Space Invaders: Elementos flexíveis para apropriação [cri]ativa do espaço

Abstract

Sendo a sociedade um organismo em constante mudança, com indivíduos de complexidades jamais uniformes, o arquiteto deve considerar as multiplicidades do uso, já durante a prática projetual, se quiser conceber espaços com teor de uso democrático mais elevado. É importante considerar o utilizador como agente ativo no processo do ciclo de vida de um espaço, seja ele público ou privado. Através da sua vivência, ele deve sentir-se responsável e pertencente àquele ambiente, com a liberdade de modificá-lo de acordo com suas necessidades. No entender que a padronização da arquitetura não é o caminho para satisfazer mais e por mais tempo as pessoas que a habitam, percebe-se a flexibilidade como um forte aliado de ambientes contemporâneos. Através da transferência do poder de decisão para o utilizador, o arquiteto pode tornar mutável a configuração do espaço para que, até com as próprias mãos, o indivíduo reivindique seu direito à cidade, escolhendo o que lhe traz maior conforto naquele momento. Elementos amovíveis podem transformar esse utilizador, que antes era somente passivo, em ativo e até mesmo criativo, numa contínua cocriação do espaço com o projeto construído do arquiteto.Essa Dissertação tem por objetivo investigar como elementos flexíveis num espaço público podem ser catalisadores de apropriações [cri]ativas pelos seus utilizadores, e pretende fazê-lo por três vias. Primeiramente, pelo suporte teórico, com discussão dos conceitos de flexibilidade, apropriação e direito à cidade; seguido de uma análise de intervenções em espaços de uso público; e, por último, por um caso de estudo experimental: um projeto de objeto de mobiliário flexível para o claustro do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra (DARQ). Depois de implementado, o projeto é validado por registros, análises, fotos e conversas com os utilizadores. A proposta intitulada Space Invaders: UFO ocupa o Claustro e a Cidade tem como objetivo traçar uma relação entre escalas, do edifício para a cidade. Se tais peças estranhas no claustro do DARQ têm poder de instigar novos modos de ocupar, gerando oportunidades de transformação de uso, do espaço e de seus significados, como essa solução poderá ser interpretada numa grande escala urbana? Seguindo a lógica de repensar o conceito de direito à cidade na contemporaneidade, esta Dissertação quer, por fim, refletir como é possível incentivar utilizadores tão singulares de uma sociedade, a invadir o espaço, no sentido de dominar e se apoderar [cri]ativamente do que, na teoria, já é seu, mas que, diversas vezes, falha na prática.

Whereas society is an organism in constant change, with individuals of complexities that are never uniform, the architect must consider the multiplicities of use, since the design practice, if he wants to conceive spaces with a higher level of democratic use. It is important to consider the user as an active agent in the lifecycle process of a space, either when public or private. Through his experience, he must feel responsible and attached to that environment, with the freedom to modify it according to his needs.By understanding that the standardization of architecture is not the way to satisfy more and for a longer time the people who inhabit it, flexibility is perceived as a strong ally of contemporary environments. By transferring decision-making power to the user, the architect can change the configuration of the space so that, even with their own hands, the individual can claim his right to the city, choosing what is most comfortable at that moment. Movable elements can transform this user, who was previously only passive, into active and even creative, in a continuous co-creation of the space with the architect's built project.This dissertation aims to investigate how flexible elements in a public space can be catalysts for creative appropriations by its users, and it is intended to do so in three ways. Firstly, by theoretical support, with the discussion of the concepts of flexibility, appropriation and right to the city; followed by an analysis of interventions in public spaces; and, finally, by an experimental case study: a project of flexible elements for the cloister of the Department of Architecture of the University of Coimbra (DARQ). Once implemented, the project is validated by records, analyses, photos and conversations with users. The proposal entitled Space Invaders: UFO occupies the Cloister and the City, aims to draw a relationship between scales, from the building to the city. If such strange pieces in DARQ’s cloister have the power to instigate new ways of occupying space, generating opportunities to transform use, space and its meanings, how can this solution be interpreted on a large urban scale? Following the logic of rethinking the concept of the right to the city in contemporaneity, this dissertation wants, finally, to reflect on how it is possible to encourage the society's unique users, to invade space, in the sense of dominating and taking it over, which, in theory, is already theirs, but which, several times, fails in practice.