Tentáculos da dependência: Uma análise histórica da cooperação para o desenvolvimento francesa

Abstract

This research seeks to understand the evolution of the French Development Cooperation mechanisms as a means of maintaining its influence in post-colonial French-speaking Africa as well as an instrument at the service of the economic development of France, to the detriment of the former colonies. Based on the theoretical-methodological framework of the dependency theories, this research assumes the development policy that emerged in the 1945s, was a strategy to benefit from the resources of these territories in their post-war reconstruction program as well as an attempt to strengthen ties with colonial territories on the eve of the decolonization of the 1960s. In the post-colonial period, when the formal colonization came to an end, France had to find new arrangements to maintain its presence and therefore its power. In this context, development cooperation was then considered as a means to justify the continuity of the French presence in these territories. In this sense, this dissertation argues that, since its emergence, there is a logic of neocolonial domination in the practices of French aid for development in French-speaking Africa. Therefore, implicating the formal independence granted to these territories did not culminate in the end of the French historical guardianship in this region. In other words, decades after the formal independence and the end of the colonial empire, France still maintains a strong and diversified presence in this region while reinforcing their situation of underdevelopment and dependency.

Este trabalho busca entender a evolução do dispositivo de Cooperação para o Desenvolvimento francesa enquanto meio de manutenção da sua influência na África francófona pós-colonial bem como instrumento ao serviço do desenvolvimento econômico da França, em detrimento das ex-colônias. Com base no referencial teórico-metodológico das teorias da dependência, este trabalho parte da percepção de que a política de desenvolvimento, que emergiu a partir dos anos 1945, foi uma estratégia utilizada a fim de usufruir dos recursos destes territórios na sua política de reconstrução pós-guerra bem como uma tentativa de fortalecer os laços com os territórios coloniais nas vésperas da descolonização dos anos 1960. No período pós-colonial, quando a colonização formal chegou ao seu fim, a França teve que encontrar novos arranjos para manter a sua presença e, portanto, o seu poder. Neste âmbito, a cooperação para o desenvolvimento foi então considerada um meio para justificar a continuação da presença francesa nestes territórios. Neste sentido, este estudo argumenta que, desde a sua emergência, há uma lógica de dominação neocolonial nas práticas da ajuda para o desenvolvimento da França na África francófona, tendo, portanto, implicações na condição de subdesenvolvimento destes países. Para além, argumenta-se também que estas práticas contribuíram para que, de certa forma, a independência formal concedida a estes territórios não culminasse no fim da tutela histórica da França nesta região. Em outras palavras, décadas após a independência formal e, portanto, do fim do império colonial, a França ainda mantenha uma forte presença nesta região.