Avaliação da influência das características histológicas e moleculares do cancro colo-rectal no padrão de crescimento histológico da metástase hepática

Abstract

Introdução: O cancro colorretal (CCR) é o terceiro tipo de cancro mais comum no mundo, ocupando o segundo lugar no que diz respeito à mortalidade. Estima-se que mais de 50% dos doentes com diagnóstico de CCR desenvolverão metástases hepáticas, constituindo essa a principal causa de morte para mais de 60% destes doentes. O objetivo deste estudo foi a partir de uma coorte de doentes com CCR e metástases hepáticas de CCR correlacionar as características primárias do CCR com as características das metástases hepáticas. Material e Métodos: O presente estudo retrospetivo observacional, incluiu dados clínicos e anatomopatológicos de doentes submetidos a cirurgia hepática curativa por diagnóstico de metástases hepáticas síncronas ou metácronas de CCR, no serviço de cirurgia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2017. A análise foi feita no SPSS, versão 27, e analisada ao nível de significância de 5%.Resultados: A amostra selecionada incluiu um total de 77 doentes. No que diz respeito ao tamanho do tumor primário, encontrou-se uma associação estatisticamente significativa entre o tamanho do tumor e o padrão de crescimento da metástase (p=0,002), verificando-se que, tumores com maiores dimensões dão origem a metástases com um padrão de crescimento não desmoplásico. A invasão linfovascular poderá prever acerca do tipo de metastização ser síncrona ou metacrona (p=0,043) revelando neste estudo que quando não se verifica ILV é certo que a metástase deva surgir de forma metácrona enquanto que quando ILV está presente a metástase deverá ser metácrona, com 57,1% de probabilidade. Na ausência de invasão linfovascular, o tempo necessário para aparecimento de metastização foi significativamente maior (p=0,011). Para além disso relativamente ao número de metástases este também foi significativamente maior (p=0,049) em tumores com ausência de ILV quando comparado com os tumores com ILV. Observou-se ainda que, tendencialmente (p=0,082) tumores primários com tipo de infiltrado inflamatório de alto grau têm metástases com um padrão de crescimento mais provavelmente desmoplásico (66,7%) enquanto que os tumores primários onde está presente infiltrado inflamatório de baixo grau influenciam um padrão da metástase hepática mais frequentemente não-desmoplásico (62,5%).Discussão/Conclusão: Conhecendo a importância da caracterização do padrão de crescimento da metástase no que diz respeito à resposta terapêutica, prognóstico mas também relativamente à sobrevida dos doentes, a possibilidade de prever informações histológicas através do tumor primário constitui uma mais valia na abordagem inicial do doente. Com este trabalho foi possível provar que existe a possibilidade de através de características do tumor primário (tamanho, localização, ILV e tipo de infiltrado inflamatório) inferir acerca das características da metastização hepática com impacto na doença e no seu tratamento.

Introduction: Colorectal cancer (CRC) is the third most common type of cancer in the world, ranking second in terms of mortality. It is estimated that more than 50% of patients diagnosed with CRC will develop liver metastases, which is the main cause of death for more than 60% of these patients. The aim of this study was from a cohort of patients with RCC and liver metastases from RCC to correlate the primary characteristics of RCC with the characteristics of liver metastases.Material and Methods: The present retrospective observational study included clinical and anatomopathological data of patients undergoing curative liver surgery for diagnosis of synchronous or metachronous liver metastases of CRC, in the surgery department of Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, between January 2013 and December 2017. The analysis was performed in SPSS, version 27, and analyzed at a significance level of 5%.Results: The selected sample included a total of 77 patients, 24 patients were excluded due to neoadjuvant chemotherapy and one patient due to lack of information. Regarding the size of the primary tumor, a statistically significant association was found between the size of the tumor and the pattern of metastasis growth (p=0.002), verifying that larger tumors are more likely to give rise to metastases. with a non-desmoplastic growth pattern. Lymphovascular invasion can predict whether the type of metastasis is synchronous or metachronous (p=0.043) revealing in this study that when ILV is not observed, it is certain that the metastasis must appear metachronously, whereas when ILV is present the metastasis must be metachronous, with 57.1% probability. In the absence of lymphovascular invasion, the time required for metastasis to appear is significantly longer (p=0.011), however, regarding the number of metastases, this is also significantly higher (p=0.049) when compared to tumors with ILV. It was also observed that (p=0.082) primary tumors with a high-grade inflammatory infiltrate type also tend to metastasize more likely with a desmoplastic growth pattern (66.7%) whereas primary tumors where there is an inflammatory infiltrate of low grade influence a more often non-desmoplastic pattern of liver metastasis (62.5%).Discussion/Conclusion: Knowing the importance that the different patterns of metastasis growth assume, namely regarding the knowledge of the molecular biology of metastasis and conditioning the development and optimization of new opportunities for therapeutic intervention, predicting this information from the primary tumor is an asset. With this work, it was possible to prove that there is a possibility, through the characteristics of the primary tumor (size, location, ILV and type of inflammatory infiltrate) to be able to infer about the characteristics of liver metastasis with an impact on the disease and its treatment.