O declínio da compaixão nos estudantes de medicina

Abstract

Introdução: A compaixão é descrita como uma qualidade desejável no profissional de saúde e consequentemente no aluno de medicina, numa procura de melhoria dos cuidados de saúde prestados e da relação médico-doente. Surgem, no entanto, diferentes evidências de que os estudantes de medicina, avançando para o final da sua formação, apresentam menor comportamento compassivo.Objetivos: Estudar os alunos desde o 1º ao 6º ano do curso de medicina da Universidade de Coimbra e investigar as razões principais para este acentuado declínio na compaixão no decurso da formação pré-graduada em medicina. Recolher e analisar sugestões sobre estratégias a implementar para melhorar o panorama atual da compaixão.Materiais e Métodos: Realização de um estudo transversal observacional numa amostra representativa do universo dos estudantes do Mestrado Integrado em Medicina da FMUC durante o ano letivo 2017/2018. Para tal, elaborou-se um questionário original, com 6 itens de resposta à seguinte questão: “Quais pensas serem as razões principais para este acentuado declínio da Compaixão na relação médico-doente, ao longo da formação médica?”.Resultados: Foram realizados no total 242 inquéritos. O fator “Tempo limitado de contacto com os doentes” foi considerado o fator mais importante para o declínio da compaixão, com 90,5% dos estudantes a considerá-lo “Importante” ou “Muito Importante”. Também a razão “Formação académica fomenta essencialmente conhecimentos teóricos/orgânicos e a busca pelo diagnóstico” foi considerada de elevada importância, com mais de 84% dos alunos a classificá-la de “Importante” ou “Muito Importante”. As razões consideradas menos relevantes para os estudantes foram o “Distanciamento como método de defesa emocional” e a “Dessensibilização inevitável e natural pelo contacto repetido com determinadas situações”.Há diferenças significativas em relação ao sexo para dois dos seis itens avaliados: “Tempo limitado de contacto com os doentes” e “Distanciamento como método de defesa emocional”, mas não se verificaram diferenças significativas quando comparadas as respostas dos seis anos do MIM.Discussão: Os resultados atribuem ao plano curricular e à organização do ensino pré-graduado, o denominado “Currículo formal”, o papel principal no fenómeno da erosão da compaixão no estudante de medicina. Por outro lado, o “Currículo Escondido”, associado às aprendizagens informais, emoções e relações sociais, apesar de potencial motivador de declínio, não desempenha um papel tão preponderante no decréscimo da compaixão ao longo do curso, na ótica dos estudantes. Diversas estratégias foram propostas para melhorar a situação estudada. Entre elas, sugerem-se intervenções na estrutura do ensino, no método de ensino e estratégias de apoio a outras condicionantes externas da aprendizagem.Conclusão: O estudo sugere que a necessidade de formar médicos com perfil compassivo e focado no doente esbarra, essencialmente, na ausência de programas educacionais direcionados à compaixão e a RMD.

Background: Compassion is often described as a desirable quality in the healthcare professional and therefore in the medical student, to achieve better medical care and doctor-patient relationship. However, new evidences arise suggesting that students seem to have less compassive behaviour, as they advance to the end of their medical training.Objectives: To investigate the main reasons for compassion’s decline among students from 1st to 6th grade of the Faculty of Medicine of the University of Coimbra. Collect and analyse suggestions about new strategies to improve the current situation of compassion.Materials and Methods: An observational transversal study was done in a representative sample of the universe of medical students from the Masters in Medicine of FMUC during the academic year 2017/2018. In order to do that, a form was elaborated in which six options were presented as a response to the following question: “In your opinion which are the main reasons for the accentuated decline of compassion in the doctor-patient relationship during medical education?”.Results: A total of 242 students responded to the form. The factor “Lack of time with patients” was considered the most significant for the reduction of compassion, with 90,5% of students considering it “Important” or “Very important”. Also, the factor “Academic formation promotes mainly theoretical knowledge and the pursuit of the diagnosis” was classified as relevant, with over 84% of students considering it “Important” or “Very important”. The less outstanding factors were “Detachment as a coping mechanism” and “Clinical dehumanization as an effect of the repeated contact with certain situations”.We found that there is significant gender difference in two of the six items evaluated: “Lack of time with patients” and “Detachment as a coping mechanism”, however there weren’t statistical differences when the different classes were compared.Discussion: The course structure and the academic organization, the so called “Formal Curriculum”, was considered the main contributor to the decline of compassion, in this study. On the other hand, the “Hidden Curriculum”, associated to the informal learning, emotions and social relations, although could also be related to the erosion, it wasn´t considered so significant in the students´ point of view. Plenty of strategies were proposed to improve the studied situation. Among them, interventions in the academic structure, changes in the learning methods and support in other external learning constraints.Conclusion: This study suggests that the need to develop compassion and relationship skills collides with the lack of educational programmes focused on the doctor-patient relationship and importance of compassion. We suggest further research in this area is needed.