Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/41668
Title: Tempo livre, lazer e terciário (1991)
Authors: Gama, António 
Santos, Norberto Pinto dos 
Issue Date: 2008
Publisher: Imprensa da Universidade de Coimbra
Serial title, monograph or event: Lazer: da libertação do tempo à conquista das práticas
Place of publication or event: Coimbra
Abstract: A terciarização moderna vai a par com o aumento do tempo livre e com a formação do mito da sociedade dos ócios. Na sociedade contemporânea a separação na forma como é usado o tempo pelos seus elementos traduz a estrutura de divisão social do trabalho, a qual manifesta correspondências marcantes nos usos do tempo. A predominância deste ou daquele tipo de uso, a maneira como o tempo é aproveitado, está muitas vezes, em relação com a condição social dos indivíduos. Estas diferenciações enraízam-se em modificações sociais que tomaram lugar sobretudo no século passado, como sejam a redução dos horários de trabalho, o direito às férias... Actualmente, no processo de terciarização das sociedades urbano/industriais assumem lugar importante uma panóplia de actividades de serviços e de comércio cuja relação com as práticas do tempo livre e do lazer são manifestas. A redução e a delimitação do tempo de trabalho têm como corolário a formação de um tempo livre. Este engloba um tempo de lazer que pode reflectir a importância das formas actuais de massificação do ócio. Daí que se possa compreender o grande interesse, por parte dos grandes grupos económicos, pela produção dos ócios e, por consequência, em se apossarem dos espaços que permaneciam menos aproveitados: a alta montanha, o mar, a praia. A variedade de espaços é imensa e apesar de serem espaços de divertimento, descanso e desenvolvimento, são, também, espaços de consumo virados para o ócio, criando, por isso, e para além das pretensões de sociabilização, uma vincada segregação social. No entanto, as práticas do tempo livre e do lazer são marcadas, para além das ambiguidades referidas por dualidades diversas. Estas dualidades evidenciam, tanto no modo de produção como na temporalidade, a fronteira ténue entre lazer e trabalho e tempo livre e trabalho. O desenvolvimento destas práticas conduziu à diferenciação espacial, cuja maior acentuação se manifesta nas áreas urbanas. A ilustração destes problemas será feita com base em dois exemplos: em primeiro lugar a propósito da distribuição regional de práticas culturais e desportivas em Portugal; em segundo, através das actividades relacionadas com os ócios e a sua distribuição espacial em Coimbra. No primeiro exemplo, numa análise que tem como unidade de referência o distrito, dá-se importância à distribuição das casas de espectáculos e aos seus utilizadores. Nas práticas desportivas, através da contabilização de indivíduos que têm uma actividade desportiva federada ou profissional, faz-se a ilustração das diferenças de quantitativos existentes a nível distrital. Tanto as práticas culturais como as desportivas oferecem uma leitura que indicia desigualdades entre o litoral e o interior, frequentemente referidas no âmbito do crescimento económico, mas que se reflectem no acesso à cultura, ao recreio e ao desporto. No segundo exemplo, valorizam-se as distribuições das actividades ligadas ao lazer e ao tempo livre, tendo como estrutura de referência a rede viária da cidade de Coimbra. Salienta-se, pontualmente, a utilização dos espaços de ócio (ao ar livre e em espaços fechados) tais como áreas verdes e estruturas desportivas e, também, os espaços de sociabilização e os de valorização cultural. Como o ócio é, frequentemente, sinónimo de aumento de consumo, faz-se também a representação de alguns comércios que contribuem ou são utilizados para a prossecução de práticas de ócio.
Modern tertiarization goes hand in band with increased spare time and the myth of the leisure society. In contemporary society, the way time is divided up according to how it is occupied translates into the structure of the social division of labour, which bears a strong relationship to the uses of space. The predominance of this or that kind of use, or the way in which time is occupied is usually related to the social condition of the individual. These differentiations have their origins in social changes which took place largely in the last century, like the reduction in working hours, the right to holidays... At the present time, in the process of tertiarization of urban/industrial societies, the panoply of service and commercial activities assumes an important position and their relationship with leisure pursuits is obvious. The reduction and restriction of working hours has as its corollary the creation of free time. This encompasses leisure time which may reflect the importance of current ways of mass enjoyment of leisure. Thence it may be possible to understand why major economic groups are so interested in the production of leisure time and, as a result, gaining possession of spaces which have been underused: the mountains, the sea, beaches. There is an immense variety of spaces and, although they might be for entertainment, relaxing and development, they are also spaces geared to the consumerism of leisure, thus creating, beyond any pretensions to sociabilization, a layer of social segregation. Leisure pursuits are notable, apart from the ambiguities already mentioned, for duality in two senses. This duality is evidenced as much by the manner of production as by its temporality, the fine line separating leisure and work and spare time and work. The development of this practice has led to differentiation and spatial specialization, whose main effects are seen in urban areas. These problems will be illustrated, using two examples: first, by reason of the regional distribution of cultural and sporting activities in Portugal; second, through leisure-related activities and their spatial distribution in Coimbra. In the first instance, in an analysis that has the district as its administrative reference, interest will focus mainly on the distribution of theatres and cinemas and their uses. When it comes to sport, by accounting for people who practise an organized sport, maybe professionally, we can show the numerical difference at the district level. Cultural interests as well as sporting activities provide evidence of inequalities between the coastal and the interior, often with reference to economic growth, but virtually always reflecting accessibility of culture, recreation and sport. In the second example, distribution of activities liked to leisure and spare time will be valorised, using the city of Coimbra’s road network as structural reference. The utilisation of leisure spaces will be carefully indicated (outdoor and indoor), such as green areas, sports facilities and, in addition, social gathering places and places of cultural interest. Since leisure is often synonymous with increased consumption, we shall also note various businesses that contribute to, or are used in, the pursuit of leisure.
La tertiarisation moderne va de pair avec I’augmentation du temps libre et de la formation du mythe de la société des loisirs. Dans la société moderne, la division du temps selon l’usage qui en est fait traduit une structure de division social du travail à laquelle correspondent des traits marquants de l‘utilisation de l’espace. La prédominance de l’un ou l’autre type d’utilisation et la manière dont le temps est mis à profit sont souvent en relation avec la condition sociale des individus. Ces différentiations ont leur origine dans des changements sociaux intervenus surtout au siècle passé, comme la réduction des horaires de travail, le droit aux vacances… Actuellement, au sein du processus de tertiarisation des sociétés urbaine/industrielles, une place importante une est occupée par une panoplie d’activités de commerce et de services qui entretiennent des rapports manifestes avec celles du temps libre et des loisirs. La réduction du temps de travail a comme corollaire la formation d’un temps libre qui englobe un temps de loisir susceptible de connaître lui-aussi certaines des formes actuelles de massification. Ainsi peut-on comprendre l’intérêt que témoignent de grands groupes économiques à la production d’instruments de loisirs et, par conséquent, à l’appropriation d’espaces encore plus exploités: haute montagne, mer, plage. Leur variété est immense et bien qu’il s’agisse d’espaces de délassement, d’amusement et de développement, ils sont également espaces de consommation orientés vers les loisirs, créant de ce fait, au-delà de toute invitation à sociabiliser, une forte ségrégation. Par ailleurs, les activités du temps libre et loisirs sont marquées, outre les ambigüités signalées par deux équivoques. Celles-ci mettent en évidence, tant sur le plan de la production que sur le plan de la temporalité, que la frontière est ténue entre loisir et travail et entre temps libre et travail. Le développement de ces pratiques a conduit à une différentiation et à une spécialisation de l’espace, dont les traits les plus accentués se retrouvent dans les sites urbains. Ces problèmes seront illustrés à partir de deux exemples: d’abord, à propos de la distribution régionale des pratiques culturelles et sportives au Portugal; en second lieu, à travers les activités de loisir et leur distribution spatiale à Coimbra. Dans le premier exemple, une analyse, qui a pour unité administrative de référence le district, s’intéressera à la distribution des salles de spectacle et à leur fréquentation. En ce qui concerne la pratique des sports, la comptabilité au niveau du district des individus membres de fédérations, à titre amateur ou professionnel, permettra d’établir des différences quantitatives significatives. Les pratiques culturelles e sportives permettent une lecture révélatrice d’inégalités entre le littoral et l’intérieur, souvent remarquées dans le cadre de la croissance économique et qui se répercutent sur l’accès à la culture, aux sports et aux loisirs. Dans le second exemple, on mettra en valeur le lien qui existe entre la distribution des activités récréatives et le réseau des voies de communication de Coimbra. On soulignera au passage l’utilisation des espaces de loisirs (en plein air et dans les espaces fermés) tels qu’espaces verts, installations sportives ainsi que lieux de rencontre sociale et de valorisation culturelle. Puisque les loisirs sont fréquemment synonymes d’augmentation de la consommation, nous parlerons aussi de certains commerces qui contribuent ou servent à la pratique d’activités de loisirs.
URI: https://hdl.handle.net/10316/41668
ISBN: 978-989-8074-56-0
978-989-26-0432-9
DOI: 10.14195/978-989-26-0432-9_3
10.14195/978-989-26-0432-9_3
Rights: openAccess
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