Burnout em gastrenterologistas: uma análise a nível nacional

Abstract

Introdução e Objetivos: O termo burn-out ou burnout, oriundo do inglês, significa “queimar até à exaustão”, tendo sido proposto pela primeira vez pelo professor e psicanalista americano, nascido na Alemanha, Herbert Freudenberger. Burnout é, segundo a definição de Freundenberg, um “estado de exaustão física e mental condicionado pela atividade profissional do próprio indivíduo” que se manifesta por um conjunto de sinais e sintomas associados ao colapso físico e emocional que advêm da total exaustão energética, recursos ou forças disponíveis na realização de tarefas de “ajuda” a outros.O presente estudo propôs-se a analisar a prevalência de burnout, a nível nacional, em gastrenterologistas portugueses. O estudo teve como objetivos: (1) avaliar a prevalência de burnout nos gastrenterologistas portugueses, (2) analisar de que forma determinadas variáveis sociodemográficas e profissionais podem estar associadas ao aparecimento de burnout e (3) caracterizar o perfil dominante dos gastrenterologistas com síndrome de burnout.Material e Métodos: Trata-se de um estudo observacional descritivo, prospetivo e multicêntrico com análise de dados relativos a uma amostra de 52 médicos gastrenterologistas a nível nacional, no período entre 5 de Fevereiro de 2019 e 13 de Abril de 2019. Procedeu-se a uma estimativa dos níveis de burnout pelo questionário de Copenhagen Burnout Inventory (CBI) validado para a população portuguesa - CBI-PT. Foram analisadas associações de várias variáveis sociodemográficas e socioprofissionais.Resultados: Mais de metade dos gastrenterologistas inquiridos não apresentou burnout em todas as subescalas do CBI. Na dimensão pessoal foram registados 13 gastrenterologistas com burnout moderado e 11 com burnout elevado. Em relação à dimensão do trabalho, foram registados 18 gastrenterologistas com burnout moderado e 7 com burnout elevado. Na dimensão em relação ao doente foram registados 21 gastrenterologistas com burnout moderado e 3 com burnout elevado. Não foram registados casos de burnout severo. Os médicos que desenvolveram burnout são significativamente mais novos (p<,001), têm menor tempo de serviço (p=,007), dedicando menos tempo ao lazer (p=,024). Os médicos internos de especialidade apresentam uma maior prevalência de burnout, estando esta categoria profissional significativamente associada a um maior nível de desgaste profissional (p=,016). Damesma forma, a realização de determinados exames (laqueação elástica de varizes e cápsula endoscópica) mostrou estar associado a uma maior prevalência de burnout.Discussão e Conclusão: Identifica-se maior prevalência de burnout em médicos gastrenterologistas jovens, internos da especialidade, a realizar técnicas de maior volume (endoscopia digestiva alta e colonoscopia), que trabalham ao fim de semana, e que são arguidos em processos médico-legais. Assim, conclui-se que se estes médicos jovens não adquirirem ferramentas que lhes permitam lidar com este problema, é previsível que esta patologia venha a atingir valores críticos nos médicos gastrenterologistas, com evolução para doença psiquiátrica, como a depressão e ansiedade, e consequente reflexo negativo nos cuidados de saúde ao doente.

Introduction and Objectives: The term burnout means “burn to exhaustion”, which was proposed for the first time by the german-american professor and psychoanalyst Herbert Freudenberger. Burnout is, by Freundenberg’s definition, a “state of physical and mental exhaustion conditioned by one’s own professional activity” manifested by a set of signs and symptoms associated with physical and emotional breakdown arising from the total energy exhaustion, resources or forces available to perform tasks to help others.This study aimed to analyze the national prevalence of burnout in portuguese gastroenterologists. The study aimed to: (1) evaluate the prevalence of burnout in portuguese gastroenterologists, (2) analyze how certain sociodemographic and professional variables may be associated with the onset of burnout and (3) characterize the typical profile of gastroenterologists with burnout.Material and Methods: This is a descriptive, prospective, multicenter observational study with data analysis of a sample of 52 national gastroenterologists from 5 February 2019 to 13 April 2019. An estimate of burnout levels was done by the portuguese validation of Copenhagen Burnout Inventory (CBI). Associations of various sociodemographic and socio-professional variables were analyzed.Results: More than a half of the gastroenterologists surveyed did not present levels of burnout on all CBI subscales. In the personal burnout, 13 gastroenterologists were identified with moderate burnout and 11 with high burnout. In the patient-related burnout, 21 gastroenterologists were registered with moderate burnout and 3 with high burnout. There were no cases of severe burnout. Physicians who developed burnout are significantly younger (p<,001) and have shorter service (p=,001) and less leisure time (p=,024). The professional category is significantly associated with a higher level of professional exhaustion (p=,016), since medical residents have higher prevalence of burnout. Similarly, the performance of certain exams (Elastic ligation of esophageal varices and endoscopic capsule) was associated with higher prevalence of burnout.Discussion and Conclusion: A higher prevalence of burnout is identified in younger gastroenterologists, medical residents, performing upper digestive endoscopy and colonoscopy, who work at the weekend, and who are accused in medical-legal proceedings. If these young doctors do not acquire tools to deal with this problem, it is predictable that this pathology will reach critical values in gastroenterologists, with negative effects on health care.