Relação entre o tempo de privação auditiva e os outcomes na qualidade de vida em doentes pós-implante coclear

Abstract

Introdução: Os implantes cocleares (IC) estão indicados no tratamento de défices auditivos neuro-sensoriais classificados de severos a profundos, quando já não há qualquer benefício na utilização de aparelhos auditivos convencionais. Ainda que o objetivo principal dos IC seja a reabilitação auditiva, existem outras áreas positivamente afetadas, das quais é exemplo a qualidade de vida. Existem vários fatores que podem influenciar a qualidade de vida, entre os quais o tempo de privação auditiva. O papel desta variável ainda não está bem definido, desconhecendo-se o limiar para implantação e acreditando-se que este, por si só, não deve ser critério de rejeição desta opção terapêutica. Objetivo: Analisar a relação entre o tempo de privação auditiva e os outcomes em termos de qualidade de vida em doentes pós-implante coclear. Materiais e métodos: Trata-se de um estudo observacional retrospetivo com análise da resposta a um questionário sobre qualidade de vida – Questionário sobre Implantação Coclear de Nijmegen – Português Europeu (NCIQ-PE) de uma amostra de 20 doentes submetidos a implantação coclear no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Os doentes foram divididos em 3 grupos consoante o tempo de privação auditiva que experienciaram: <7 anos, >7 e <15 anos e >15 anos. O NCIQ-PE possui 6 subdomínios sendo que um valor mais alto indica um melhor outcome em termos de qualidade de vida. Resultados: Todos os subdomínios do NCIQ-PE apresentaram médias elevadas, sendo que a pontuação mais baixa correspondeu à autoestima e a mais alta à produção de fala. Comparando os escalões etários acima e abaixo dos 60 anos, não houve diferenças significativas entre género (p=.591), anos de privação auditiva (p=.768) e qualidade de vida. O coeficiente de correlação de Spearman mostrou não haver correlação significativa entre a duração da privação auditiva e os subdomínios do NCIQ-PE. Discussão: A qualidade de vida tem ganho cada vez mais importância na literatura atual, ultrapassando a avaliação única dos resultados audiológicos. Os nossos resultados dos subdomínios no NCIQ-PE são sobreponíveis aos encontrados na literatura referente ao momento pós implantação. Demonstramos que a idade não é um fator preditor da qualidade de vida, premissa corroborada por alguns estudos e contradita por outros. Observamos também que não há correlação entre o tempo de privação auditiva e os resultados dos subdomínios do NCIQ-PE, conclusão partilhada por alguns estudos mas não por outros. A pequena amostra pode ter condicionado resultados não extrapoláveis para a generalidade dos utilizadores de IC.Conclusão: A idade e o tempo de privação auditiva não foram preditores da qualidade de vida. Os resultados encontrados na literatura são contraditórios e exigem maior investigação.

Introduction: Cochlear implants (CI) are indicated for the treatment of severe to profound sensorineural hearing loss when there is no longer any benefit in the use of conventional hearing aids. Although the main role of CI is auditory rehabilitation, there are other areas positively affected, of which quality of life is an example. There are several factors that can influence the quality of life, including the hearing deprivation time. The role of this variable is not yet well defined and the threshold for implantation is unknown so there is the belief that this should not be criteria, only by itself, for rejecting this therapeutic option. Objective: Analyse the relationship between the hearing deprivation time and the outcomes in quality of life in patients post cochlear implant. Material and Methods: This is a retrospective observational study with analysis of the answers to a questionnaire on quality of life – Nijmegen Cochlear Implant Questionnaire – European Portuguese (NCIQ-PE) of a sample of 20 patients who underwent cochlear implantation at Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Patients were divided into 3 groups according to the duration of hearing deprivation they had experienced: <7 years, >7 e <15 years and >15 years. The NCIQ-PE has 6 subdomains with higher values indicating a better outcome in terms of quality of life.Results: All NCIQ-PE subdomains had high averages, with the lowest score corresponding to self-esteem and the highest to speech production. Comparing the groups above and below 60 years, there were no significant differences between gender (p=.591), hearing deprivation time (p=.768) and quality of life. Spearman’s correlation coeficient showed no significant correlation between the hearing deprivation time and the subdomains of the NCIQ-PE. Discussion: Quality of life is increasingly gaining importance in the current literature, surpassing the assessment of only audiological results. Our results of the subdomains in the NCIQ-PE superimpose those found in literature regarding the post-implantation moment. We demonstrated that age is not a predictor of quality of life, premise corroborated by some studies and contradicted by others. We also observed that there is no correlation between the hearing deprivation time and the results of the NCIQ-PE subdomains, conclusion shared by some studies but not by others. The small sample we used may have conditioned non-extrapolable results for the most CI users. Conclusion: Age and hearing deprivation time were not predictors of quality of life. The results found in literature are contradictory and require future investigation.