Pelas lentes da ameaça: vinculação aos outros e ao self

Abstract

A vinculação insegura no adulto, ansiosa e evitante, surge da acumulação de um conjunto de experiências com as figuras de vinculação ao longo da vida, que resultam na construção de modelos internos dinâmicos negativos acerca do self e dos outros. A literatura sugere uma relação entre a vergonha externa, a autocompaixão, o mindfulness, a depressão e estes estilos de vinculação. No entanto, carece de estudos que clarifiquem o modo como os constructos se relacionam. A presente investigação tem como objetivo a análise do impacto da vergonha externa, da autocompaixão e do mindfulness na vinculação ansiosa e evitante (testadas separadamente), controlando o efeito da depressão. Neste sentido, foi aplicada uma bateria de instrumentos de autorresposta que medem as variáveis em estudo a uma amostra constituída por 375 mulheres. Os resultados do estudo de natureza correlacional foram expectáveis, todos eles significativos. A comparação entre os sujeitos com níveis elevados e baixos de vinculação ansiosa e evitante, através de testes t-Student, mostraram que as mulheres com níveis mais elevados de vinculação ansiosa e evitante reportam mais vergonha externa e mais sintomas depressivos; pelo contrário, apresentam menos autocompaixão e menos mindfulness. Os modelos de mediação que pretendiam testar o efeito mediador da autocompaixão e do mindfulness na relação entre a vergonha externa e a vinculação ansiosa e evitante revelaram-se significativos, explicando, respetivamente, 26% e 23% da variável dependente. Em termos globais, os resultados sugerem que a autocompaixão e o mindfulness são competências fundamentais para a qualidade da vinculação aos outros e ao self.

Insecure attachment, anxious and avoidant, is the outcome of an accumulation of a set of experiences with the attachment figures throughout life, which result in the construction of negative internal dynamic models about the self and the others. Studies suggest a relationship between external shame, self-compassion, mindfulness, depression and these attachment styles. However, there is an absence in studies clarifying the way in which the constructs relate with each other. The present investigation intends to analyse the impact of external shame, self-compassion and mindfulness in anxious and avoidant attachment (tested separately), controlling the effect of depression. In this sense, a battery of self-report instruments was applied to measure the variables being studied to a sample of 375 women. The results of the study of correlational nature were expectable, all of them meaningful. The comparison of the individuals with high and low levels of anxious and avoidant attachment, through t-Student tests, showed that women with higher levels of anxious and avoidant attachment report more external shame and more depressive symptoms; contrary wise, they presented less self-compassion and less mindfulness. The mediational models intended to test the mediator effect of self-compassion and mindfulness in the relationship between external shame and anxious and avoidant attachment revealed meaningful results, explaining, respectively, 26% and 23% of the dependent variable. Globally, the results suggest that self-compassion and mindfulness are fundamental competences for the quality of attachment to the others and to the self.