Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/10316/105071
Título: Casa Imperial, Corpo Tropical: Dramaturgia e Imaginário Recíproco entre Brasil e Portugal (1985-2017)
Autor: Figueira, Jorge Eduardo Louraço da Silva
Orientador: Oliveira, Fernando Matos de
Santos, Sérgio Ricardo de Carvalho
Palavras-chave: Casa vazia; cena de inventário; comunhão mórbida; corpo dividido; encontro original; personagem efígie; senhor/escravo; Empty house; inventory scene; morbid communion; divided body; original encounter; effigy character; master/slave
Data: 9-Mar-2022
Projeto: FCT SFRH/BD/73893/2010 
Local de edição ou do evento: Coimbra
Resumo: A dramaturgia de língua portuguesa produziu um imaginário recíproco de Brasil e Portugal em que a cena de um encontro original edénico, em território brasileiro, antecede uma luta de morte entre senhor e escravo, que caracterizaria até hoje os destinos coletivos português e brasileiro. As figuras de colonizador e de colonizado, ora bons, ora maus, deram forma à imaginação das individualidades étnicas portuguesa e brasileira. Aos portugueses foi associada a propriedade, tendo como símbolo a casa. Aos brasileiros o trabalho, nomeadamente o trabalho forçado, tendo como símbolo o próprio corpo. De facto, essa distinção simplificava a complexidade da hierarquia social herdada do império colonial, ocultando a segregação e a discriminação praticadas entre os cidadãos brasileiros (nativos, europeus e africanos), e ainda os elementos comuns à sociedade brasileira e à portuguesa (Rowland, 2005), bem como a possibilidade, deixada ao arbítrio da classe dominante, de ascensão (ou queda) social de pessoas ditas mestiças (Alencastro, 2018). Na segunda metade do Séc. XX, a consciência dessas contradições foi articulada em papéis paradoxais, de autonomia limitada, como o colonizador compassivo, o traidor herói, ou a prostituta amorosa, figuras do impasse identitário numa sociedade pós-colonial, modelos literários e teatrais que espelham as dualidades de Brasil e de Portugal, assinaladas pela Linha do Equador (Lourenço, 2014; Pasta, 2011; Santos, 1993; Schwarz, 1987). Desde a década de 1980, as cenas de teatro começaram a dissecar as figuras e lugares comuns da identidade luso-brasileira. Ganharam força os tópicos da casa vazia e do corpo dividido, em relação à casa portuguesa e ao corpo brasileiro; e proliferaram as cenas enumerativas, de inventário, e as figuras em transe, de efígie, mais do que os atos dramáticos e as personagens-tipo. Contemporâneas da migração de brasileiros para a Europa e da ideia de Lusofonia, essas mudanças puseram em causa aspetos emblemáticos da relação entre portugueses e brasileiros, projetando no futuro um destino que era até então tido como adiado para sempre ou concluído de vez, e revelando a escala e efeitos da colonização, da escravatura, da ditadura e, agora, também, da globalização na identidade comum imaginada. Apesar disso, as figuras portuguesa e brasileira continuaram assentes em arquétipos opostos, que regulam o estatuto social, funcionando como reprodutoras da imagem de uma comunhão mórbida entre Brasil e Portugal, variante da formação supressiva que Pasta (2011) identificou como característica da sociedade brasileira. Baseada em lugares comuns tomados à Antropofagia e ao Saudosismo, a Lusofonia seria apenas mais um de sucessivos tropicalismos (Leal, 2006; Margarido, 2000).
The Portuguese-language dramaturgy produced a reciprocal imagery of Brazil and Portugal in which the scene of an Edenic, original encounter, in Brazilian territory, precedes a fight to the death between master and slave, which characterizes the Portuguese and Brazilian collective destinies to this day. The figures of colonizer and colonized, sometimes good, sometimes bad, gave shape to the imagination of Portuguese and Brazilian ethnic individuals. Property was associated with the Portuguese, with the house as its symbol. For Brazilians, work, namely forced labor, with the body itself as a symbol. In fact, this distinction simplified the complexity of the social hierarchy inherited from the colonial empire, hiding the segregation and discrimination practiced among Brazilian citizens (Natives, Europeans and Africans), as well as the elements common to Brazilian and Portuguese society (Rowland, 2005 ), as well as the possibility, left to the discretion of the ruling class, of social rise (or fall) of so-called mestizo people (Alencastro, 2018). In the second half of the 20th century, awareness of these contradictions was articulated in paradoxical roles, of limited autonomy, such as the compassionate colonizer, the hero traitor, or the loving prostitute, figures of the identity impasse in a post-colonial society, literary and theatrical models that mirror the dualities of Brazil and Portugal, marked by the Equator Line (Lourenço, 2014; Pasta, 2011; Santos, 1994; Schwartz, 1987). Since the 1980s, theater scenes began to dissect the commonplaces and figures of the Luso-Brazilian identity. The topics of the empty house and the divided body gained strength in relation to the Portuguese house and the Brazilian body; and enumerative, inventory scenes and trance-like effigy figures proliferated more than dramatic acts and type-characters. Contemporary with the migration of Brazilians to Europe and the idea of Lusofonia, these changes called into question emblematic aspects of the relationship between Portuguese and Brazilians, projecting into the future a destination that was until then considered to be postponed forever or concluded for good, and revealing the scale and effects of colonization, slavery, dictatorship, and now also globalization on the imagined common identity. Despite this, the Portuguese and Brazilian figures continued to be based on opposing archetypes, which regulate social status, functioning as reproducers of the image of a morbid communion between Brazil and Portugal, a variant of the suppressive formation that Pasta (2011) identified as a characteristic of Brazilian society. Based on common places taken from Antropofagia and Saudosismo, Lusofonia could be just one of successive tropicalisms (Leal, 2006; Margarido, 2000)
Descrição: Tese de Doutoramento em Estudos Artísticos, Estudos Teatrais e Performativos apresentada ao Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
URI: https://hdl.handle.net/10316/105071
Direitos: openAccess
Aparece nas coleções:UC - Teses de Doutoramento
FLUC Secção de Artes - Teses de Doutoramento

Ficheiros deste registo:
Ficheiro Descrição TamanhoFormato
Tese DEFINITIVA 30 03 2022.pdf27.47 MBAdobe PDFVer/Abrir
Mostrar registo em formato completo

Visualizações de página

115
Visto em 7/mai/2024

Downloads

621
Visto em 7/mai/2024

Google ScholarTM

Verificar


Todos os registos no repositório estão protegidos por leis de copyright, com todos os direitos reservados.