Comportamento Alimentar e Confinamento: A Importância dos Estados Emocionais Negativos e da Regulação Emocional

Abstract

Resumo: O confinamento, usado para prevenir a propagação da infeção Covid-19, contribuiu para a deterioração da saúde mental e de comportamentos alimentares pelo mundo. Com o presente estudo, para além de identificar as alterações numa amostra da população portuguesa, pretendeu-se contribuir para o esclarecimento das relações entre comportamentos alimentares, depressão, ansiedade, stress e dificuldades na regulação emocional. Os dados incluem uma amostra constituída por 458 sujeitos (318 mulheres; 140 homens) avaliados com recurso a uma bateria de escalas aplicadas online, nomeadamente Three-Factor Eating Questionnaire- R21, Modified Yale Food Addiction Scale Version 2.0, Escala de Dificuldades na Regulação Emocional- Versão Reduzida e Escala de Ansiedade, Depressão e Stress. Os resultados obtidos mostram que durante o confinamento os inquiridos aumentaram o número de refeições e o consumo de frutas e legumes. Evidenciam, ainda, que depressão, ansiedade, stress e dificuldades na regulação emocional se correlacionam com restrição cognitiva, alimentação emocional, descontrolo alimentar e comportamentos de dependência. Constatou-se que o stress e as dificuldades no controlo de impulsos constituem os melhores preditores da alimentação emocional, a ansiedade e a dificuldade no controlo de impulsos predizem o descontrolo alimentar e a falta de clareza emocional é uma variável preditora da restrição cognitiva. Verificou-se que a dificuldade no controlo de impulsos é uma variável mediadora na relação entre estados emocionais negativos e comportamentos alimentares. Reconheceu-se, ainda, o sexo como uma variável moderadora na relação entre ansiedade e descontrolo alimentar. Estas descobertas evidenciam a importância dos estados emocionais negativos e das dificuldades na regulação emocional nos períodos de confinamento, pois estas variáveis refletem-se em comportamentos alimentares pouco saudáveis.

Abstract: The lockdown, used to prevent the spread of the Covid-19 infection, contributed to the deterioration of mental health and eating behaviours around the world. The purpose of this study is to report the changes that occurred in Portugal, but also clarify the relationships between eating behaviours (as measured by Three-Factor Eating Questionnaire- R21; TFEQ-R21; and Modified Yale Food Addiction Scale Version 2.0; mYFAS 2.0), depression, anxiety and stress (as measured by Escala de Ansiedade, Depressão e Stress; EADS) and the difficulties in emotional regulation (as measured by Escala de Dificuldades na Regulação Emocional-Versão Reduzida; EDRE-VR). The data includes a sample of 450 subjects (318 females, 140 males) evaluated using an online survey. The results showed that subjects during lockdown ate more meals, including fruits and vegetables. Our data shows that the symptoms of depression, anxiety, stress and difficulties in emotional regulation are correlated with cognitive restraint, emotional eating, uncontrolled eating and food addiction. It was found that stress and difficulties in controlling impulses predicts emotional eating, anxiety and difficulties in controlling impulses predicts uncontrolled eating and lack of emotional clarity predict cognitive restriction. The relationship of negative emotional states and eating behaviours is mediated by difficulty in controlling impulses. We also found that sex moderates the relationship between anxiety and uncontrolled eating. These findings show the importance that negative emotions and emotional regulation difficulties have in periods of lockdown because they increase unhealthy eating behaviours.