Aspetos sociodemográficos da prescrição de benzodiazepinas em idosos em Portugal

Abstract

Introdução: Diversos estudos recentes revelaram que Portugal apresenta uma prescrição de benzodiazepinas superior à de outros países por parte dos Médicos de Família, e reconheceram que este facto constitui um problema de saúde, particularmente na faixa etária mais frágil: os idosos. O presente estudo procurou analisar as diferenças existentes nas ARS de Portugal no que diz respeito à prescrição de benzodiazepinas em idosos, e relacioná-las com os modelos organizacionais de Unidade Familiar, acompanhamento com Médico de Família e acompanhamento por problemas psicológicos.Métodos: Para a execução deste estudo observacional, de tipo transversal, recorremos ao Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários para a recolha de dados. A população estudada são todos os idosos seguidos nos Cuidados de Saúde Primários em Portugal continental. Recorremos ao Microsoft Excel para organizar três estudos: um mediante a distribuição de idosos por modelos organizacionais e cobertura de Médico de Família; um que estudou o indicador número 297 mediante os modelos organizacionais e ARS; e um que estudou uma população com Problemas de saúde mental selecionados, sujeitos ou não a prescrição, mediante a ARS e a cobertura de Médico de Família. Os dados organizados foram submetidos a análise descritiva e inferencial através dos testes do qui-quadrado, I2 de Higgins e Thompson e pelo teste Q de Cochran.Resultados: Verificamos diferenças estatisticamente significativas no número de idosos com Médico de Família de acordo com a ARS e que os utentes idosos não estão distribuídos de maneira uniforme pelas Unidades Funcionais. Não há diferenças significativas na prescrição prolongada de benzodiazepinas entre os tipos de Unidade Funcional, mas há entre as ARS. Verificamos diferenças significativas entre ARS na prescrição quando os idosos não têm Médico de Família. Idosos seguidos por problemas psicológicos são mais medicados quando têm Médico de Família.Discussão: Este estudo mostrou que as Unidades Funcionais não parecem ter tido efeitos significativos na prescrição de benzodiazepinas a idosos, contrariando a efetividade do atual modelo organizacional dos Cuidados Primários de Saúde e a literatura. Expusemos ainda diferenças significativas entre as ARS de Lisboa e Vale do Tejo e Algarve em relação ao resto do país, onde talvez o aumento da pressão populacional e alterações demográficas dos recentes anos mais negativamente se podem ter expressado.Conclusão: As diferenças na prescrição de benzodiazepinas em idosos entre as ARS em Portugal são significativas mas não entre o tipo de Unidades de cuidados primários, parecendo relacionar-se mais com o seguimento dos idosos por Médicos de Família.

Introduction: Several recent studies have revealed that Portugal has a higher benzodiazepine prescription than that of other countries by Family Physicians, and recognized that this constitutes a health problem, particularly in the most fragile age group: the elderly. The present study sought to analyze the existing differences in the ARS of Portugal with regard to the prescription of benzodiazepines in the elderly, and to relate them to the organizational models of Family Unit, monitoring with a Family Physician and monitoring for psychological problems.Methods: For the execution of this observational, cross-sectional study, we used the Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários to collect data. The population studied was the elderly followed by the primary care system in continental Portugal. We used Microsoft Excel to organize three studies: a first analyzing the distribution of the elderly by organizational models in each ARS and coverage by Family Physicians in that ARS; a second who studied indicator number 297 by the organizational model and ARS; and a third who studied a population with selected Mental Health Problems, subject or not to prescription, and with or wiyhout Family Physician coverage in each ARS. The organized data was submitted to descriptive and inferential analysis through the chi-square, Higgins and Thompson I2 tests and the Cochran Q test.Results: We found statistically significant differences in the number of elderly people with a family doctor according to the ARS and that elderly users are not evenly distributed across Functional Units throughout the country. There are no significant differences in the prolonged prescription of benzodiazepines between the types of Functional Unit, but there are between the ARS. We found significant differences between ARS when prescribing to the elderly when they do not have a Family Physicians. Elderly people followed by psychological problems are more medicated when they have a Family Physicians.Discussion: This study showed that the Functional Units have no significant effects on prescribing to the elderly, which goes against the effectiveness of the current organizational model of Primary Health Care and the literature. We also exposed significant differences between the ARS of Lisbon and Tejo Valley and the Algarve in relation to the rest of the country, where the increase in population pressure and demographic changes in recent years were most negatively expressed in the domain of the prescription of benzodiazepines in the elderly.Conclusion: The differences in benzodiazepine prescription between the ARS in Portugal are significant, and these differences are mainly related to the follow-up of the elderly by Family Physicians.