Reconstrução Mamária Imediata pós-mastectomia no CHUC: Morbilidade e Qualidade de Vida

Abstract

Introdução: O cancro da mama (CM) é o segundo tumor maligno com maior índice de mortalidade no sexo feminino em Portugal. A mastectomia é frequentemente a opção terapêutica ou profilática para o CM, sendo, contudo, um procedimento estigmatizante para a mulher com prejuízo na sua feminilidade e sexualidade. A reconstrução mamária imediata (RMI) permite concluir o processo de uma forma célere e com benefícios para a qualidade de vida (QdV).Objetivos: Os objetivos deste estudo são avaliar o grau de morbilidade associada à RMI e a identificação de fatores de risco. Pretendemos ainda investigar a relação entre a QdV e o grau de satisfação da doente (aplicação do BREAST-Q) com múltiplos parâmetros clínicos, sociodemográficos e educacionais. Por último, este estudo pretende aferir se as doentes repetiriam a RMI.Metodologia: Realizou-se um estudo observacional, longitudinal e retrospetivo recorrendo à revisão de processos clínicos de 72 doentes submetidas a RMI no período de 1 de janeiro de 2016 a 31 de dezembro de 2018, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), associado a um estudo transversal através da aplicação do questionário BREAST-Q.Resultados: As reconstruções mamárias foram realizadas, sobretudo, recorrendo à utilização de material aloplástico. A reconstrução mamária com próteses associou-se a um aumento considerável no tempo de internamento (p=0,003). A taxa total de complicações foi 39%. As complicações mais frequentes foram: dor crónica (13,9%), necessidade de remoção de expansor/prótese (12,5%), infeção (11,1%), rotação/deformidade de prótese/expansor (8,3%), contratura capsular (6,9%) e seroma (6,9%). Os fatores de risco para o desenvolvimento de complicações foram o tabagismo (complicações globais, p=0,033; necrose cutânea, p=0,006), a radioterapia pós-operatória (infeção, p=0,043), a HTA (seroma, p=0,014) e o excesso de peso (hematoma, p=0,020). Na globalidade, as doentes obtiveram scores BREAST-Q bastante satisfatórios. O bem-estar com a região da mama revelou-se significativamente menor em doentes com dor crónica (p=0,037), com deiscência de sutura (p= 0,030), em fumadoras (p=0,001) e nas mulheres submetidas a radioterapia pós-operatória (p=0,013). O grau de satisfação com a mama reconstruída foi menor em doentes com excesso de peso (p=0,050). O bem-estar psicossocial foi expressivamente inferior em doentes com dor crónica (p=0,008). 81% das mulheres voltariam a realizar RMI.Conclusão: A RMI apresenta resultados satisfatórios quando avaliados por métodos subjetivos e pode ser considerada uma boa opção para doentes com CM candidatas à mastectomia. A escolha da técnica para a RMI deve ser individualizada e baseada nas características e desejos de cada doente a fim de otimizar os resultados e reduzir o índice de complicações.

Introduction: Breast cancer is the malignant tumor with the second highest female mortality rate in Portugal. Mastectomy is often the therapeutic or prophylactic solution for breast cancer, but it is a stigmatizing procedure for women as it impairs their femininity and sexuality. Immediate breast reconstruction enables the process to be completed quickly and with benefits to the quality-of-life.Objectives: We evaluate the level of physical morbidity experienced after immediate breast reconstruction and its correlation with risk factors. As well as investigate the relationship between quality-of-life (application of BREAST-Q) and multiple clinical, sociodemographic and educational parameters. Finally, we want to see if the patients would repeat immediate breast reconstruction again.Methodology: A retrospective longitudinal observational study was performed by reviewing the clinical files of 72 patients undergoing immediate breast reconstruction from January 1, 2016 to December 31, 2018, at the Coimbra Hospital and University Center (CHUC - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra), associated with a cross-sectional study by applying the BREAST-Q questionnaire.Results: The reconstructions were performed, mainly, using alloplastic material. The use of prosthesis led to a considerable increase in the length of hospital stay (p=0.003). The total complication rate was 39%. The most frequent complications were: chronic pain (13.9%), prosthesis removal (12.5%), infection (11.1%), prosthesis rotation/deformity (8.3%), capsular contracture (6, 9%) and seroma (6.9%). Risk factors for the development of these complications were smoking (global complications, p=0.033; mastectomy skin necrosis, p=0.006), postoperative radiotherapy (infection, p=0.043), hypertension (seroma, p=0.014), and overweight (hematoma, p=0.020). Overall, the women obtained very satisfactory BREAST-Q scores. Well-being with the breast region was significantly lower in patients with chronic pain (p = 0.037), suture dehiscence (p=0.030), smokers (p=0.001) and women undergoing postoperative radiotherapy (p=0.013). Breast satisfaction was lower in overweight patients (p=0.050). Psychosocial well-being was significantly lower in patients with chronic pain (p=0.008). 81% of women would try immediate breast reconstruction again.Conclusion: Immediate breast reconstruction provides satisfactory results when evaluated with subjective methods and can be considered a good option for mastectomy-candidate breast cancer patients. The choice of technique for immediate breast reconstruction should be individualized and based on the characteristics and desires of each patient in order to optimize results and reduce the complication rate.