Traumatização secundária em esposas de veteranos da guerra colonial portuguesa com Perturbação de Stress Pós-traumático: Um perfil de funcionamento psicológico e de qualidade de vida

Abstract

O presente estudo pretendeu analisar/explorar a realidade das esposas de ex-combatentes da Guerra Colonial Portuguesa diagnosticados com Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT), visando conferir se a exposição a manifestações da sintomatologia de PSPT (e sintomatologia comórbida) de veteranos por parte das esposas leva ao desenvolvimento/manifestação de Perturbação Secundária de Stress Traumático (PSST) nas mesmas. Objetivou, ainda, caracterizar o funcionamento psicológico (cognitivo, emocional/sintomatológico) e de Qualidade de Vida (QdV) destas mulheres. Para isso procedeu-se à comparação entre grupos de esposas de casais em que o marido preencheu os critérios de diagnóstico (N=8) e em que o marido não exibiu esse padrão nosológico (N=7), no que diz respeito aos resultados dos seguintes instrumentos de avaliação: Addenbrooke Cognitive Examination-Revised, Posttraumatic Stress Disorder Checklist - Military Version/Civilian Version, Inventário de Estado-Traço de Ansiedade, Escala de Depressão Geriátrica - 30 itens, Traumatic Events Questionnaire e World Health Organization Quality of Life-OLD Module. Com vista a conferir se o padrão de sintomatologia das esposas era similar ao dos maridos com PSPT efetuou-se a comparação entre cada casal relativamente aos instrumentos que medem os construtos de depressão, ansiedade e PSPT. Com o objetivo de complementar a caracterização do perfil de funcionamento psicológico e de QdV destas esposas, foi implementado um grupo focal. Com a presente investigação não foram encontradas diferenças significativas entre o perfil de funcionamento psicológico e de QdV das esposas de veteranos com PSPT e o das esposas de veteranos sem este diagnóstico. No entanto foi evidenciada a existência de PSST em 25% das esposas de ex-combatentes com PSPT e conferido que o perfil de sintomas de depressão, ansiedade (como traço e como estado) e evitamento dos maridos é similar aoobservado nas esposas. O estudo qualitativo permitiu-nos dar maior abrangência à investigação tendo sido identificada a existência de perceções de descontinuidade, continuidade e de progressão no que diz respeito à sintomatologia dos ex-combatentes, e nas suas dinâmicas conjugais e familiares, sendo os relatos caracterizados pela discrepância entre o pré e o pós-guerra, uma vez que a Guerra Colonial foi identificada como um desencadeador de uma grande mudança no comportamento dos seus maridos, nas suas vidas e nas suas dinâmicas conjugais. Conclui-se que a intervenção terapêutica oferecida aos ex-combatentes com PSPT deve ter em consideração também as esposas, que desempenham o papel de cuidadoras primárias, sendo importante o desenvolvimento de programas de intervenção eficazes dirigidas não só aos ex-combatentes, como às suas esposas.Sugerimos a replicação deste estudo com um maior N amostral, com vista a possibilitar um maior grau de generalização dos dados, conciliando os objetivos com metodologias que permitam excluir o funcionamento subclínico dos ex-combatentes do grupo que não apresenta diagnóstico de PSPT. Também se recomenda a inclusão da análise dos fatores de risco e fatores de proteção das esposas desta população.O intuito foi dar continuidade a um movimento no sentido de intervir junto destas pessoas, contribuindo para o desenvolvimento da área da PSST, com vista ao desenvolvimento de medidas de intervenção e prevenção adaptadas às particularidades, desafios e exigências desta população.Identificou-se também a necessidade de fomentar a consciencialização nesta área e de ações de esclarecimento/sensibilização junto desta população (e da população geral) que incidam sobre esta temática.

The present study aimed to analyze/explore the reality of the Portuguese Colonial War veterans wives diagnosed with Post Traumatic Stress Disorder (PTSD), in order to verify if the exposure of symptoms of PSPT (and comorbid symptoms) by veterans would lead to the development/manifestation of Secondary Traumatic Stress Disorder (STSD) in them. It also aimed to characterize the psychological functioning (cognitive, emotional and symptomatic) and quality of life (QoL) of these women. For that purpose, a comparison was carried out between the groups of couples wives in which the husband met the diagnostic criteria (N = 8) and the ones in which the husband did not exhibit this nosological pattern (N = 7), regarding the results of the following assessment instruments: Addenbrooke Cognitive Examination-Revised, Posttraumatic Stress Disorder Checklist - Military Version/Civilian Version, State-Trait Anxiety Inventory, Geriatric Depression Scale - 30 items, Traumatic Events Questionnaire and World Health Organization Quality of Life-OLD Module. In order to check if the symptoms pattern was similar to the veterans with PTSD a comparison was carried out among the all the couples regarding the tools used to measure depression constructs, anxiety and PTSD. With the aim of complementing the characterization of this wives psychological and quality of life profiles, a focal group was then implemented.With the present investigation no significant differences were found between the psychological functioning and quality of life profile of veterans with PTSD wives and the wives of veterans with no such diagnosis.However it was revealed the existence of STSD in 25% of veterans with PTSD wives and led to the conclusion that the depression, anxiety (as trait and as state) profile and the husbands avoidance is similar with what is observed with the wives.The qualitative study allowed us to provide a broader scope to the present investigation, with the existence of perceptions of discontinuity, continuity and progression concerning the symptomatology of war veterans, and their marital and familiar dynamics, being identified by the discrepancy between the pre and post-war events, once the Colonial War was acknowledged as a trigger for a major behavior change of their husbands, in their lives and in their marital dynamics.It is established that the therapeutic intervention offered to war veterans with PSPT should also take their wives into account, who often act like primary caretakers, and it is imperative to develop effective intervention programs directed not only at war veterans but also to their wives.We propose the replication of this study with a much higher N sample, in order to allow a superior degree of data generalization, conciliating the objectives with methodologies that exclude the subclinical functioning of war veterans of the group that does not show a PTSD diagnosis. It is also recommended to include the analysis of the risk factors and protection factors of the wives of this population.The objective was to carry on an action in order to intervene with these people, contributing to the development of the STSD area, with a vision to develop intervention and prevention measures adapted to such particularities, challenges and requirements of this population.It was also identified the importance to raise awareness throughout this field and raising clarification/awareness actions with this population (and the whole population) in order to focus more deeply on this particular subject.