Impacto na participação do doente após AVC

Abstract

Introdução: O Acidente Vascular Cerebral (AVC), embora em claro declínio, é a primeira causa de morte em Portugal e a segunda em todo o mundo. Com a redução da mortalidade, os sobreviventes vão apresentar alguma forma de incapacidade crónica com impacto social, nomeadamente a participação. Métodos: Realizou-se um estudo observacional analítico, prospetivo, transversal e multicêntrico. Foram avaliados 12 participantes, com idades compreendidas entre os 45 e 80 anos de idade e com AVC há mais de 6 meses. Foi pedido a cada um dos participantes que respondesse aos questionários: 1- Questionário Sociodemográfico; 2- Perfil de Atividades e Participação relacionado com a Mobilidade (PAPM); 3- EQ-5D; 4- Medida de Escala Funcional (MIF). Efectuou-se o estudo estatístico recorrendo ao SPSS 25 para Windows. Recorreu-se aos testes Shapiro-Wilk para avaliação da normalidade das variáveis quantitativas. Para avaliar a existência de correlação entre variáveis quantitativas determinou-se o coeficiente de correlação de Spearman e aplicou-se o teste à sua significância. De forma a comparar variáveis quantitativas entre dois grupos, aplicou-se o teste Mann-Whitney. Resultados: Verificou-se que os doentes que apresentavam maior independência funcional (MIF) se associavam a menor dificuldade de participação (PAPM) (rs(12)=-0.970, p<0.001). Entre as 2 componentes da escala MIF (Motora e Cognitiva) e a participação (PAPM) constatou-se que a componente Motora estaria mais fortemente relacionada (rs(12)=-0.944, p<0.001) com a participação do que a componente Cognitiva (rs(12)=-0.642, p=0.024), sendo as 2 componentes independentes entre si (rs(12)=0.535, p=0.073). Observou-se também que a menor qualidade de vida (EQ-5D) estava relacionada com maiores dificuldades de participação na escala PAPM (rs(12)=-0.670, p=0.017). Constatou-se ainda que os doentes que frequentavam programas de reabilitação estavam associados a maiores dificuldades de participação na escala PAPM (p=0.100). O grupo com maior dificuldade de participação (PAPM), estava ainda associado à necessidade de cuidador (p=0.028), não se observando relação entre os níveis de participação (PAPM) e o lado de apresentação da lateralidade (p=1.000). Discussão: No presente estudo, a capacidade funcional mostrou um importante factor de relação com a participação, mais propriamente na componente motora da escala MIF. Observou-se também que os sobreviventes de AVC com piores níveis de participação estariam associados a programas de reabilitação, pior qualidade de vida e a maior necessidade de cuidador, sem que se verificasse relação com o lado de apresentação da lateralidade Conclusão: Os sobreviventes de AVC que apresentem pior funcionalidade, principalmente na componente motora da escala MIF, que necessitem de cuidador e com piores níveis de qualidade de vida, estão associados a piores níveis de participação social.

Introduction: Although stroke cases are in clear decline, it still is the leading cause of death in Portugal and the second in the world. With the reduction in mortality, survivors will present some form of chronic disability with social impact, namely social participation. Methods: An observational, analytical, cross-sectional, and multicenter study was carried out. Twelve (12) participants were selected, aged between forty-five (45) and eighty (80) years of age and with a stroke for more than six (6) months. Each participant was asked to answer each one of the following questionnaires: 1 - Sociodemographic Questionnaire; 2 - Profile of Activities and Participation related to Mobility (PAPM); 3 - EQ-5D; 4 - Functional Independence Measure (FIM). Shapiro-Wilk tests were used to assess the normality of quantitative variables. To assess the existence of correlation between quantitative variables, Spearman's correlation coefficient was determined, and the test was applied to its significance. In order to compare quantitative variables between two groups, the Mann-Whitney test was applied. Results: It was found that greater functional independence (FIM) corresponded to less difficulty in participation (PAPM) (rs (12) = - 0.970, p <0.001). Between the components of the FIM and participation (PAPM) it was found that the Motor component would be more strongly related (rs (12) = - 0.944, p <0.001) than the Cognitive component (rs (12) = - 0.642, p = 0.024), these being independent from each other (rs (12) = 0.535, p = 0.073). It was also observed that the lower quality of life (EQ-5D) was related to greater difficulties in participating in the PAPM scale (rs (12) = - 0.670, p = 0.017). It was also found that the population related with rehabilitation programs was associated with greater difficulties in participation within the PAPM scale (p=0.100). The group with the greatest difficulty in participation (PAPM) was also associated with the need for a caregiver (p = 0.028), with no relation between the levels of participation (PAPM) and the side of lateralization (p = 1,000). Discussion: In the present study, functional capacity showed an important relation factor with participation, specifically in the motor component of FIM scale. It was also observed that stroke survivors with worse levels of participation would be associated with rehabilitation programs, worse quality of life and greater need for caregivers, without any relation with the lateralization side. Conclusion: Stroke survivors who have worse functionality, especially in the Motor subscale, who need a caregiver and with worse levels of quality of life, are associated with worse levels of social participation.