Desprescrição em cuidados continuados e paliativos: uma scoping review

Abstract

Introdução: A inadequação terapêutica e a polifarmácia são fenómenos bastante prevalentes, assumindo particular importância no contexto dos cuidados continuados e paliativos. Isto porque, trata-se de uma população fragilizada, quer seja pelas comorbilidades, normal processo de envelhecimento, ou existência de uma doença limitadora da vida. Nesta sequência, também as suas necessidades sofrem flutuações que carecem de ser atendidas por forma a realizar uma prestação de cuidados de saúde eticamente aceitável. É neste sentido que surge o conceito de desprescrição, foco desta dissertação, alicerçado aos cuidados centrados no doente, procurando melhorar a adequação terapêutica através da suspensão ou redução de fármacos. Objetivo: Descrever o estado da arte do papel do enfermeiro, enquanto elemento da equipa multidisciplinar, na desprescrição no contexto dos cuidados continuados e paliativos. Métodos: Scoping review com base nas linhas orientadoras do Joanna Briggs Institute. A pesquisa bibliográfica foi efetuada nas bases de dados CINAHL, Scopus, Pubmed e Academic Search Complete em janeiro de 2021. A seleção dos estudos que integraram esta revisão foi realizada por dois revisores independentes, por forma a garantir maior fidelidade dos resultados extraídos. Resultados: Da pesquisa efetuada, 1726 publicações foram recolhidas e após a remoção dos duplicados foram selecionadas 39 para realizar a presente revisão mediante as questões de investigação elaboradas. Para a questão 1: “Quais as intervenções de enfermagem na desprescrição em cuidados continuados e paliativos?” foram mapeadas intervenções agrupadas em 9 domínios: ação formativa, avaliação do doente, educação em saúde, revisão terapêutica, relação terapêutica, liderança/ coordenação, gestão de cuidados, investigação e sensibilização. Da questão 2: “Quais as ferramentas de apoio usadas, ou mencionadas como passiveis de ser usadas, por enfermeiros na desprescrição?” foram associadas ferramentas aos 5 domínios identificados: Identificação de potenciais fármacos a desprescrever, adequação do regime terapêutico, fundamentar a retirada de um fármaco, avaliação de processo e resultados e por fim recetividade dos doentes face à desprescrição.Conclusões: Dos domínios identificados, bem como das respetivas intervenções e ferramentas elencadas, foi possível depreender que o enfermeiro detém um vasto campo de atuação na desprescrição em cuidados continuados e paliativos, enquanto elemento da equipa multiprofissional. Assim sendo, esta revisão apresenta-se como um ponto de partida para a implementação deste conceito na prática de enfermagem de forma sustentada.

Introduction: medication appropriateness and polypharmacy are a prevalent phenomenon, assuming particular importance in the context of long-term care and palliative care. In these settings we face a fragile population, whether due to comorbidities, normal aging process, or the existence of a life-limiting disease. So, their needs also suffer fluctuations that must be addressed to provide a health care service that is ethically acceptable. Here arises the concept of deprescribing, the core of this dissertation, based on patient-centred care, to improve medication appropriateness through suspension or reduction of drugs.Objective: To describe the state of the art of the nurse's role, as a member of the multidisciplinary team, on deprescribing, in the context of long-term care and palliative care.Methods: Scoping review based on Joanna Briggs Institute guidelines. The literature search was carried out in January.2021 at the following databases: CINAHL, Scopus, Pubmed and Academic Search Complete. The selection of the studies for this review was conducted by two independent reviewers, to ensure consistency of the extracted results.Results: Through this research, 1726 publications were collected and, after removing the duplicates, 39 were selected to became part of this review, based on the research questions. For question 1: "Which ones are nursing interventions on deprescribing in long-term care and palliative care?", interventions were mapped and categorized into 9 domains: educational training, patient assessment, health education, medication review, therapeutic relationship, leadership/coordination, care management, research, and awareness. From question 2: "What support tools are used, or mentioned as likely to be used, by nurses in deprescribing?", 5 domains emerged in association with the identified tools: potential drugs to be deprescribed, medication appropriateness, support for suggestion/discussion the suspension of a drug, evaluation of the process and results and, finally, patients' receptivity towards deprescribing.Conclusions: From the identified domains, as well as the respective interventions and tools listed, it was possible to infer that the nurse has a wide field of action on deprescribing in long-term care and palliative care, as a member of the multidisciplinary team. Therefore, this review is presented as a starting point for the implementation of this concept in nursing practice, with a sustained approach.