Estudo longitudinal do efeito mediador da auto-culpabilização na relação entre ansiedade e sintomatologia depressiva numa amostra de adolescentes portugueses

Abstract

A depressão na adolescência é um grave problema de saúde que tem sido, cada vez mais, alvo de preocupação, podendo estar associada a elevados níveis de ansiedade e utilização de estratégias de regulação emocional cognitivas desadaptativas, nomeadamente a atribuição de culpa ao próprio. Como tal, o presente estudo longitudinal pretendeu analisar o impacto da ansiedade e da desregulação emocional na sintomatologia depressiva, de forma mais objetiva, o efeito mediador da auto-culpabilização, no desenvolvimento de sintomatologia depressiva, predita pela ansiedade. A amostra consiste em 118 adolescentes com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos de idade. As medidas utilizadas para o estudo das variáveis foram o Children Depression Inventory (CDI, Kovacs, 1983; versão portuguesa: Dias & Gonçalves, 1999), a Multidimensional Anxiety Scale for Children (MASC, March, Parker, Sullivan, Stallings & Conners, 1997; Tradução e adaptação de Salvador et al., 2017) e o Cognitive Emotion Regulation Questionnaire (CERQ, Garnefski, Kraaij, & Spinhoven, 2001; Tradução e adaptação de Matos, Cherpe & Serra, 2012), tendo estes instrumentos de autorresposta sido aplicados em dois momentos de avaliação separados por um intervalo de 6 meses. A sintomatologia depressiva bem como a ansiedade apresentaram correlações positivas e significativas com a estratégia cognitiva de regulação emocional desadaptativa auto-culpabilização. A auto-culpabilização revelou-se como mediador da relação entre ansiedade e sintomatologia depressiva. Este modelo explicou 39.8% da variância total da sintomatologia depressiva, no qual a ansiedade revelou ter um efeito direto bem como indireto na mesma, tratando-se assim de uma mediação parcial. Os resultados obtidos apontam para a importância da ansiedade e da desregulação emocional, neste caso, para a utilização da auto-culpabilização como fatores vulnerabilizadores para a presença de sintomatologia depressiva na adolescência. Estes resultados têm implicações clínicas, apontando para que, tanto os problemas de ansiedade, como as estratégias de regulação emocional cognitivas devam ser alvo de intervenção, tanto ao nível da prevenção da depressão, como do seu tratamento, nos adolescentes.

Depression in adolescence is a serious health problem that has been inciting a growing concern and may be associated with elevated levels of anxiety as well as with the implementation of maladaptive cognitive emotion regulation strategies, specifically self-blame, i.e., the attribution of guilt to oneself. As such, the aim of this longitudinal study was to assess the impact of anxiety and emotion dysregulation on depressive symptomatology, particularly the mediating role of self-blame, in the development of depressive symptomatology, predicted by anxiety. The sample is comprised by 118 adolescents between 13 and 16 years of age. To assess the studied variables, we used the measures Children's Depression Inventory (CDI, Kovacs, 1983, Marujo, 1994), the Multidimensional Anxiety Scale for Children (MASC, March, Parker, Sullivan, Stallings & Conners, 1997; Translation and adaptation by Salvador et al., 2017) and the Cognitive Emotion Regulation Questionnaire (CERQ, Garnefski et al., 2001, Matos, Cherpe & Serra, 2012), having this self-report measures been applied in two distinct moments in time, 6 months apart from one another. Both depressive symptomatology and anxiety have shown to be positively and significantly correlated with the maladaptive cognitive emotion regulation strategy self-blame. Self-blame, in turn, was found to be a significant mediator of the relationship between anxiety and depressive symptomatology, explaining 39.8% of the total variance of the latter. Anxiety was also revealed to have both a direct and an indirect effect in explaining the presence of depressive symptomatology, indicating a partial mediation. The results obtained stressed that anxiety and emotion dysregulation, specifically, the implementation of the strategy self-blame as an attempt to regulate the emotions, are risk factors for the development of depressive symptomatology in adolescence. These results have clinical implications, which point to the inclusion of anxiety problems and cognitive emotion regulation strategies in the intervention process, being on the prevention level of depression as well as in its treatment.