APRENDER A LIDAR COM O INESPERADO: Estudo exploratório de tipos e funções do brincar em crianças do 1º ciclo do ensino básico

Abstract

Este estudo exploratório foi realizado a partir da observação directa de crianças do 1º ciclo do ensino básico, a brincar livremente em contexto de recreio escolar, abrangendo 38 raparigas e 35 rapazes, com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos. Orientados pela hipótese de Spinka, Newberry e Bekoff (2001) de que, numa perspectiva evolucionista, a função mais ancestral do brincar será preparar os animais para a imprevisibilidade, o nosso objectivo principal foi procurar identificar a ocorrência de situações de imprevisto no brincar infantil e tentar compreender, se possível, qual o seu efeito nos comportamentos de brincar.Estivemos em campo de forma participante, ao longo de um trimestre, no Colégio de São José (Coimbra), coligindo um corpus documental de 28 sessões. Os dados qualitativos foram organizados e classificados através da técnica de “Análise de Conteúdo”. As situações de imprevisto foram identificadas enquanto elementos de novidade (e.g. criatividade, improvisação, rearranjos) que aconteciam durante as brincadeiras e verificou-se que tinham um efeito positivo sobre as mesmas, no sentido de promover uma atmosfera emocional de euforia nos grupos, aumentar o número de participantes e contribuir para manter o interesse e a continuidade das brincadeiras em questão.Por outro lado, e porque inicialmente foi realizada uma revisão da literatura sobre os tipos e as funções de brincar, considerámos pertinente fazer uma categorização única que incluísse os trabalhos de Piaget, Rubin, Pellegrini e Peter Smith. Ou seja, procurámos uniformizar as designações, por vezes diferentes, atribuídas a comportamentos semelhantes.

This exploratory study was carried out from the direct observation of children attending elementary school, playing freely in a school playground, comprising 38 girls and 35 boys, aged between 6 and 10 years.Based on the hypothesis of Spinka, Newberry and Bekoff (2001) that, from an evolutionary perspective, the most ancestral function of play is to prepare the animals for unpredictability, our main objective was to identify the occurrence of unforeseen situations in children's play and try to understand, if possible, their effect on play behavior.We were in the field with an “insider perspective”, during a quarter, in the School of São José (Coimbra), gathering a documentary corpus of 28 sessions. Qualitative data were organized and classified using the "Content Analysis" technique. Unexpected situations were identified as elements of novelty (e.g. creativity, improvisation, rearrangements) that occurred during play activities and were found to have a positive effect on them, in order to promote an emotional atmosphere of euphoria in the groups, increase of the group size and contributed to maintain the interest and continuity of the games in question.On the other hand, and because a review of the literature on the types and functions of playing was initially undertaken, we considered it pertinent to make a single categorization that included the works of Piaget, Rubin, Pellegrini and Peter Smith. That is, we sought to standardize the sometimes different designations attributed to similar behaviors.