Mastectomia bilateral como opção de tratamento de cancro da mama unilateral

Abstract

Introdução: Nas últimas duas décadas, verificou-se a prática crescente da mastectomia contralateral redutora de risco (MCRR), apesar das complicações documentadas e da evidência limitada dos seus benefícios. Constitui ainda um desafio discernir quais os fatores que conduzem as mulheres à realização desta intervenção e qual o seu benefício em termos de sobrevivência. Materiais e métodos: Foi realizada uma pesquisa de publicações entre 2010 e 2021 na base de dados PubMed, utilizando os termos MeSH “prophylactic mastectomy”, “unilateral breast neoplasms”, “contralateral mastectomy” e “breast neoplasms”.Resultados: Observa-se uma sobrestimação do risco de cancro da mama contralateral por parte das mulheres com cancro da mama unilateral, sendo fundamental a determinação correta desse risco, tendo em conta fatores modificadores como a história familiar e a presença de mutações em genes de suscetibilidade para o cancro da mama. O interesse na MCRR acentuou-se com a divulgação pelas figuras públicas de experiências com a cirurgia mamária profilática, com o desenvolvimento das técnicas de sequenciação genética, da reconstrução mamária e dos meios complementares imagiológicos. O aumento para o dobro do risco de complicações, a maior necessidade de re-intervenções precoces, o aumento do tempo de internamento, o atraso na terapêutica adjuvante, o impacto negativo no bem-estar físico, emocional e sexual são possíveis consequências associadas à realização da MCRR. A melhoria da sobrevivência com a MCRR é verificada apenas nas mulheres portadoras de mutação BRCA.Conclusão: A escolha da MCRR assenta numa interligação de fatores psicossociais, crenças e sentimentos. Por se tratar de uma intervenção extensa e com riscos associados, importa fazer-se uma abordagem multidisciplinar e adaptada a cada doente, permitindo a seleção das que realmente beneficiam da MCRR. Palavras-chave: mastectomia profilática redutora de risco, mastectomia bilateral, cancro da mama unilateral, cancro da mama contralateral, BRCA, reconstrução mamária.

Introduction: The last two decades have seen the increasing practice of risk-reducing contralateral mastectomy, despite documented complications and limited evidence of its benefits. It is still a challenge to discern which factors lead women to undergo this intervention and its benefit in terms of survival.Methods: Research of articles published between 2010 and 2021 was conducted in PubMed database using the MeSH terms "prophylactic mastectomy", "unilateral breast neoplasms", "contralateral mastectomy" and "breast neoplasms".Results: An overestimation of contralateral breast cancer risk is observed in women with unilateral breast cancer, and its correct determination is essential, considering modifying factors such as family history and the presence of mutations in breast cancer susceptibility genes. Risk-reducing contralateral mastectomy interest has increased with the dissemination of celebrities´s experiences with prophylactic breast surgery, the development of genetic sequencing techniques, breast reconstruction and breast imaging. A twofold increase in the risk of complications, increased need for early re-interventions, longer hospital stays, delay in adjuvant therapy, and negative impact on physical, emotional, and sexual well-being are possible consequences associated with performing risk-reducing contralateral mastectomy. Improved survival with this intervention is only seen in women carrying BRCA mutation.Conclusion: The choice of risk-reducing contralateral mastectomy is based on an interconnection of psychosocial factors, beliefs, and feelings. Because it is an extensive surgery with associated risks, it is important to take a multidisciplinary and tailored approach to each patient, allowing the selection of those who really benefit from this intervention. Keywords: prophylactic risk-reducing mastectomy, bilateral mastectomy, unilateral breast cancer, contralateral breast cancer, BRCA, breast reconstruction.