Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/96381
Title: Papéis da Prisão, de Luandino Vieira. Ensaio de narrativa documental
Other Titles: Tese de doutoramento
Authors: Rocha, Ana Maria Teixeira da
Orientador: Laranjeira, José Luís Pires
Keywords: Luandino Vieira; Literatura Angolana; literatura de testemunho; testemunho; monumento; prisão; exílio; militância; campo de concentração; Angola; Cabo Verde
Issue Date: 1-Jul-2021
Abstract: Composto por mais de mil páginas, os Papéis da prisão. Apontamentos, diário, correspondência (1962-1971), de José Luandino Vieira (1935) testemunham a vida do escritor angolano nas prisões de Luanda e no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, durante os nove anos indicados no subtítulo do livro. Tratando-se o autor de um preso político, engajado na luta de libertação nacional, este grosso volume acaba por testemunhar, paralelamente, um período histórico determinante da história de Angola, revelando-se, por isso, um importante documento e fonte histórica, além da sua identidade de objeto literário. A historiografia africana valoriza as fontes literárias, sejam elas provenientes de autores africanos ou da literatura colonial. A oralitura foi sempre, de igual modo, considerada por esta área do saber do continente. Na Europa, foi a partir de meados do século XX e com o surgimento da Nova História, em França, que se expandiu o conceito de “documento”, passando a considerar-se os textos literários e outras produções humanas enquanto “documentos” da história do ser humano. Esta abertura, permite melhor compreender os Papéis enquanto fonte historiográfica e enquanto “monumento”, segundo uma conceção tradicional, explicada por Foucault, que toma o “monumento” como “enunciado” ainda não manipulado pelos historiadores, ao contrário da conceção moderna que encara o “monumento” como um objeto consequente e representativo do poder que o selecionou e utilizou. A partir da análise literária dos Papéis, que constituem um caso singular, pelo menos, na história da literatura de língua portuguesa, vai criar-se, aqui, um novo género literário, designado “ensaio de narrativa documental”. A análise começará pela problematização do conceito de “literatura de testemunho”, teorizado desde o final da Primeira Guerra Mundial, e de outros temas como a falibilidade da memória na construção das narrativas e o ato de testemunhar que condicionam e influenciam a sua receção, validação e uso. Problematizar-se-á a compreensão do corpus pelos estudos literários. Analisar-se-ão os modelos comunicativos, as temáticas, a forma de expressão, a heterogeneidade, a intenção, a função, a representatividade e a receção. A contextualização histórica suportará essa abordagem, não permitindo ignorar o facto de se tratar do diário de um militante angolano, branco e filho de colonos, ligado a um movimento de libertação de Angola. Assim, os contextos microssociais da prisão e do campo serão analisados, a par do sistema colonial, do sistema prisional colonial, da ideologia do movimento e do pensamento de Luandino, que se repercutem na sua obra literária e identidade de escritor, cuja prosa é determinante para a história da literatura do país. Serão considerados exemplos da literatura de cárcere, de exílio e de catástrofe para a análise dos Papéis, compreendendo a singularidade do objeto, mas verificando e salientando aspetos que o unem a outros enunciados da “literatura de testemunho”. A literatura da Shoah e do testimonio impulsionaram teorizações que auxiliarão a teorização do testemunho africano do nosso corpus e permitirão a criação da designação “ensaio de narrativa documental”, que pretende classificar uma narrativa testemunhal, fragmentada, heterogénea, quotidiana e que, mesmo condicionada a vários níveis, ora exteriores, como a censura, a escassez e a vigia, ora interiores, como os sentimentos e os traumas despoletados pela experiência trágica, dá conta dos testemunhos literários das catástrofes e violências do século XX, redigidos por vários escritores e sobreviventes de diferentes partes do mundo, comparados, aqui, com os Papéis e que se dividem em diários, ficções, biografias e memórias. Serão apontados 13 aspetos que distinguem o “ensaio de narrativa documental”, focando-se esses nas temáticas, contextos, balizas temporais, intenção, modos narrativos e representatividade.
Description: Tese no âmbito do doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa, na área das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, orientada pelo Professor Doutor José Luís Pires Laranjeira e apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ao Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas.
URI: https://hdl.handle.net/10316/96381
Rights: openAccess
Appears in Collections:UC - Teses de Doutoramento
FLUC Secção de Português - Teses de Doutoramento

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