Fraturas supracondilianas do úmero na criança: implicações da presença de lesão neurológica inicial sobre o prognóstico funcional a médio prazo

Abstract

Introdução: As fraturas supracondilianas do úmero na criança são uma patologia importante, pela sua incidência, necessidade de abordagem urgente e morbilidade. Em 6,5% a 19% destas fraturas ocorrem lesões neurológicas. É nosso objetivo averiguar se o prognóstico funcional de crianças diagnosticadas com fraturas supracondilianas descoaptadas do úmero é influenciado pela presença de lesão neurológica aquando da avaliação inicial.Material e métodos: Realizou-se um estudo coorte retrospetivo. Incluímos doentes tratados entre 1 de janeiro de 2010 e 31 de dezembro de 2018, no Serviço de Ortopedia Pediátrica do Hospital Pediátrico – CHUC, EPE, por fratura supracondiliana do úmero descoaptada em flexão ou em extensão Gartland grau III/VI. Obteve-se informação acerca das caraterísticas do doente e fratura, momento de entrada no Serviço de Urgência, existência de lesão neurológica inicial, intervalo de tempo até ao tratamento e ocorrência de complicações. Para avaliar o resultado funcional, aplicou-se o QuickDASH. A análise estatística foi realizada com Microsoft Excel® e IBM SPSS®. Para a análise estatística, utilizámos a correlação de Pearson, teste t de Student de amostras independentes; teste qui-quadrado e teste de Fisher. Considerou-se existir diferença estatisticamente significativa quando p<0,05.Resultados: Foram incluídas 214 crianças neste estudo. A média de idades à data da fratura era 6,3±2,3 anos. O sexo predominante foi o masculino, com 72,4% dos casos. Quanto ao mecanismo de lesão, 92% das fraturas apresentava um padrão em extensão, tendo 47% desvio posteromedial e 43% posterolateral. As lesões neurológicas iniciais ocorreram em 21,9% das crianças, com predomínio de afeção do nervo mediano (70% dos casos). Quanto ao tratamento, predominou a redução fechada e fixação com fios de Kirschner. Em 95,8% dos casos foram colocados fios laterais divergentes. Observaram-se uma ou várias complicações em 18,2% dos casos. O tempo médio entre a entrada no Serviço de Urgência e o tratamento cirúrgico foi de 5 horas e 34 minutos ± 4 horas e 8 minutos. Não existiu diferença na ocorrência de complicações nos doentes tratados até às 8 horas e após as 8 horas (p=0,502), nem nos doentes tratados até às 12 horas e após as 12 horas (p=0,111). Aos 31,3±15,4 meses de seguimento, a pontuação média obtida pelos doentes no QuickDASH foi de 4,4±8,4 pontos Não se detetou diferença significativa entre doentes com e sem lesão neurológica inicial (p=0,911). Conclusão: Em crianças com fratura supracondiliana descoaptada do úmero, a existência de lesão neurológica inicial não determina um pior prognóstico funcional..

Background: Supracondylar fractures of the humerus in children are an important pathology, due to its incidence, the need for an urgent approach and morbidity. In 6.5% to 19% of these fractures, neurological injuries occur. It is our objective to find out whether the functional prognosis of children diagnosed with displaced supracondylar fractures in the humerus is influenced by the presence of neurological injury at the initial assessment.Material and methods: A retrospective cohort study was conducted. We included patients treated between January 1, 2010 and December 31, 2018, at the Pediatric Orthopedics Service of the Pediatric Hospital - CHUC, EPE, for a supracondylar fracture of the humerus, displaced in flexion or extension Gartland grade III/VI. Information was obtained about the patient's characteristics and fracture, moment of entry into the Emergency Department, existence of initial neurological injury, time interval until treatment and occurrence of complications. To assess the functional result, QuickDASH was applied. Statistical analysis was performed with Microsoft Excel® and IBM SPSS®. For statistical analysis, we used Pearson's correlation, Student's t test of independent samples; chi-square test and Fisher's test. A statistically significant difference was considered when p<0.05.Results: In this study, 214 children were included. The average age at the time of the fracture was 6.3±2.3 years. The predominant sex was male, with 72.4% of cases. As for the injury mechanism, 92% of the fractures had an extension pattern, with 47% posteromedial displacement and 43% posterolateral. The initial neurological injuries occurred in 21.9% of the children, with a predominance of affection of the median nerve (70% of the cases). As for treatment, closed reduction and fixation with Kirschner wires predominated. In 95.8% of the cases, divergent lateral wires were placed. One or more complications were observed in 18.2% of cases. The average time between entry to the Emergency Department and surgical treatment was 5 hours and 34 minutes±4 hours and 8 minutes. There was no difference in the occurrence of complications in patients treated until 8 hours and after 8 hours (p=0.502), nor in patients treated until 12 hours and after 12 hours (p=0.111). At 31.3±15.4 months of follow-up, the average QuickDASH score obtained by patients was 4.4±8.4 points. No significant difference was detected between patients with and without initial neurological injury (p=0.911).Conclusion: In children with displaced supracondylar fracture of the humerus, the existence of an initial neurological lesion does not determine a worse functional prognosis..