Análise da casuística dos atendimentos nos serviços de urgência de psiquiatria da infância e da adolescência portugueses

Abstract

Tem havido um aumento do recurso aos serviços de urgência de psiquiatria da infância e da adolescência a nível mundial. Em Portugal, existem três serviços de urgência de pedopsiquiatria, mas há poucos estudos publicados quer sobre a prevalência de doença mental em crianças e adolescentes, quer sobre o recurso a urgências pedopsiquiátricas. Este estudo pretende analisar o último ano completo de funcionamento destes serviços e perceber: quem recorreu a estes serviços, quais os quadros clínicos mais frequentes, qual foi a intervenção imediata e o encaminhamento.Trata-se de um estudo longitudinal retrospetivo realizado nos serviços de urgência de pedopsiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar e Universitário do Porto e Centro Hospitalar de Lisboa Central, envolvendo todos os casos apresentados entre 1 de janeiro de 2019 e 31 de dezembro de 2019.Devido à pandemia, provocada pela nova síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2, foi impossível recolher a amostra, analisá-la e tirar conclusões.Uma revisão de literatura revelou que, para além de falta de consenso quanto à definição do que é uma urgência em pedopsiquiatria, existe a necessidade de uma análise mais profunda dos episódios de urgência, uma que leve em consideração não só a apresentação clínica aguda, mas também o ambiente familiar, e contexto sociodemográfico e cultural.O estudo do ambiente circundante das crianças e adolescentes que se apresentam em contexto urgente pode dar uma imagem mais completa e ajudar na construção e implementação de um melhor plano terapêutico.Apesar do interesse deste tipo de estudo, as conclusões tiradas serão sempre difíceis de generalizar devido à diversidade das variáveis e vivências associadas à saúde mental.Seria também interessante fazer uma análise comparativa do recurso aos serviços de urgência de psiquiatria da infância e da adolescência antes, durante, e após a pandemia Sars-Cov 2.

Demand for emergency services in child and adolescent psychiatry has been increasing globally. In Portugal there are three emergency services of child and adolescent psychiatry. However, the existent published literature about child and adolescent mental illness prevalence and pediatric mental health emergencies is scarce. The purpose of this paper is to analyze the last complete year of emergency medical care provided by these three services and draw conclusions as to who was in need of them, what was their clinical presentation, what was the immediate medical response and if they were followed up and how. This study is a retrospective longitudinal one, carried out at the child and adolescent psychiatric emergency services of the Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar e Universitário do Porto and Centro Hospitalar de Lisboa Central. All the patients who attended the Portuguese child and adolescent psychiatry emergency services between 1 January 2019 and 31 December 2019 were included. The current pandemic of the SARS-Cov-2 made unviable collecting, analyzing and drawing conclusions. A review of the bibliography concerning pediatric mental health emergency has shown, besides a lack of consensus regarding the definitions of what is an emergency, the need for an analysis that goes well beyond the acute clinical presentation of the children or adolescents presenting at the emergency service, involving family, sociodemographic and cultural contexts as well. The analysis of the environment of children and teenagers at risk provides a more comprehensive picture of each situation and may help bring about a better therapeutic plan, as well as its compliance. Despite of the interest of these kinds of studies, conclusions will be always hard to generalize due to the diversity of variables and experiences concerning mental health. To understand the impact of the SARS-Cov-2 pandemic, it would be important to analyze and compare the use of these emergency services before, during and after the pandemic.