Conservação de ovários na histerectomia por patologia benigna - Controvérsias

Abstract

Na histerectomia por patologia benigna, a decisão acerca da conservação dos anexos é controversa. Por um lado, o cancro do ovário é a patologia maligna ginecológica mais letal e ainda não existe um rastreio eficaz para a sua deteção. Por outro, a menopausa cirúrgica deve ser ponderada, dados os potenciais riscos a longo prazo. O objetivo deste trabalho é rever, com base na evidência científica existente, os riscos e os benefícios da realização de anexectomia bilateral, no mesmo tempo cirúrgico, da histerectomia por patologia benigna. Para a realização deste artigo de revisão, foi efetuada uma pesquisa com recurso à base de dados Pubmed, e foram analisadas publicações nacionais em revistas de referência dos últimos 10 anos. A longo prazo, a realização de anexectomia bilateral nas mulheres com idade inferior a 50 anos, está associada a um aumento do risco de doença cardiovascular, de osteoporose e fratura óssea, de défice cognitivo, de Doença de Parkinson, de Doença de Alzheimer e de disfunção sexual. Quando realizada após esta idade, a literatura não demonstra franca associação com as patologias referidas, com exceção da osteoporose e disfunção sexual, apesar dos resultados não serem conclusivos. Os estudos demonstram que a realização de anexectomia está associada a um aumento da mortalidade global, devido principalmente a doença cardiovascular. Alguns dos sintomas e complicações podem melhorar com a terapêutica hormonal, no entanto os riscos devem ser individualizados. Segundo estudos recentes, os carcinomas do ovário mais frequentes podem ter origem nas trompas. Desta forma, a salpingectomia bilateral poderá ser uma estratégia, para redução do risco de desenvolvimento de cancro do ovário, nas mulheres submetidas a histerectomia por patologia benigna.Em suma, a anexectomia tem a vantagem de reduzir o risco de cancro do ovário. No entanto, a anexectomia bilateral tem como consequências um impacto negativo na saúde das mulheres e um aumento da mortalidade quando realizada antes da menopausa. Atualmente a cirurgia recomendada para a redução do risco de cancro do ovário é a salpingectomia bilateral.

The decision about ovarian conservation, in the context of hysterectomy for benign disease, is controversial. On one hand, ovarian cancer is the most lethal gynaecological malignancy and there is no efficient screening method to detect it. On the other hand, surgical menopause has to be pondered, due to the potential long-term risks. The purpose of this study is to review, based on the existing scientific evidence, the risks and the benefits of bilateral adnexectomy, at the time of benign hysterectomy.To make this review, a research was carried out on the PubMed database and national publications in reference journals were analysed considering the last 10 years. At long-term, bilateral adnexectomy in women younger than 50 years old is associated with an increased risk of cardiovascular disease, osteoporosis and bone fractures, cognitive dysfunction, Parkinson’s disease, Alzheimer’s disease and sexual dysfunction. When performed after this age, the literature demonstrate no evident association with the referred pathologies, except for osteoporosis and sexual dysfunction where the results are inconclusive. The studies show that adnexectomy is associated with increased overall mortality, mainly due to cardiovascular disease. Some of these symptoms and complications may improve with hormonal therapy, however, the risks have to be individualized. According to recent studies, the most frequent type of ovarian cancer may have a tubal origin. Therefore, bilateral salpingectomy might be a strategy to reduce ovarian cancer in women undergoing hysterectomy for benign pathology.In conclusion, adnexectomy has the advantage of reducing the risk of ovarian cancer. However, the consequences of bilateral adnexectomy, a negative impact on the women’s health and increased overall mortality, when performed before 50 years of age. Currently, the recommended surgery to reduce ovarian cancer is bilateral salpingectomy.