Obesidade e a sua implicação na fertilidade feminina

Abstract

Introdução: Existe uma prevalência crescente de obesidade a nível mundial, verificando-se uma correlação inversa entre o índice de massa corporal e a probabilidade de conceção. As mulheres obesas apresentam uma diminuição na taxa de gravidez e diminuição da taxa de nados-vivos. Objetivo: Analisar a evidência atual sobre o impacto da obesidade na fertilidade feminina, os principais tratamentos disponíveis e o seu efeito na fertilidade.Métodos: Trata-se de um artigo de revisão. Definiu-se como questão norteadora através do método PICO: Qual o impacto da obesidade na fertilidade feminina? A revisão baseou-se na consulta da produção científica nacional e internacional, sob a forma de artigos científicos publicados. A pesquisa foi realizada online, através do motor de busca PubMed. Foram utilizados os termos MeSH: “female infertility”, “obesity”, “adipose tissue”, “oocyte” e “treatment” e o booleano AND, em diferentes combinações. Selecionaram-se 41 artigos, que constituem a amostra deste estudo, através da análise do título, resumo e da leitura integral.Resultados: O impacto da obesidade faz-se sentir a nível do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, ovócito e endométrio. As hormonas implicadas nestas alterações são as adipocinas, os esteróides sexuais e a insulina. No eixo hipotálamo-hipófise-ovário, a obesidade afeta a libertação da hormona luteinizante e a amplitude da sua síntese hipofisária, alterando a qualidade dos ovócitos, o recrutamento ovocitário e o desenvolvimento endometrial, podendo ainda afetar a função do corpo lúteo. Os ovários são sensíveis a níveis elevados de leptina, que inibem a androstenediona e esteroidogénese nas células da teca e da granulosa, das quais resulta um défice de maturação dos folículos e ciclos anovulatórios. No endométrio, a leptina pode também afetar a implantação, e a insulina tem sido implicada na regulação do desenvolvimento do endométrio e recetividade. Os principais tratamentos para reduzir o efeito da obesidade na fertilidade na mulher são a perda de peso, alimentação adequada, atividade física e a cirurgia bariátrica. A aplicação destes tratamentos na mulher obesa demonstra uma melhoria na função reprodutiva, destacando-se que a perda de peso é eficaz na recuperação da ovulação.Discussão e Conclusão: Os autores são unânimes na referência a estas alterações na fertilidade da mulher obesa, diferenciando-se apenas nos mecanismos que descrevem. A prevalência da infertilidade é mais elevada na mulher obesa do que na mulher com peso normal. A obesidade provoca alterações no eixo hipotálamo-hipófise-ovário, no ovócito e no endométrio. A causa da infertilidade na mulher obesa, mais consensual, relaciona-se com oligo-anovulação de longa duração. Os resultados dos tratamentos da infertilidade são inferiores neste grupo de doentes. Os tratamentos da obesidade demonstram uma influência positiva no prognóstico reprodutivo. No entanto são necessários mais estudos para consolidar estes resultados.

Introduction: There is an increasing prevalence of obesity worldwide, with an inverse correlation between the body mass index and the probability of conception. Obese women experience a decrease in both the pregnancy rate and the live birth rate. Aim: To analyse the current evidence on the impact of obesity on female fertility, the main treatments available and their effect on fertility.Methods: This is a review article. The guiding question was defined through the PICO method: What is the impact of obesity on female fertility? The review was based on the analysis of national and international scientific research, in the form of published scientific articles. The research was carried out online, using the PubMed search engine. The following MeSH terms were used: “female infertility”, “obesity”, “adipose tissue”, “oocyte” and “treatment” and the boolean AND, in different combinations. 41 articles which made up the sample of this study, were chosen by analysing the title, abstract and complete reading of the article.Results: The impact of obesity is felt at the level of the hypothalamic-pituitary-ovarian axis, oocyte and endometrium. The hormones involved in these changes are adipokines, sex steroids and insulin. On the hypothalamic-pituitary-ovarian axis, obesity affects the release of luteinizing hormone and the amplitude of its pituitary synthesis, altering the quality of the oocytes, oocyte recruitment and endometrial development, and it may also affect the function of the corpus luteum. The ovaries are sensitive to high levels of leptin, which inhibit androstenedione and steroidogenesis in the theca and granulosa cells, resulting in a deficit in the maturation of follicles and anovulatory cycles. In the endometrium, leptin can also affect implantation, and insulin has been implicated in regulating endometrial development and receptivity. The main treatments to reduce the effect of obesity on female fertility are weight loss, adequate nutrition, physical activity and bariatric surgery. The application of these treatments to obese women shows an improvement in reproductive function, highlighting that weight loss is effective in the recovery of ovulation.Discussion and Conclusion: The authors are unanimous in reporting the negative impact of female fertility in obese women, differing only in the mechanisms they describe. The prevalence of infertility is higher in obese women than in women with normal weight. Obesity causes changes in the hypothalamic-pituitary-ovarian axis, in the oocyte and in the endometrium. The most consensual cause of infertility in obese women is related to long-term oligo-anovulation. The outcomes of infertility treatments are lower in this group of patients. Obesity treatments demonstrate a positive influence on the reproductive prognosis. However, further studies are needed to consolidate these results.