Terapêutica Híbrida como tratamento de 1ª linha na erradicação de Helicobacter pylori

Abstract

Introdução e objetivos: A erradicação da infeção por Helicobacter pylori adquiriu especial relevância desde que se percebeu o seu impacto no tratamento e prevenção das complicações a que se associa, nomeadamente a doença ulcerosa péptica e as neoplasias gástricas. A par disso, o atual contexto de crescente resistência antimicrobiana torna prioritário encontrar novas soluções terapêuticas que permitam reduzir a taxa de insucesso da sua eliminação. Este estudo propôs-se, nesse sentido, a avaliar a eficácia do esquema híbrido como tratamento primário de erradicação de doentes infetados por H. pylori. Material e métodos: O estudo retrospetivo realizado incluiu um total de 61 indivíduos (sexo masculino – 50,8%; mediana de idades – 56 anos, variando entre 18 e 87) infetados por H. pylori e submetidos ao esquema híbrido como tratamento primário de erradicação, entre os anos 2012 e 2019. A par da confirmação de erradicação da bactéria, por teste respiratório da Urease, foram ainda considerados fatores demográficos e clínicos dos doentes, bem como o seu papel na eliminação desta infeção. Resultados: Do total de indivíduos, 27,9% apresentavam hábitos etílicos e 11,5% apresentavam hábitos tabágicos. A dislipidemia, presente em 36,1% dos indivíduos, e a doença cardiovascular (em 32,8%) evidenciaram-se como as comorbilidades mais frequentes. No global, 14,8% dos doentes apresentavam antecedentes familiares de carcinoma gástrico. O esquema híbrido permitiu a erradicação da infeção por H. pylori em 57 doentes do total de 61, com intention-to-treat de 93,4% (IC a 95% de 84,3 a 97,3%) e per-protocol de 93,2% (IC a 95% de 83,8 a 97,2%). Quando avaliada a eficácia terapêutica em função de fatores demográficos e clínicos dos doentes, como o género masculino (p=0,354), os consumos etílicos (p=0,569) e tabágicos (p=1,000), a existência de outras patologias associadas (p=1,000 na dislipidemia e p=0,293 na doença cardiovascular), a adesão ao esquema de tratamento instituído (p=1,000) e ainda o desenvolvimento de efeitos secundários (p=1,000), verificou-se a inexistência de diferenças estatisticamente significativas. A par disso, não se encontraram fatores preditivos de falência terapêutica. Do total de doentes, apenas 12 desenvolveram efeitos secundários, 3 dos quais de carácter grave. Contudo, apenas 2 dos doentes com efeitos secundários pertencem ao grupo de não adesão à terapêutica. Conclusões: A implementação do esquema híbrido como tratamento primário de erradicação da infeção por H. pylori permitiu a sua eliminação na maioria dos doentes, com uma reduzida percentagem de falência, evitando assim o recurso a esquemas terapêuticos de resgate.

Introduction: Eradication of Helicobacter pylori (H. pylori) infection has become very relevant since the elimination of this bacterium has a major impact in its complications, namely peptic ulcers disease and gastric neoplasms. Moreover, in the current circumstances of an increased antimicrobial resistance, discovering new treatment solutions that allow to reduce eradication’s rate of failure, turned out in a priority. This study aimed to evaluate the hybrid treatment’s efficiency as primary eradication’s regimen in H. pylori infected patients. Patients and methods: This retrospective study included 61 patients (male gender – 50.8%; median age – 56 years, ranging among 18 and 87) infected by H. pylori and submitted to hybrid therapy as a first-line eradication treatment, between 2012 and 2019. Beyond confirmation of the bacteria’s eradication, using urea breath test, demographic and clinical features were considered as well as their role in treatment’s efficiency. Results: From the whole sample, 27.9% of the individuals presented alcohol habits and 11.5% were smokers. Dyslipidemia, detected in 36.1% of the patients, and cardiovascular disease (in 32.8%) appeared as the most frequent comorbidities. Overall, 14.8% of the patients had relatives with positive gastric carcinoma’s history. Hybrid therapy allowed the eradication of H. pylori in 57 of 61 patients on an intention-to-treat basis of 93.4% (CI 95% from 84.3 to 97.3%) and per-protocol of 93.2% (CI 95% from 83.8 to 97.2%). When the treatment efficiency was evaluated considering the leverage of demographic and clinical patient’s aspects, specifically male gender (p=0.354), alcohol (p=0.569) and smoking (p=1.000) habits, the existence of comorbidities (p=1.000 in dyslipidemia and p=0.293 in cardiovascular disease), compliance to the therapy established (p=1.000) and the ensuing development of adverse effects (p=1.000), no statistically significant differences were found. Furthermore, there were no features associated to treatment failure. From the whole of patients, only 12 developed adverse effects, 3 of which were severe. Nevertheless, only 2 of the individuals with side effects belong to the group of non-compliance to the treatment. Conclusions: The establishment of hybrid therapy as first-line treatment in the eradication of H. pylori’s infection provided its elimination in the most part of the patients with a reduced rate of failure, avoiding the application of rescue therapy regimens.