O Papel Mediador da Autocompaixão no Impacto de Experiências Adversas na Infância em Sintomas Depressivos e de Ansiedade Social, numa Amostra de Jovens Institucionalizados

Abstract

O principal objetivo deste estudo consistiu em compreender o papel mediador da autocompaixão na relação entre experiências adversas na infância, concetualizadas como memórias de ameaça, subordinação e desvalorização, e psicopatologia do tipo internalizante, nomeadamente ansiedade social e depressão, numa amostra de adolescentes institucionalizados. Cento e trinta e três jovens em situação de acolhimento, com idades compreendidas entre os 13 e os 18 anos, preencheram questionários de autorresposta permitindo avaliar experiências adversas na infância, autocompaixão, ansiedade social e depressão. Verificou-se que experiências adversas na infância se correlacionavam com menores níveis de autocompaixão e com maiores níveis de ansiedade social e depressão. Ao mesmo tempo, menos autocompaixão associou-se a maiores níveis de ansiedade social e depressão. Nas análises de mediação efetuadas verificou-se a existência de uma mediação parcial da autocompaixão na relação entre experiências adversas na infância e depressão. Esta mediação não se verificou na relação entre experiências adversas na infância e ansiedade social, embora a autocompaixão tenha sido um preditor significativo dessa sintomatologia. Por seu lado, o género, introduzido no modelo como covariável, revelou-se um preditor significativo de ansiedade social (o género feminino parece associar-se a maior risco de desenvolver este tipo de sintomatologia), o que não se verificou para a depressão. Estes resultados apontam para um papel significativo de menores níveis de autocompaixão no desenvolvimento de sintomatologia depressiva e da ansiedade social,sugerindo que intervenções focadas no seu aumento possam ter um papel determinante na prevenção de psicopatologia e aumento de bem-estar, em especial neste tipo de população de risco. Este papel pode ser especialmente relevante no desenvolvimento de sintomatologia depressiva, como forma de atenuar o impacto de experiências adversas na infância.

A recent meta-analysis estimates the prevalence of clinical anxiety and depression in adolescents, to be 25% and 21%, respectively (Racine et al., 2021). Adverse childhood experiences are one of the main risk factors for the development of anxiety and depression symptoms (Goldenson et al., 2021). Therefore, institutionalized adolescents are at a greater risk of developing said psychopathology (Tanaka et al., 2011). Conversely, self-compassion seems to have an important role in diminishing psychopathology (Callow et al., 2021). This cross-sectional study aims to study the potentially mediating role of self-compassion between adolescent’s psychopathology and their adverse childhood experiences. One hundred and thirty-three adolescents in foster care, aged between 13 and 18, completed measures of adverse childhood experiences, self-compassion, social anxiety, and depression. Correlational analysis indicated that adverse childhood experiences were associated with lower self-compassion and higher social anxiety and depression. In contrast, higher self-compassion correlates to lower levels of social anxiety and depression. Results of this analysis suggest a partial mediation role of self-compassion in the relationship between adverse childhood experiences and depression. However, no mediation was found regarding social anxiety, despite self-compassion being found to be a significant predictor of that psychopathology. Gender, included as a co-variable, was a significant social anxiety predictor, indicating that female adolescents seem more prone to develop it, despite levels of self-compassion. This finding was not true for depression. In conclusion, lower levels of self-compassion had a direct effect on increased levels of both psychopathologies, suggesting that therapies focused in promoting self-compassion may have an important role in the prevention of psychopathology and increased well-being, particularly in this kind of high-risk group. This role may be especially important as a way of lowering the effect of adverse childhood experiences in depressive symptoms.