Relação entre Comportamento de Procura de Ajuda e Doença e Traços de Personalidade e Perturbação Psicológica

Abstract

O Comportamento de Doença (CD) pode ter um impacto dramático no grau em que a sintomatologia interfere com as rotinas diárias, a cronicidade do problema, a procura de cuidados de saúde apropriados e a adesão aos mesmos. O CD é influenciado por fatores biológicos, sociais e psicológicos, como traços de personalidade, estados emocionais e sua regulação. Com este estudo pretende-se investigar, se o pensamento perseverativo negativo e a perturbação psicológica (depressão, ansiedade e stresse) são mediadores da relação entre os traços de personalidade (neuroticismo, extroversão, otimismo e pessimismo) e o Comportamento de Doença e Procura de Ajuda (CDPA).Métodos: Uma amostra clinica composta por 462 doentes (78.1% mulheres; média de idade=44.49±15.588), recrutados em várias especialidades médicas (neurologia, cardiologia, oncologia, gastroenterologia, reumatologia, medicina interna e pneumologia), completaram a Escala de Comportamento de Procura de Ajuda e Doença (ECPAD-11)2 e outros questionários validados: Inventário de Personalidade de Eysenck (EPI-12)3, a Escala da Depressão, Ansiedade e Stresse (EDAS-21)4, o Questionário do Pensamento Perseverante (QPP-15)5, medida bidimensional de Otimismo e Pessimismo (OP2)6 e Escala de Perceção de Stresse (ESP-10)7.Resultados: O CD correlaciona-se significativamente (todos p<.001) e de forma moderada com as seguintes variáveis psicológicas: neuroticismo; extroversão; interferência cognitiva e improdutividade (ICI) e depressão/ ansiedade/ stresse. Todos os modelos de mediação múltipla mostraram um efeito indireto significativo do ICI e perturbação psicológica, como mediadores, da relação entre neuroticismo / extroversão / otimismo / pessimismo e o CD. Contudo, a relação entre o ICI e o CD foi de baixa magnitude, assim como a relação entre extroversão e perturbação psicológica.Discussão e conclusão: O neuroticismo e (a baixa) extroversão direta e indiretamente (via ICI e perturbação psicológica) influenciam o CD. Este estudo reforça que os traços de personalidade e dos estados emocionais devem ser tidos em conta na comunicação e relação médico-doente.

Illness behavior (IB) can have a dramatic impact on the extent to which symptoms interfere with usual life routines, chronicity of the problem, attainment of appropriate care and treatment adherence1. It is influenced by biological, social and psychological factors, such as personality traits, emotions and their regulation. The aim of the present study is to investigate if perseverative negative thinking and psychological distress (depression, anxiety and stress) are mediators of the relationship between personality traits (neuroticism, extroversion, optimism and pessimism) and IB.Methods: A clinical sample composed of 462 outpatients (78.1% women; mean age=44.49±15.588), recruited in several medical specialties (Neurology, Cardiology, Oncology, Gastroenterology, Rheumatology, Internal medicine, Pneumology), completed the Illness and Help-Seeking Behavior Scale (IHSBS-11)2 and other validated questionnaires: Eysenck Personality Inventory (EPI-12)3, Depression Anxiety and Stress Scale (DASS)4, the Perseverative Thinking Questionnaire (PTQ-15)5, the Optimism and Pessimism scale (OP-2)6 and the Perceived Stress Scale (PSS-10)7.Results: IB significantly (all p<.001) and moderately correlated with the psychological variables: neuroticism; extroversion; Cognitive Interference and Unproductivity (CIU) and Depression/Anxiety/Stress. All serial multiple mediation models showed a significant indirect effect of CIU and psychological distress, as mediators, in the relationship between neuroticism/extroversion and IB. However, the relationship between CIU and IB was of lower magnitude, as well as that of extroversion and psychological distress.Discussion and conclusion: Neuroticism and (low) extroversion directly and indirectly (via CIU and psychological distress) influence IB. This study emphasizes that the effects of personality traits and emotional states should be taken into account in the doctor-patient communication and relationship.