Evolução Clínica e das Consequências da Imobilidade em Doentes Internados

Abstract

INTRODUÇÃO: A falta de mobilidade e o acamamento prolongado trazem muitas consequências negativas para os doentes. Muitas delas são prevenidas no ambiente hospitalar, como as úlceras de pressão ou as quedas. No entanto, a perda de força e de massa muscular que conduzirão ao declínio funcional precisam de ser prevenidas. Muitos doentes, curam ou melhoram a sua doença, que motivou o internamento, mas são incapazes de realizar as atividades de vida diária que antes faziam com facilidade. Os doentes mais idosos que não se movem perdem cerca de 5% da força muscular por dia de internamento.OBJECTIVOS: O objetivo principal deste trabalho foi conhecer o índice de dependência dos doentes internados num Serviço de Medicina Interna à data do internamento e após uma semana do mesmo e os fatores contributivos para esta alteração. Será também avaliado o índice de dependência no domicílio e se os doentes desenvolveram problemas de mobilidade ou se pioraram o seu estado funcional após o internamento. MÉTODOS: Foram avaliados doentes internados no serviço de Medicina Interna dos CHUC com idade superior a 65 anos. A avaliação foi realizada no 1º dia de internamento e após 7 dias, sendo os dados obtidos nestas duas visitas comparados. Os parâmetros avaliados consistiram no índice de Katz, Mini Mental State (MMS) e o Mini Nutricional Assessment (MNA). Foram ainda registados os dados demográficos, patologias crónicas pré-existentes, medicação crónica e a causa de internamento, bem como a força muscular, reflexos e tónus muscular. Todos os doentes (ou seu representante legal, se este não foi capaz de colaborar), assinaram um consentimento informado para participar no estudo.RESULTADOS: Participaram no estudo 50 doentes internados no Serviço de Medicina A dos CHUC, com idades compreendidas entre os 65 e os 94 anos. A maior parte dos doentes estudados foi internada devido a uma infeção do tracto respiratório inferior (18%) ou a infeção do trato urinário (18%). A maioria dos doentes era hipertenso. Relativamente à avaliação nutricional, o IMC calculado tanto à data da 1ª observação, como à data da 2ª observação abrangia todos as classificações do IMC, evoluindo os doentes desnutridos e em risco de desnutrição favoravelmente, segundo este parâmetro ao longo do internamento. A maior parte dos doentes apresentava um IMC normal. No que se refere ao questionário do MNA, a maior parte dos doentes da amostra encontra-se em risco de desnutrição, tendo a percentagem de doentes desnutridos aumentado ao longo do internamento, segundo esta avaliação. A maior parte dos doentes era independente para as atividades da vida diária, previamente ao internamento, evoluindo desfavoravelmente ao longo do internamento e recuperando parcialmente após a alta. Todos os doentes que tinham diagnóstico de sépsis à data da 1ª observação, mantiveram-se internados pelo menos até à data da 2ª observação, não se tendo detetado nenhum novo caso no decorrer do internamento. Todos os casos de defeito cognitivo à data da 2ª observação, já apresentavam esse mesmo defeito à data da 1º observação. Não foram encontrados dados muito diferentes dos observados à data da 1ª observação no que se refere à força muscular, reflexos e tónus muscular. A duração média de internamento foi de cerca de 10 dias, apresentando mais de metade dos doentes comportamentos sedentários ou de reduzida mobilidade no internamento. Cerca de 33% dos doentes não recuperaram o seu estado funcional prévio ao internamento.DISCUSSÃO: Neste estudo em particular os dados obtidos pelo questionário do MNA foram mais fidedignos. O valor apurado para a força muscular disse respeito apenas aos membros superiores, sendo discutível se tal é representativo da globalidade da força muscular. Seria importante desenvolver estratégias para incentivar os doentes cujo contexto clínico e pessoal o permitisse a ser mais ativos durante o internamento, de forma a impedir que estas alterações ocorram. Este estudo teve várias limitações inerentes à capacidade de colaboração dos doentes e consequente dimensão da amostra.CONCLUSÃO: A imobilidade decorrente do internamento e consequente perda de força e massa muscular é um tema actual que precisa de ser investigado e solucionado com rotinas clínicas que permitam prevenir a perda de funcionalidade, diminuição da qualidade de vida ou mesmo a morte precoce dos doentes.

INTRODUCTION: The lack of mobility and the prolonged bedding has many negative consequences for patients. Many of these negative consequences are prevented in the hospital environment, such as pressure ulcers or falls. However, the loss of strength and muscle mass that will lead to functional decline, need to be prevented. Many patients either cure or get better their illness, which led to the hospitalization, but they are unable to perform the daily activities of daily routines they once did in an easy way. Older patients who do not move, lose about 5% of muscle strength per day of hospitalization.OBJECTIVES: The main objective of this study was to know the dependence index of patients admitted to an Internal Medicine Service at the time of admission and after one week of hospitalization and the contributing factors for this change. The dependency ratio at the home will also be evaluated and if the patients have developed mobility problems or if their functional status have worsened after the hospitalization.METHODS: There were evaluated patients admitted to the Internal Medicine service of the CHUC aged from 65 years old. The evaluation was performed on the 1st day of the hospitalization and after 7 days of the hospitalization, the data obtained in these two visits were compared. The evaluated parameters consisted on the Katz, Mini Mental State (MMS) and the Mini Nutritional Assessment (MNA). Demographic data, pre-existing chronic conditions, chronic medication and the cause of hospitalization, as well as muscular strength, reflexes and muscle tone were also recorded. All patients (or their legal representative, if they were unable to cooperate) signed an informed consent to participate in the study.RESULTS: In this study, there were fifty patients hospitalized at the CHUC, A Medical Service, aged from 65 to 94 years old. Most of the patients were hospitalized due to lower respiratory tract infection (18%) or urinary tract infection (18%). The majority of the patients were hypertensive. Regarding to nutritional assessment, the BMI calculated at both the date of the first observation and the date of the second observation covered all BMI classifications, with malnourished and malnourished risk patients evolved favorably, according to this parameter throughout the hospitalization. Most patients had a normal BMI. Regarding to the MNA questionnaire, most of the patients in the sample are at risk of malnutrition. According to this assessment, the percentage of malnourished patients increased during the hospitalization. Most of the patients were independent for activities of daily routines, before the hospitalization, evolving unfavourably during hospitalization and recovering partially after medical release. All patients diagnosed with sepsis at the time of the first observation were hospitalized at least until the date of the second observation and no new cases were detected during hospitalization. All the cases of cognitive defect at the date of the second observation, already had this same defect at the date of the first observation. No data were found that were very different from those observed at the date of the first observation regarding muscle strength, reflexes and muscle tone. The mean length of hospital stay was about 10 days, with more than half of the patients presenting with sedentary behaviour or with reduced mobility during hospitalization. About 33% of patients did not recover the functional status that they had before the hospitalization.DISCUSSION: In this particular study, the data obtained by the MNA questionnaire were more reliable. The value calculated for muscle strength was only related to the upper limbs, and it is debatable whether this is representative of the overall muscular strength. It would be important to develop strategies to encourage patients, whose clinical and personal context would allow them to be more active during hospitalization, in order to prevent that these changes from happen. This study had several limitations inherent in the patient's capacity for collaboration and consequent sample dimension.CONCLUSION: The immobility due to hospitalization and consequent loss of strength and muscle mass is a current topic that needs to be investigated and solved with clinical routines that allows to prevent the loss of functionality, decrease in the quality of life or even the early death of patients.