Dificuldades de médicos de família na (des)prescrição de benzodiazepinas

Abstract

Introdução: Em Portugal, o consumo de psicofármacos, nomeadamente de benzodiazepinas, é quase o dobro do consumo médio europeu. Grande parte das prescrições de benzodiazepinas (BZD) são levadas a cabo por médicos de família, uma vez que são médicos acessíveis mais à população geral. Assim sendo, é essencial avaliar a perspetiva destes profissionais para perceber como otimizar o consumo de BZD em Portugal. Objetivo: O objetivo deste estudo consiste em aferir as dificuldades dos médicos de família na prescrição e descontinuação de BZD em Portugal.Métodos: Os dados foram colhidos através de um questionário enviado a médicos de família de todo o país por correio eletrónico e outras plataformas digitais. Os participantes foram médicos internos e especialistas em MGF, tendo sido obtida uma amostra de conveniência de 274 médicos. O questionário, previamente estruturado, continha três perguntas abertas e vinte e cinco afirmações a classificar através de uma escala de Likert, baseadas nas barreiras identificadas na literatura. Para a análise quantitativa utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®) e a análise qualitativa foi feita através do software de facilitação de análise de dados MAXQDA® 2020.Resultados: Foram identificadas dificuldades relacionadas com: crenças/atitudes do doente e comunicação médico-doente (as mais referidas), meios e estratégias de prescrição e desprescrição, dependência e tolerância, efeitos indesejados das BZD, necessidade de BZD e falta de alternativas/recursos, comunicação médico-médico e papel do médico de família. Discussão: A abordagem qualitativa utilizada neste estudo foi essencial, já que a temática do estudo não se encontra muito explorada em Portugal. Uma mais-valia do estudo é a inclusão de internos de Medicina Geral e Familiar. O facto de o questionário não ter sido formalmente validado por entidades independentes e a amostra ser de conveniência podem ser apontados com as principais limitações do estudo.Conclusão: Ao delinear as principais dificuldades dos médicos de família portugueses na prescrição e descontinuação de BZD, nomeadamente as relacionadas com crenças e atitudes e falta de meios e recursos, sugerem-se estudos que aprofundem estes tópicos e permitam desenvolver estratégias adequadas para otimizar o processo da (des)prescrição de BZD.

Introduction: In Portugal, the consumption of psychotropic drugs, namely benzodiazepines, is almost double the average European consumption. Most of the prescriptions for benzodiazepines (BZD) are carried out by family doctors, since they are doctors more accessible to the general population. Therefore, it is essential to assess the perspective of these professionals to understand how to optimize the consumption of BZD in Portugal.Objective: The objective of this study is to assess the difficulties of family doctors in prescribing and discontinuing BZD in Portugal.Methods: The data was collected through a survey sent to family doctors across the country by email and other digital platforms. The participants were interns and specialists in family medicine and a convenience sample was obtained of 274 physicians. The survey, previously structured, contained three open questions and twenty-five statements to be classified using a Likert scale. For the quantitative analysis, the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®) program was used and the qualitative analysis was performed using the MAXQDA® 2020 data analysis facilitation software.Results: Difficulties related to: patient's beliefs/attitudes and doctor-patient communication (the most mentioned), means and strategies of prescription and discontinuation, dependence and tolerance, unwanted effects of BZDs, need for BZD and lack of alternatives/resources, doctor-doctor communication and role of the family doctor were identified.Discussion: The qualitative approach used in this study was essential, since the theme of the study is not widely explored in Portugal. An added value of the study is the inclusion of interns in General and Family Medicine. The fact that the questionnaire has not been formally validated by independent entities and the convenience sample can be pointed out as the main limitations of the study.Conclusion: When outlining the main difficulties of Portuguese family doctors in the prescription and discontinuation of BZD, namely those related to beliefs and attitudes and lack of means and resources, studies are suggested that deepen these topics and allow the development of appropriate strategies to optimize the process of ( des) BZD prescription.