A importância da digitalização do património cultural para os museus: um exemplo prático do Museu Nacional Etnográfico de Sofia na época do Covid-19

Abstract

Desde os anos 90 do séc. XX, assistimos a um fenómeno de incremento das tecnologias digitais em museus e instituições culturais; o objetivo deste relatório é de analisar como os museus começaram a utilizar as tecnologias digitais, quais têm sido as necessidades e quais são as dificuldades relacionadas com estas. Embora o processo de digitalização tenha começado muito mais cedo nos Estados Unidos do que nos museus europeus, a União Europeia está a investir fortemente na digitalização do património para torná-la acessível a todos. Com o advento da pandemia do Covid-19 em 2020 e o encerramento dos museus por razões sanitárias, houve um aumento exponencial na utilização dos meios digitais para manter um diálogo com o público e preservar as coleções. A iniciativa do Museu Nacional Etnográfico de Sófia foi a de criar uma página web, onde as exposições dos salões do museu pudessem ser apresentadas em versão digital. O projeto de estágio consistiu em contribuir para a valorização e digitalização das coleções do museu através da organização de uma exposição online que pode ser visitada no novo site do museu, numa tentativa de reagir e reinventar-se num momento de crise. O objetivo da exposição é divulgar e promover algumas celebrações do calendário búlgaro através das coleções do museu. A exposição também pretende ser uma pesquisa de campo, que visa analisar e dar voz ao ponto de vista das novas gerações sobre as suas festividades e tradições locais. Considerando que a coleção tratada no museu é etnográfica, será abordado o tema da história dos museus etnográficos; desde o nascimento das coleções privadas no XVI século, até os atuais museus do século XIX, quando na Europa instaurou-se um processo de incorporação de objetos tradicionais das colónias não pertencentes a cultura ocidental. Estes objetos foram submetidos a classificações de arte ocidental e interpretados e associados a uma arte chamada "primitiva". Nos últimos anos, muitas coleções etnográficas na Europa têm sido criticadas por ainda serem eurocêntricas e intrinsecamente ligadas ao passado colonial, o que levou os museus a revisitarem o significado dos objetos. A situação é diferente nos Estados Unidos, onde alguns museus são geridos pelos povos indígenas, que são para todos os efeitos porta-vozes da sua própria cultura. Da mesma forma, o Museu Nacional Etnográfico de Sofia é um exemplo de autorrepresentação, sendo os curadores o próprio povo búlgaro.

Since the 90s, there has been an exponential increase in the use of digital technologies in museums and cultural institutions; the attempt of this project is indeed to analyze how museums started to use digital technologies, what have been the needs and what are the difficulties related to them. Although the process of digitization started much earlier in the United States than in European museums, the European Union is highly investing in digitizing the culture and to make it accessible to everyone. With the advent of Covid-19 pandemic in 2020 and the closure of museums due to the restrictions, there has been an urgent need in the use of digital technologies to maintain a dialogue with the public and to preserve collections. The initiative of the National Ethnographic Museum of Sofia was to create a website where the exhibits in the museum halls could be digitized. The goal of the internship was to contribute to the valorization and digitization of the museum's collections by organizing an online exhibition that can be visited on the new website of the National Ethnographic Museum in Sofia. The aim of the exhibition is to publicize and promote some celebrations of the Bulgarian calendar through the objects of the collections. The exhibition also intends to be field research, which aims to analyze and give voice to the new generations about their local festivities and traditions. Considering that the collections in the museum are ethnographic, the history of ethnographic museums is addressed; from the advent of private collections in the 16th century to the current museums in the 19th century, when in Europe started a process of incorporation of traditional objects from the colonies. These objects were subjected to Western art classifications and interpreted and associated with a so-called "primitive" art. In recent years, many ethnographic collections in Europe have been criticized for still being Eurocentric and intrinsically associated with the colonial past, which has led museums to revisit the meaning of the objects. The situation is different, especially in the United States, where some museums are run by indigenous peoples, who are spokespersons for their own culture. Similarly, the National Ethnographic Museum in Sofia is an example of self-representation, with the exhibitors being the people themselves within the Bulgarian culture.