Correlatos e factores de risco da depressão perinatal - abordagem multidimensional

Abstract

Introdução: A Depressão Perinatal (DP) constitui um grave problema de saúde pública, com consequências negativas não apenas para as mulheres, mas também para os seus filhos. A Associação Mundial de Psiquiatria e a Marcé Society tem recomendado a melhoria da sua deteção e prevenção com recurso a instrumentos que combinem sintomas e fatores de risco.Objetivo: Investigar os correlatos e fatores de risco da depressão perinatal numa abordagem multidimensional.Métodos: Estudo correlacional com 247 mulheres, recrutadas na Maternidade Bissaya Barreto, avaliadas no segundo trimestre de gravidez e no terceiro mês após o parto , com questionários validados para avaliar diversas variáveis, nomeadamente sociodemográficas, obstétricas, da história clínica, psicossociais, psicológicas (traços de personalidade, estratégias de regulação emocional cognitiva, estados emocionais e níveis de perturbação psicológica). Os níveis de depressão foram avaliados através da Escala de Rastreio da Depressão Perinatal/Pós-parto (ERDP; Pereira et al. 2013). Na estatística inferencial, realizada com o SPSS, começámos pelas análises de correlação de Pearson/Spearman, sendo que, sempre que os coeficientes se revelaram significativos (p<.05) avançámos para análises de regressão linear/logística.Resultados: No estudo transversal (utilizando variáveis independentes/VIs e dependente/VD avaliadas na gravidez), revelaram-se preditores significativos dos níveis de sintomatologia depressiva: história de depressão ao longo da vida/LV, história de outra perturbação psiquiátrica LV, acontecimento de stresse no último ano, qualidade da relação com o companheiro, perceção de apoio do companheiro, níveis de ansiedade, afeto negativo, perfeccionismo (socialmente prescrito) e pensamento repetitivo negativo. No estudo prospetivo, em que as VIs foram igualmente avaliadas na gravidez e a VD foi medida no pós-parto, todas estas variáveis, exceto acontecimento de stresse, também foram preditores significativos da sintomatologia depressiva no pós-parto. Neste período os níveis de depressão na gravidez e as crenças disfuncionais relacionadas com a maternidade (apenas avaliadas no pós-parto) também explicaram significativamente as pontuações na ERDP.Conclusão: Este estudo contribuiu para um melhor entendimento dos correlatos e fatores de risco da depressão perinatal, tendo-se confirmado a sua multidimensionalidade. O facto de os fatores de risco serem potencialmente modificáveis, aliado ao conhecimento obtido com a realização deste trabalho, fornece importantes pistas para a melhoria da deteção, prevenção e intervenção precoce da depressão perinatal (a implementar desde logo na gravidez).

Introduction: Perinatal depression is a serious public health issue, with negative consequences not only for the women who suffer from it, but also for their children. World Psychiatric association and Marcé Society recommend that the detection and prevention of perinatal depression should be improved with tools able to combine both symptoms and risk factors.Objective: Investigate correlates and risk factors of perinatal depression within a multidimensional approach.Methods: Correlational study with 247 women recruited from Bissaya Barreto Maternity. They were evaluated in the second trimester of pregnancy and in the third month after the childbirth . This evaluation was made with validated questionnaires for several variables: socio-demographics, obstetrics, clinical history, psychosocial and psychological - personality traits, cognitive emotional regulation strategies, emotional states and levels of psychological disturbance. Depression levels were evaluated with the Perinatal/Postpartum Depression Screening Scale (ERDP; Pereira et al. 2013). In inferential statistics (using SPSS) we started by calculating the Pearson/Spearman correlation and if the coefficients were significant (p<.05) then we would make the linear/logistic regression analysis.Results: In the cross-sectional study (dependent and independent variables were evaluated during pregnancy) have proved to be significant predictors of depressive symptomatology levels: lifetime history of depression, lifetime history of another psychiatric disorder, stress event in the last year, quality of relationship with the partner, perception of partner support, anxiety levels, negative affect, perfectionism (socially prescribed) and negative repetitive thinking. In the prospective study (independent variables evaluated during pregnancy and dependent variables evaluated in post-partum period) almost all these variables were significant predictors of depressive symptomatology in the postpartum period (stress event in the last year was the only exception). In this period the levels of depression in pregnancy and of dysfunctional beliefs related to motherhood (only evaluated in the postpartum period) also significantly explained the scores obtained on the Perinatal Depression Screening Scale.Conclusion: This study contributed to a better understanding of the correlates and risk factors of perinatal depression, having it´s multidimensionality being confirmed once again. The fact that risk factors are potentially modifiable, together with the knowledge obtained from the accomplishment of this work, gives us important clues for improving the detection, prevention and early intervention of perinatal depression (to be implemented early in pregnancy).