O Uso de Materiais Vegetais em Castanheiro do Vento, Horta do Douro, Vila Nova de Foz Côa

Abstract

Castanheiro do Vento is a chalcolithic archaeological site, located in Vila Nova de Foz Côa, on top of a round based hill, 730 meters high. There have been archaeological digs almost consecutively since 1998. During the years 2017, 2018 and 2019 sampling of carbonized plant material and soil were included, and those samples are the study object of this dissertation.The archaeobotanic study presented in this paper is based on the samples recovered from different contexts of the site and using different sampling techniques. Two hundred and one samples were taken from these contexts: area between Muretes (Walls) 1 and 2, Bastião (bastion) L, Estrutura Circular (circular structure) 8, area between Estrutura Circular (circular structure) 7 and the junction point of Murete (Wall) 2 and Bastião (bastion) M.The results showed that the predominant taxa in charcoal samples were Cistus sp., Quercus sp. and Quercus sp. perennial. In terms of carbonized fruits and seeds, the Quercus sp. and Triticeae, in particular the Triticum aestivum/ durum and Hordeum vulgare, were the most common. There were also identified, though less frequently, the following taxa: Acer sp., Arbutus unedo, Juniperus sp., Taxus baccata, Quercus suber, Quercus sp. deciduous, Fabaceae, Erica scoparia/ umbellata, Pinus pinaster and/or Pinus pinea, in anthracology, Hordeum nudum vulgare var. nudum, Pisum sativum, Vicia faba, Cistus ladanifer, Pinus sp., Trticum sp. and Fabaceae, in carpology.The carpological material is only present in Bastião L and its surrounding area, although there were taken more samples in this context. The relevance of systematic soil sampling also became clear, due to the impressive increase in the number of fragments recovered and their taxonomic variety. The preservation state of the charcoals, intensely fragmented, often cracked and with signs of vitrification, didn’t allow, with rare exceptions, the determination of the degree of curvature of the wood rings, which made it impossible to tell if the fragments belonged to branches or logs of small, medium or big dimension. That analysis was mostly only possible to obtain from Cistus sp. fragments, showing strong curvature rings, demonstrating that they originated from small branches and stems with low diameters which is normal, since they are a shrub species. The communities present in Castanheiro do Vento must have used different approaches in collecting wood and other plant resources. On one hand, not all species are from common environments, suggesting they had to collect them in different areas. On the other hand, there are evidence that supports the idea that they collected wood near the site, there’s presence of freshly cut wood, but they also brought some plant resources such as cereals from somewhere else, since there’s no evidence of weeds that are usually collected with grains when harvesting.

Castanheiro do Vento é um sítio arqueológico que data do Calcolítico, situado no concelho de Vila Nova de Foz Côa, no topo de uma colina com cerca de 730 m de altitude, tem sido alvo de campanhas arqueológicas praticamente consecutivas desde 1998. Durante as campanhas de 2017, 2018 e 2019 fizeram-se algumas recolhas de material vegetal carbonizado e de amostras sedimentares que são objeto de estudo neste trabalho.O estudo antracológico e carpológico que se apresenta nesta dissertação incide em amostras recolhidas em diferentes contextos do sítio e utilizando diferentes técnicas de amostragem.Foram recolhidas 201 amostras de material vegetal carbonizado associadas às seguintes áreas do sítio: área entre o Murete um e o Murete 2 (junto ao Bastião L), Bastião L, Estrutura Circular 8, área entre a Estrutura Circular 7 e a junção do Murete 2 e Bastião M.Os resultados da análise das amostras antracológicas revelaram a predominância dos táxones e tipos anatómicos Cistus sp. (esteva) e Quercus sp. e Quercus sp. perenifólia (sobreiro, azinheira, carrasco). Na carpologia os táxones mais frequentes foram Quercus sp. (bolota) e Triticeae (cereais), nomeadamente Triticum aestivum/ durum (trigo) e Hordeum vulgare (cevada). Foram também identificadas outras espécies em menor número, na antracologia, Acer sp. (bordo), Arbutus unedo (medronheiro), Juniperus sp. (zimbro), Taxus baccata (teixo), Quercus suber (sobreiro), Quercus sp. caducifólia (carvalho), Fabaceae (tojos, giestas, etc.), Erica scoparia/ umbellata (urze), Pinus pinaster e/ou Pinus pinea (pinheiro bravo e manso). Na carpologia, Hordeum vulgare var. nudum (cevada), Pisum sativum (ervilha), Vicia faba (fava), Cistus ladanifer (esteva), Pinus sp. (pinha), Trticum sp. (trigo) e Fabaceae. O material carpológico está apenas presente no Bastião L e área envolvente do mesmo, contudo foi nesta área que foi recolhido maior número de amostras. Ficou também esclarecida a importância da recolha de amostras de sedimento sistemáticas, que revelarem uma subida extraordinária do número de fragmentos e variedade taxonómica. O estado de conservação dos carvões, muito fragmentados, alguns fissurados e vitrificados; não permitiram, salvo raras exceções, a determinação do grau de curvatura dos anéis, não sendo possível averiguar se os fragmentos eram provenientes de ramos/troncos de pequena, média ou grande dimensão. Cistus sp. foi o táxon que mais frequentemente permitiu essa análise, demonstrando maioritariamente fragmentos com curvaturas fortes, provenientes de pequenos raminhos, o que é natural, considerando tratar-se de um táxon arbustivo. A recolha de materiais vegetais pelas comunidades que usufruíram de Castanheiro do Vento terá sido diferenciada. Nem todas as espécies provêm de ambientes comuns pelo que não poderão ter sido recolhidas nos mesmos meios. Não foram analisados vestígios de ervas daninhas no material carpológico, podendo indicar que os grãos eram transportados para a jazida depois dos processos associados à colheita. Há também presença de madeira verde, sugerindo que havia recolha de madeira nas redondezas para uso imediato.