Queratoconjuntivite vernal, da fisiopatologia ao tratamento

Abstract

A Queratoconjuntivite vernal (QCV) é uma doença alérgica inflamatória crónica ocular, que afeta sobretudo crianças do sexo masculino. A sua etiopatogenia exata permanece desconhecida, mas reconhece-se a importância da interação entre fatores genéticos, ambientais e imunológicos. A suspeita clínica surge perante sinais clássicos, como a hipertrofia papilar no tarso superior e limbo esclerocorneano, acompanhada de hiperémia da conjuntiva bulbar e secreções mucosas espessas. Em casos graves, há envolvimento da córnea, com dor ocular, fotofobia e possível afeção da visão. A investigação da sensibilização alérgica permite identificar alguns dos mecanismos intervenientes e delinear uma estratégia de atuação, que só tem potencial curativo quando inclui a imunoterapia específica com alergénios. Geralmente, a resposta a antialérgicos tópicos é parcial, requerendo agentes anti-inflamatórios, como corticosteróides ou imunomoduladores, quando há recorrência e cronicidade das manifestações. Fármacos como o omalizumab podem também ser úteis em casos graves e refratários, carecendo de investigação adicional. Apesar da sua reduzida prevalência, existe um claro incremento na incidência. Para uma otimização dos cuidados, é fundamental o esclarecimento do mecanismo fisiopatológico mais preponderante em cada doente. Só assim será possível a personalização do tratamento e do plano de cuidados. .

Vernal keratoconjunctivitis is a chronic inflammatory allergic eye disease, which affects mainly male children. Its exact etiopathogenesis remains unknown, but the importance of the interaction between genetic, environmental and immunological factors is recognized. The clinical suspicion arises in the face of classic signs, such as papillary hypertrophy in the upper tarsus and sclerocorneal limbus, accompanied by hyperemia of the bulbar conjunctiva and thick mucous secretions. In severe cases, the cornea is involved, with eye pain, photophobia and possible vision impairment. The investigation of allergic sensitization allows to identify some of the intervening mechanisms and to outline an action strategy, which only has a curative potential when it includes specific immunotherapy with allergens. Generally, the response to topical antiallergics is partial, requiring anti-inflammatory agents, such as corticosteroids or immunomodulators, when there is recurrence and chronicity of the clinical complaints. Drugs such as omalizumab can also be useful in severe and refractory allergic patients, but other biological agents and immunomodulators may be options to consider in future clinical trials. Despite its reduced prevalence, there is a clear increase in incidence. To optimize care, it is essential to clarify the most prevalent pathophysiological mechanism in each patient. Only that way it will be possible to personalize the treatment and the care plan. .