Do endometrioma ao carcinoma do ovário - mecanismos biológicos

Abstract

A possível transformação maligna que ocorre na endometriose está, à luz da evidência científica atual, maioritariamente limitada à endometriose ovárica, com origem em endometriomas. Estima-se que esta malignização ocorra em 0,3 a 1% dos casos de endometriose, ocorrendo 75% destes nos ovários. De facto, há um aumento da incidência de carcinoma do ovário nas mulheres com endometriose, os designados endometriosis-associated ovarian carcinomas (EAOC). Estes carcinomas são mais frequentemente dos subtipos carcinoma de células claras e carcinoma endometrioide.Existe evidência de um continuum ao longo do qual há uma progressão do endometrioma até à sua transformação maligna. Evidência histológica comprova a transição de endometrioma para endometrioma atípico, e deste para EAOC. Assim sendo, o endometrioma atípico é considerado como lesão precursora da maioria dos carcinomas do ovário de células claras e endometrioides, com origem em endometriomas.O microambiente ovárico tem um papel fundamental na transformação maligna do endometrioma. Estudos moleculares recentes demonstram que o desenvolvimento dos EAOC tem por base fatores como alterações inflamatórias, stress oxidativo, hiperestrogenismo e alterações génicas.Os EAOC tendem a ser diagnosticados em estadios mais precoces e em mulheres mais jovens comparativamente com os carcinomas do ovário não associados à endometriose.Não existe, atualmente, um consenso a nível internacional sobre qual a conduta a adotar perante endometriomas de pequenas dimensões e sem caraterísticas de suspeição. O tratamento deve ser individualizado tendo em conta a idade da doente, plano reprodutivo, caraterísticas do endometrioma e antecedentes cirúrgicos.

According to current scientific evidence, the possible malignant transformation that occurs in endometriosis is mostly limited to ovarian endometriosis, originated in endometriomas. It is estimated that this malignancy occurs in 0.3 to 1% of the cases of endometriosis, 75% of which occurs in the ovaries. In fact, there is an increased incidence of ovarian carcinoma in women with endometriosis, the so-called endometriosis-associated ovarian carcinomas (EAOC). These carcinomas are more often of the clear cell and endometrioid carcinoma subtypes.There is evidence of a continuum along which the endometrioma progresses into this malignant transformation. Histological studies have proved a transition from endometrioma to atypical endometrioma, and from this into EAOC. Therefore, atypical endometrioma is considered to be the precursor lesion of most clear cell and endometrioid ovarian carcinomas, originated in endometriomas.The ovarian microenvironment plays a fundamental role in the malignant transformation of the endometrioma. Recent molecular studies demonstrate that the development of the EAOC is based on factors such as inflammatory changes, oxidative stress, hyperestrogenism and genetic changes.The EAOC tend to be diagnosed at na earlier stage and in younger women when compared to ovarian carcinomas not associated with endometriosis.There is currently no international consensus on what to do when facing small and unsuspicious endometriomas. The treatment should be individualized considering the patient's age, her reproductive plan, characteristics of the endometrioma and surgical history.