços. No contexto das ciências sociais, as histórias começam a ganhar relevo, tanto como objeto de estudo como metodologia de investigação, a partir do início do século XX. A investigação narrativa torna-se, assim, uma prática que envolve investigadora e pessoa participante na sua construção. Neste ensaio, pretendo problematizar diferentes questões ligadas à relação entre investigadora e participante, particularmente a questão da presença da voz da investigadora. Para tal, irei explorar a utilização da narrativa enquanto metodologia de investigação e a dimensão dialógica inerente à construção de histórias para investigar a relação da investigadora com a pessoa participante e os problemas que podem surgir do confronto entre a presença de duas vozes na construção de uma história. Esta análise será complementada com a apresentação de exemplos concretos de possíveis soluções para contornar estes problemas, como a utilização da primeira pessoa do singular para representar as vozes das pessoas participantes e o recurso a diferentes participantes para evitar tecer generalizações sobre grupos específicos. Visto ser uma construção feita entre investigadora e pessoa participante, a investigação narrativa deve focar-se nas vozes que quer representar, minimizando, para tal, o impacto que a presença inevitável da voz da investigadora possa ter.